terça-feira, 29 de janeiro de 2013

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ACONSELHAMENTO PASTORAL


CONSIDERAÇÕES SOBRE O ACONSELHAMENTO PASTORAL
Rev. João Ricardo Ferreira de França.*

INTRODUÇÃO:
        
O ministério pastoral tem sido visto como alvo de muito proveito, ou melhor, lugar dos aproveitadores. Pessoas há que dizem que os pastores estão sempre interessados no dizímo de suas ovelhas, e que não estão interessados em socorrer as ovelhas naquilo que precisam e carecem como membros do corpo de Cristo.
Muito dessa acusação é verdadeira. Não podemos negar que isso tem ocorrido em muitas igrejas, por outro lado, isto se deve em grande parte pela ausência de um autêntico aconselhamento e pastoreamento por parte dos pastores em suas igrejas.
Temos presenciado uma entulhada de psicologia nos nossos púlpitos. O povo pactual não quer psicologização, o povo de Deus quer ser pastorado! O pastoreio do povo inclui o discipulado, a oração, a pregação expositiva e uma aproximação vívida com os membros da igreja, sem isso, o nosso ministério pastoral estará fadado ao fracasso.
         O verdadeiro aconselhamento não começa nos manuais de Freud, mas na nossa única regra de fé e prática - As Sagradas Escrituras! É nossa fonte de vida, é nosso meditar de dia e de noite (Sl.1-3). A Bíblia e somente ela pode de fato nos conduzir a uma vida piedosa e sem reservas é o alimento para nossa alma, pois, somos vivificados única e exclusivamente por ela (Sl.119.25).
         Há uma necessidade de se resgatar este alto conceito sobre a Sagrada Escritura, a Palavra de Deus não é somente suficiente em questões de doutrina, mas é também plenamente suficiente nas abordagens práticas que são refletidas na prática do aconselhamento pastoral.

I – A PALAVRA DE DEUS E O ACONSELHAMENTO CRISTÃO.

