Estudos Sobre O Culto Familiar.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.*
INTRODUÇÃO:
A
nossa sociedade está passando por uma crise sem precedentes. Vivemos tempos em
que a tecnologia enfraqueceu o nosso compromisso espiritual; somos uma geração
que não ora mais, que não cultua mais, que não ler mais a Bíblia. E isto se faz
presente a cada dia que passa no meio da Igreja.
Mas o que pode fazer o cristianismo
desta geração? Como a igreja pode ser novamente o sal da terra (Mateus 5.13)? O
que pode causar um retorno em nosso cristianismo a ser um agente preservador de
uma sociedade decadente? O que pode oferecer esperança segura à famílias que
estão em completa desordem? A Resposta: um retorno às veredas antigas. Foi o
profeta Jeremias quem disse: “Perguntai
pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso
para a vossa alma” (Jeremias 6.16).
Um pastor Puritano [Jonathan
Edwards] certa vez fez o seguinte alerta durante sua pregação:
Antes de concluir minha pregação a essa
igreja, peço-lhes que me permitam, novamente, repetir e incutir-lhes, com
sinceridade, o conselho que, com frequência, tenho dado a líderes de famílias,
como pastor deles: afadiguem-se em ensinar, aconselhar e orientar seus filhos;
criem-nos na disciplina e na admoestação do Senhor; comecem cedo, quando ainda
há oportunidade, e mantenham constante diligência em atividades desse tipo.
I – A NEGLIGÊNCIA DO CULTO FAMILIAR NA HISTÓRIA DO PROTESTANTISMO.
Ideia do culto familiar
começa desde o Antigo Testamento, o Pai era o líder espiritual do lar, ordenado
pelo próprio Deus a liderar diariamente sua família na adoração a Yahweh. As
nações que perceberam este ensino procuraram seguir, por exemplo, os Estados
Unidos em seus primeiros anos, com muitos puritanos, procuram implementar os
culto familiar entre eles. Mas, com o passar dos anos, o culto na família foi
desprezado, a ponto de em 1679, o Sínodo da Nova Inglaterra, reunido em Boston,
para responder a seguinte pergunta da Corte Suprema da Colônia de
Massachusestts: Quais os males que tem
provocado o Senhor a trazer juízos sobre a Nova Inglaterra? Foram
apresentadas 14 razões, a sexta diz o seguinte:
Há muitas famílias que não oram a Deus
constantemente, de manhã e à noite; e muitas outras que não leem as Escrituras
todos os dias, a fim de que a Palavra de Deus habite ricamente neles. Há muitas
casas que estão repletas de ignorância e profanidade e que não são devidamente
examinadas; por esta causa, a ira pode vir