         Vivemos em uma época de psicologização do evangelho e da pregação da Palavra de Deus. Ao que nos parece, a nossa época tem sido marcada pelo forte desinteresse na utilização das Escrituras no aconselhamento cristão.
         Pastores e mais pastores estão se refugiando em demasia na psicologia e ciências afins. Precisamos estar cônscios de nosso papel como ministros de Deus no aconselhamento do povo da aliança. O dr. John R.W.Stott disse certa vez: “Um ministério pastoral  que se modele na vontade de Cristo incluirá, de modo semelhante, a pregação diante da congregação, aconselhamento aos indivíduos e o treinamento de grupos”.[1] Esta perspectiva de Stott tem sido esquecida pela igreja de Cristo ao longo dos tempos. O púlpito deveria lidar com questões de aconselhamento.
         Alguns poderiam aventurar-se em negar tal perspectiva, mas é inevitavelmente necessário declarar que “a própria pregação é aconselhamento”.[2]A exortação ao bem viver cristão consiste em aconselhamento.
Utilizar-se das Escrituras para exercer o aconselhamento é uma tarefa sábia para os pastores que estão comprometidos com o crescimento espiritual de seus paroquianos. Os homens não precisam de uma mensagem psicologizante, mas de uma mensagem derivada das Escrituras que são suficientes para “restaurar a alma” isto porque a Lei de Deus é “perfeita” para exercer tamanha restauração (Salmos 19.7-11).
As teorias de psicologia são diversamente conflitantes umas com as outras, a ponto de um respeitado professor na área dizer:
“Não podemos ter certeza se qualquer dessas teorias é completamente verdadeira. Mas, se vocês têm de aconselhar outras pessoas, estudem estas teorias e decidam qual delas lhes parecem ser mais sensata. Vocês têm  de fazer isso porque, quando as pessoas vierem para o aconselhamento elas desejarão ouvir algo que lhes esclareça  o porquê dos problemas pelos quais elas estão passando”[3].
O reflexo dessa declaração é visto dentro de nossas igrejas e ministérios quando substituímos a Palavra de Deus pelas opiniões autorizadas por Freud e seus discípulos e tais palavras chegam a encabeçar os títulos de nossos sermões.
Alguém disse que “os crentes que abandonam a Deus e Sua Palavra em favor da psicoterapia, para conseguir ajuda contra a depressão, abandonam “o manancial de águas vivas” para beber das águas poluídas e insuficientes, até mesmos prejudiciais de “cisternas rotas, que não retêm as águas”(Jeremias 2.13)[4]
O papel do ministro é utilizar as Escrituras para aconselhar o seu povo. Mas qual é a relação entre a pregação e o aconselhamento pastoral? O grande escritor Jay E. Adams nos diz que tais perspectivas poderão ser incluídas no sermão sem desvalorizá-lo, e colocar para os ouvintes a Palavra de Deus nos três modos de pregações conhecidas e, assim, responder satisfatoriamente as necessidades do povo. [5] Em outra obra Waldislau  diz algo muito pertinente sobre essa questão ele diz:
O aconselhamento cristão não deveria ser considerado como uma especialidade separada do aspecto pastoral e da comunhão cristã na igreja. Para o pastor, as habilidades para o aconselhamento são partes tanto do preparo como da entregada de sermões quanto da prontidão para responder aos ouvintes após a mensagem. É preciso que o pastor seja hábil intérprete da Palavra e hábil intérprete de pessoas, se ele quiser ser efetivo no ministério. [6]
         Então, é tarefa do presbítero (docente e regente) aconselhar a igreja de Cristo que lhe foi convida para governar. O pastor ou presbítero foi chamado para aconselhar o rebanho de Cristo. Isso é demonstrado e ensinado por Paulo em I Timóteo 5.1; II Timóteo 4.2 e em Tito 1.9, nos fala de exortar, o verbo grego usado é parakaleô que pode ser traduzido por encorajar, mas o sentido pode ser tomado no que se refere a palavra de encorajamento cristão.
         Calvino “entendia que o aconselhamento era indispensável no trabalho do presbítero”. [7]O teólogo de Genebra acreditava que “o ensino, além de ser público nos cultos, deveria ser acompanhado por orientação pessoal e aplicado às circunstâncias especificas da vida das ovelhas”. [8]

II – PASTOREANDO O CORAÇÃO DOS PASTORES

         Tenho percebido que é cobrada dos pastores a prática do aconselhamento com base nas Escrituras. Um autêntico aconselhamento é necessário se ter às Escrituras como única regra de fé e prática.
         Mas incomoda o meu coração em ver que os pastores não são pastoreados, pelos seus conselhos locais, pelos seus presbitérios; antes de tudo eles são abandonados e negligenciados. O que há de errado? É o fato de que muitos julgarem que o pastor é alguém para aconselhar e não precisa de aconselhamento, pois, Deus irá suprir suas necessidades de modo providencial. Creio nisso piamente, mas penso que não é por ai que se processa o aconselhamento para os pastores. Eles precisam ser pastoreados, confortados animados e estimulados pelos seus líderes.
         O desencorajamento pastoral é vivenciado dentro do seminário e depois no ministério. Alguém disse acertadamente que “o desencorajamento é um dos grandes obstáculos no ministério, especialmente nesses dias de coisas insignificantes”.[9]
         O que fazer quando a depressão chega ao nosso coração? O que fazer quando o desânimo chega ao coração do ministro? O príncipe dos pregadores tem algo a nos dizer sobre isso em termos pertinentes: “Crises de depressão acometem a maioria de nós. Animados como possamos ser normalmente, a intervalos temos que ser derrubados. O forte nem sempre está vigoroso, o sábio nem sempre é expedito, o bravo nem sempre é corajoso, e o alegre nem sempre está feliz”.[10]
         Spurgeon trata destas questões para puder animar os pastores mais jovens na caminhada cristã. Penso que é isso que falta em muitos dos nossos presbitérios atuais, o pastorear e consolar os seus pastores. O desânimo e desilusão de muitos novos ministros estão vinculados à ausência de um aconselhamento.
         Spurgeon, sendo eminentemente pastoral, nos diz o motivo de escrever tais palavras em suas lições pastorais:

Sabendo pela mais penosa experiência o que significa uma profunda depressão de espírito, sendo visitado por ela freqüentemente e a intervalos não demorados, achei que poderia ser consolador para alguns dos meus irmãos se partilhasse meus pensamentos sobre isso para que os jovens não imaginem que algo estranho lhes acontece quando tomados em alguma ocasião pela melancolia; e para os mais deprimidos saibam que a pessoa sobre quem o sol está brilhando jubilosamente nem sempre andou a na luz.[11]

         O ponto desta declaração de Spurgeon é que a sua preocupação era muito clara no que concerne ao desencorajamento pastoral; julgava necessário tratar deste assunto com muita clareza. Às vezes somos negligenciados pelos escritores de aconselhamento porque se limitam a nos ensinarem como devemos aconselhar o nosso povo. Mas o nosso coração por vezes, e quase sempre, sente sede, em meio ao deserto da atividade pastoral; e não há nenhum com um cântaro de água viva para trazer ao nosso deserto uma esperança de vida.
         Muitos dos nossos paroquianos virão ao nosso gabinete pastoral tratar de sua depressão e por mais irônico que isso possa parecer estaremos ali diante deles com o mesmo mal; e o mais ironicamente disso tudo é que podemos lidar com a depressão do nosso povo, mas não com a nossa; isto porque ninguém nos socorre nas madrugadas quando as lágrimas chegam aos olhos.
         Poderemos sugerir alguns caminhos pelos quais podemos trilhar a nossa vida cristã e enfrentar o desencorajamento, estes caminhos podem servir tanto para os ministros como para os membros de suas igrejas.
         Sugiro que olhemos para a vida de Davi. Davi era um fugitivo de Saul e perseguido pelo mesmo; Davi havia procurado refugio com um rei filisteu chamado Aquis. Todos nós conhecemos esta história. Há um momento da narrativa em que Aquis deseja lutar contra Israel; e, esse rei desejava que Davi o acompanhasse (1 Samuel 28.1-2); mas tal proposta foi rejeitada pelos soldados filisteus (1 Samuel 29). Davi ao retornar à cidade de Ziclague (1 Samuel 30.1-6) encontra a cidade em ruínas; porque os amalequitas haviam invadido e levado povo cativo. Ele estava ali encarando uma das cenas mais difíceis da vida. Os homens de Davi ficaram tão aflitos, que realmente falaram em apedrejá-lo. Tudo estava arruinado literalmente! Às vezes a “vida Cristã assemelha-se a esta situação e, isto não é menos verdadeiro no que se refere ao ministério pastoral: todas as coisas pelas quais nos esforçamos parecem desintegrar-se diante dos nossos olhos, e os companheiros do nosso “arraial” se tornam desafeiçoados”.[12]
         Como agiu Davi diante de tamanha depressão? Ele não desistiu; não se sentiu ofendido por Deus, nem culpou seus homens. Cook nos diz que devemos observar isso: “nunca culpar o povo é uma regra áurea no ministério cristão”.[13]Nos chama a atenção o que diz a última parte do versículo 6 no capítulo 30 de 1 Samuel: “Davi se reanimou no SENHOR, seu Deus”. Como Davi fez isso? Esta é uma boa pergunta que pode ser considerada por cada um de nós. Vejamos algumas respostas para tal questionamento[14]:

         1 – Primeiro, considere que Davi recusou entrar em desespero.
        
         Davi tinha tudo para se entregar ao desespero, pois, estava sendo perseguido por Saul, estava desacreditado pelos filisteus e magoado nesta ocasião por seus próprios homens.
         Podemos fazer uma ponte com a nossa realidade atual, quase sempre nos entregamos ao desespero quando tudo na vida parece não ter mais jeito e solução. Cristo não nos prometeu um ministério sem problemas. O pastor que se imagina pastoreando uma igreja sem problemas, deveria deixar o ministério e fazer outra coisa. Davi sabia que grande parte de sua vocação era resolver problemas, está disposto a aconselhar o povo, dirigir o povo no sentido mais pleno pastorear o povo, mas para isso ele precisava não entrar em desespero. O meu conselho para cada um de nós futuros pastores é diga não ao desespero.
         2 – A Segunda consideração para o coração dos pastores é que Davi não permitiu que o presente determinasse seu ponto de vista a respeito do futuro.
         Devemos aprender com Davi a importância de trazermos Deus imediatamente à avaliação das circunstâncias. O futuro estava nas mãos de Deus como também Davi. Essa é a perspectiva correta que deve ser adotada para o nosso ministério pastoral. Um autêntico aconselhamento para o coração dos pastores deve vislumbrar o conceito da soberania de Deus. Podemos diante da mais profunda angústia de alma clamar a Deus (Salmos 43.5).

         3 – A Terceira consideração para os nossos corações é que Davi exercitou a sua fé em Deus.
         Esta pode ser a significação ao tema de que “Davi se reanimou no SENHOR, seu Deus”. A grande questão é como Davi fez isso? Ele simplesmente encorajou-se em Deus. É assim que devemos agir diante de nossos ministérios.

III – O ACONSELHAMENTO PASTORAL E A NEGLIGÊNCIA PARA COM AS ALMAS.

         O aconselhamento pastoral visa edificar as almas, consolando, exortando e animando-as. E quase sempre negligenciamos o nosso oficio e por vezes negligenciamos as nossas próprias almas.
         Alguém disse acertadamente que

Somos bastante imaturos no que diz respeito a avaliarmos nossas prioridades espirituais. Podemos nos preparar com diligência para Realizar deveres exteriores e nos apressar nas preparações secretas. Nossos sermões estão prontos, mas nosso coração está despreparado.[15]
        
O pastor Richard Baxter nos diz que

somos exortados a olhar por nós mesmos, para não suceder estarmos vazios da divina graça salvadora que estamos oferecendo a outros, porquanto, é possível oferecermos esta graça a outros e, todavia, estarmos alheios às operações eficazes do evangelho que pregamos...Podemos morrer de fome enquanto preparamos comida para outros.[16]

Diante disso podemos dizer que o ministério pastoral deve primeiramente valorizar a alma dos próprios ministros, e assim, eles estarão aptos para ministrar um aconselhamento eficaz para os seus paroquianos. Deve-se levar em consideração a recomendação paulina em Atos 20.28: Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.”  Os pastores precisam primeiramente olhar para as suas almas e depois todo o rebanho de Deus.
No grego nós temos o verbo “prose,cete”- proséchete - é um imperativo no tempo presente é uma ordem, mas esta ordem que carrega um peso de algo habitual, estar sempre fazendo isso “dando sempre atenção”, aqui temos um presente no modo imperativo,  sendo uma ordem de Paulo aos presbíteros da Igreja de Éfeso a estarem sempre atentos; cuidar de suas almas é o primeiro requisito do ensino paulino.
O atalaia deve primeiro se preocupar em sua real posição, pois, sendo um vigia é o principal alvo dos inimigos, por isso, deve sempre fazer de tudo para que possa manter-se de pé para o bem do Forte que protege.
Essa figura é bem ilustrativa ao que Paulo diz aqui neste texto. Isso porque o pastor deve cuidar de sua alma “olhar por si mesmo”, mas também deve olhar e cuidar do “rebanho de Deus”. Precisamos aditar que os pastores cuidam da igreja, eles são mordomos, eles não são donos da Igreja. Antes a Igreja tem um dono que é o próprio Deus. Todavia, Deus confiou a tarefa de proteger a Igreja aos seus comissionados, por isso, é necessário aos pastores zelarem por suas almas.
Aqui se deduz do ensino bíblico, que conforme compete aos pastores, a verdade que devemos “amar o rebanho de Deus”, o Baxter nos lembra sabiamente o seguinte:
Toda a causa de nosso ministério deve ser conduzida com terno amor pelas pessoas de nosso rebanho. Precisamos fazer que vejam que nada nos agrada mais do aquilo que lhes é proveitoso. Devemos mostrar-lhes que aquilo que lhes fazem bem, igualmente nos faz bem. Devemos sentir que nada nos preocupa mais do que aquilo que nos fere. Retornando a Jerônimo, diz ele, escrevendo a Nepociano: ‘como bispos não são senhores, mas pais, assim devem incumbir-se do seu povo como de seus filhos. Sim, nem mesmo o mais terno amor da mãe por seu filho deve sobrepujar o deles.[17]


Conclusão: Cuidar de nossas ovelhas é o que de bom devemos ter em nossa existência, é o nosso chamado, é a nossa vocação. Que nós possamos fazer isso para a glória de Deus Pai, amém!.



* O autor é  formado em Teologia Pelo Seminário Presbiteriano do Norte em Recife – PE. Foi Professor de Grego e Hebraico no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil – Recife –PE. Atualmente pastoreia  a Igreja Presbiteriana de Todos os Santos em Teresina - PI.
[1] John R.W.Stott, Eu Creio na Pregação, p.129
[2] Waldislau Martins Gomes, Pregação e Aconselhamento: Uma Aproximação Multiperspectiva. In: Fides Reformata , Volume XII, Número 1, ano 2007, p.74.
[3] Apud, Wayne Mack, A Utilidade das Escrituras no Aconselhamento In: Fé Para Hoje, Número 24, Ano:2004, p.17.
[4] David Hunt, Escapando da Sedução – Retorno ao Cristianismo Bíblico, p.124.
[5] Waldislau Martins Gomes, Op.Cit, p.74.
[6] Waldislau Martins Gomes, Aconselhamento Redentivo, p.8.
[7] Ronald Wallace, Calvino, Genebra e Reforma p.148.
[8] Gildásio Jesus B. dos Reis, Apostila sobre Poimênica I, p.18.
[9] Paul Cook, Encorajando-nos em Deus, In: Fé Para Hoje, Número 9, Ano 2001, p.7.
[10] Spurgeon, C.H. Lições aos Meus alunos, São Paulo: Publicações Evangélicas selecionadas,2002 volume 2, p.202.
[11] Ibid, p.203
[12] COOK, Paul Op.Cit, p.8
[13] Idem
[14] Devo todas estas considerações ao valioso artigo do Pastor Paul Cook.
[15]ROBERTS, Maurice J. Negligenciando a Alma, In: Fé para Hoje, Número 24, Ano: 2004, p.2.
[16] BAXTER, Richard, O Pastor Aprovado,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2006, p.58.
[17] BAXTER, Richard. Op.Cit, p.51

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

1ª Coríntios 2.6-8: A Sabedoria de Deus


A SABEDORIA DE DEUS PARA ESTE SÉCULO!
1ª Coríntios 2.6-8
6 Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada;  7 mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória;  8 sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória;
            O apóstolo Paulo agora passa mostrar o que de fato é a sabedoria de Deus para este mundo. No verso de número 6 ele diz que o alvo de sua exposição “lalou/men”[laloumen] é um verbo que esta no modo da certeza “de fato nós fazemos isto”, seguido do tempo presente em grego que aponta para uma ação constante. A palavra experimentados “telei,oij”[teleiois]  que significa – perfeitos. O sentido aqui é de ser maduro; Paulo diz que expõe a sabedoria de Deus aos que são maduros.
            Aqui somos informados que a sabedoria que o apóstolo expõe não é a deste “século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada”. Paulo não tem admiração alguma pela ostentação dos, não sendo cristãos, se julgam os homens sábios deste mundo. Todavia, no verso 7 o apóstolo mostra-nos um contraste singular ele usa uma conjunção adversativa “mas”[Gr. a,lla. allá] que é usada para dar ênfase singular ao que está sendo dito. Ele nos diz que comunica a “sabedoria de Deus em mistério”.
            Chama-nos a atenção o fato de  Paulo usar a palavra “mistério”, alguns tem entendido que mistério é algo escondido oculto, todavia, fica claro que o uso deste termo grego “musthri,w|”- mysteríô- sempre diz respeito algo que está sendo revelado [ p.e a Sabedoria de Deus sendo revelada à igreja]. O segundo aspecto deste texto é que de fato a sabedoria estava oculta, mas Deus a preordenou [predestinou] para que a Igreja tivesse acesso a ela por meio da pregação do evangelho.
            No verso 8 Paulo revela-nos que sabedoria é essa! É a mesma sabedoria que os sábios e os poderosos deste mundo rejeitaram e mataram; ou seja, Cristo o Senhor da Glória foi crucificado pelos sábios do mundo – esse ato insano e louco, mostra de forma factual a perdição daqueles que rejeitaram a Sabedoria de Deus para este século!
Por um Evangelho da Graça Somente!
Rev. João Ricardo Ferreira de França.  

domingo, 27 de janeiro de 2013

ESCOLA DOMINICAL: A ORIGEM DA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER


A ORIGEM DA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
Prof. Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Introdução:
Falar sobre a confessionalidade em nossos dias tornou-se algo ultrapassado, algo de um tempo tão distante que parece ser totalmente irrelevante. Muitos presbiterianos desconhecem sua identidade bíblico-teológica. Boa parte desta ignorância se dá pelo simples fator de não conhecer a história da igreja. Isso abarca todos os crentes e de modo particular os presbiterianos. Como alguém acertadamente disse:
Todavia, ocorre que muitos presbiterianos ignoram a sua identidade, não sabem exatamente o que são, como indivíduos e como igreja. Não conhecendo suas origens – históricas, teológicas, denominacionais [...] muitas vezes quando questionados por outras pessoas quanto as suas convicções e práticas, sentem-se frustrados com sua incapacidade de expor de modo coerente e convincente as suas posições[1]  
            Isso é percebido na falta de conhecimento que muitas de nossas igrejas tem da Confissão de Fé de Westminster e dos catecismos maior e breve. Este breve estudo visa apresentar de modo geral, também lacônico, a história da nossa Confissão de Fé.
I – ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER.
1.1  A Inglaterra Católica:
A Inglaterra havia sido católica Romana até o ano 1534. Mas, o rei Henrique VIII rompeu com essa tradição, e assim criou a Igreja Nacional da Inglaterra conhecida como Igreja Anglicana. Desta feita o rei passou a ser o líder supremo da Igreja, embora houvesse esse rompimento esta igreja nacional ficou com a teologia católica romana como expressão de sua fé.
No ano de 1547 morre HenriqueVIII, e sobe ao trono o seu filho Eduardo VI que só “tinha nove anos”[2]. Ele sob a influência de seu tio o duque de Somerset que era simpatizante do protestantismo. Fez com que Eduardo implantasse reformas significativas na Igreja da Inglaterra, entre muitas citamos algumas: “começou-se a administrar a Ceia de ambas as espécies [ o vinho dado aos leigos, ao povo], permitiu-se o matrimônio do clero, e foram retiradas as imagens das igrejas”.[3]No avanço da teologia da reforma protestante na Inglaterra foi a elaboração, sob a liderança de Thomas Cranmer, dois importantes documentos, ambos influenciados “pela teologia calvinista: Os Trinta e Nove Artigos e o Livro de Oração Comum. Várias outras reformas foram realizadas, tendo-se a impressão de que a fé protestante iria triunfar.Todavia, a morte prematura do jovem rei, em 1553, interrompeu bruscamente este processo”.[4]
Após a morte de Eduardo VI sobe ao poder a sua meia-irmã chamada Maria Tudor [ conhecida como Maria, a sanguinária] católica romana de devoção desejou levar a Igreja da Inglaterra de volta para Igreja Católica Romana. Muitos líderes religiosos foram mortos, incluindo o Cranmer, na fogueira por serem protestantes. E muitos outros foram exilados ou expulsos da Inglaterra, uma boa porte destes foram para  a cidade de Genebra na Suiça, onde o reformador João Calvino tinha grande influência e ensinava a Palavra de Deus. E muitos destes ingleses absorveram os ensinos da fé reformada, depois, de um longo tempo, após a morte de Maria Tudor, sobe ao trono inglês Elizabete para um longo reinado de 45 anos – ela tinha inclinações protestantes. Logo após ela concedeu permissão aos protestantes exilados de retornar para a Inglaterra.
1.2 – Os Puritanos: Os Pais da Confissão de Fé de Westminster.
Neste processo todo surgiu um movimento que era apegado à teologia Calvinista. Eles queriam uma igreja pura, um estado puro e um culto puro. Daí eles foram pejorativamente chamados de puritanos. Um escritor lembra-nos que “o Puritano não podia mais ficar satisfeito com uma igreja [ a Igreja da Inglaterra] parcialmente reformada, mas desejava uma Igreja plenamente Reformada”[5]
O que é o puritanismo? “O puritanismo foi parte do movimento da Reforma Protestante na Inglaterra [...] começou especificamente como um movimento especificamente eclesiástico [...] ‘começou com uma reforma litúrgica, mas desenvolveu-se numa atitude distinta em relação à vida’”.[6] Lloyd-Jones nos diz “o puritanismo verdadeiro, eu sustento, se acha ultima e finalmente no presbiterianismo”[7].

II – A ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER.

            Após a morte de Elisabete, Tiago VI da Escócia,  filho de Maria Stuart, educado como presbiteriano na Escócia, tornara-se Tiago I da Inglaterra – todavia, queria manter um sistema episcopal eclesiástico, e assim, decepcionando os puritanos. Tiago foi sucedido por seu filho Carlos I.
            Carlos I era um católico romano decidido. Ele desejava tornar a Igreja da Escócia e da Inglaterra a se tornar uma igreja governada pelos bispos [ e assim destruir a noção presbiteriana da Escócia]. Carlos I se tornou alvo dos escoceses que se uniram aos Ingleses e derrotaram o rei.
            O Parlamento Inglês decidiu convocar uma Assembleia para tratar das questões pertinentes ao culto, à teologia,  e ao governo da Igreja da Inglaterra. Foram convocados 121 teólogos. “As pessoas destinadas a constituir essa Assembleia eram citadas na convocação, e compreendiam a flor da Igreja naquela época”.[8]
            É bom lembrar que inicialmente “a assembleia recebeu a incumbência de revisar os Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra a fim de remover quaisquer vestígios de arminianismo ou catolicismo romano”.[9]
            A Assembleia de Westminster iniciou seus trabalhos  na “majestosa abadia com esse nome, em Londres, no dia 1º de julho de 1643, e continuou em atividade durante cinco anos e meio”.[10]
            Os documentos produzidos nesta distinta Assembleia foram os seguintes: 1. A Confissão de Fé; 2. O Catecismo Maior & Breve  3. O Diretório de Culto; 4. Forma de Governo Eclesiástico e ordenação; 5. O Saltério. Esses documentos molduram para nós o pensamento, a teologia e a piedade presbiteriana.
III – ORGANIZAÇÃO TEOLÓGICA DA CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER.
            A forma como a Confissão de Fé de Westminster foi escrita e organizada, mostra a mente sistematizadora dos puritanos para com as doutrinas bíblicas da palavra de Deus. Seguindo um todo harmônico eles colocaram de forma ordeira e sistemática toda a doutrina bíblica na confissão. Esse sistema, sumarizado em capítulos, pode se colocado de modo prático como segue abaixo:[11]
Como posso saber com certeza qual é a verdade suprema?
“Das Sagradas Escrituras”
Existe uma Fonte suprema da verdade?
“De Deus e da Santíssima Trindade ”
Há Alguém no Controle do Mundo?
“Dos Decretos Eternos de Deus”
“Da Criação”
“Da Providência divina”
Se existe um Deus, então por que...?
“Da queda do homem, do pecado e do seu castigo”
Existe alguma esperança?
“Do pacto de Deus com o homem”
“De Cristo, o Mediador”
“Do livre-arbítrio”
“Da Vocação Eficaz”
“Da Justificação”
“Da Adoção”
“Da Santificação”
“Da fé salvadora”
“Do arrependimento para a vida”
“Das boas Obras”
“Da perseverança dos Santos”
“Da certeza da graça e da salvação”

Então como devo viver?
“Da lei de Deus”
“Da liberdade cristã e da liberdade de consciência”
“Do culto religioso e do domingo”
“Dos juramentos e votos legais”
Qual deve se a minha relação com os outros?
“Do magistrado civil”
“Do matrimônio e do divórcio”
“Da Igreja”
“Da comunhão dos santos”
Como Deus lidera seu povo hoje?
“Dos sacramentos”
“Do batismo”
“Da Ceia do Senhor”
“Das censuras eclesiásticas”
“Dos sínodos e concílios”
Para onde estou indo?
“Do estado do homem depois da morte e da ressurreição dos mortos”
“Do juízo final”.

Conclusão:
            Este breve histórico é uma introdução primária à identidade presbiteriana ligada a confessionalidade da nossa Igreja. Esta série de estudos tem como objetivo traze à lume estas verdades sistematizadas pela Confissão de Fé de Westminster, mostrando assim, os laços de unidade doutrinária que temos com o presbiterianismo mundial.



[1] NASCIMENTO, Adão Carlos.  & MATOS, Alderir de Sousa.  O que todo Presbiteriano Inteligente  deve Saber, São Paulo: Socep, 2007, p.9
[2] CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos. Tradução: Israel Belo de Azevedo & Valdemar Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008, p.299.
[3] GONZÁLEZ, Justo L. História Ilustrada do Cristianismo. Tradução: Itamir Neves de Souza. São Paulo: Vida Nova, 2011, volume 2, p. 75.
[4] NASCIMENTO, Adão Carlos.  & MATOS, Alderir de Sousa.  O que todo Presbiteriano Inteligente  deve Saber, São Paulo: Socep, 2007, p 67-68.
[5] LLOYD-JONES, David Martyn. O Puritanismo e suas origens. São Paulo: PES, p.30
[6] RYKEN, Leland. Santos no Mundo – Os Puritanos como Realmente Eram. São Paulo: FIEL, 1992, p.22.
[7] LLOYD-JONES, David Martyn. O Puritanismo e suas origens. São Paulo: PES, p.33
[8] HODGE, Alexander A. Confissão de Fé de Westminster Comentada. Tradução: Valter Graciano Martins. São Paulo: Os Puritanos, 2010, p.41.
[9] LUCAS, Sean Michael. O Cristão Presbiteriano – Convicções, Práticas e Histórias. Tradução: Elizabeth Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 126.
[10] NASCIMENTO, Adão Carlos.  & MATOS, Alderir de Sousa.  O que todo Presbiteriano Inteligente  deve Saber, São Paulo: Socep, 2007, p 67-68.
[11] KENNEDY, D. James. Como é Deus – Verdades Transformadoras sobre um Deus Imutável. Tradução: Josué Ribeiro. São Paulo: Cultura Cristã, 2000,23-24.

sábado, 26 de janeiro de 2013

SALMO 37.4-5


Palavra Pastoral:

O SANTO DESEJO DE NOSSO CORAÇÃO:
DELEITAR-SE EM DEUS.
(Salmo 37.4-5)

  “Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará.”

    Todos nós conhecemos esta passagem da Santa Escritura. E a nossa vida deveria refletir o que estas palavras  declaram.
    Como igreja deveríamos ser  homens e mulheres que desejam que almejam o Senhor;  se alegrar em Deus este é o alvo de nossa existência. O salmista nos convida a que nos agrademos do Senhor, ter satisfação dele.
     E qual é o resultado disto: o resultado é simples ele irá satisfazer os desejos de nossos corações isto porque primeiro nos deleitamos nele, entregamos nossa vida e a nossa existência a Ele somente.
    Estamos aqui como igreja do Senhor porque entregamos os nossos passos para ele, pois, somente o Senhor sabe  como nos conduzir em amor. Precisamos ter algumas atitudes:
1 - Entregar ao senhor os nossos passos, deixar que ele nos guie.
2 - Confiar em Deus: confiar que ele há de atender as nossas orações que esta igreja será próspera pelo evangelho de Deus.
Rev. João Ricardo Ferreira de França

Ministro da Igreja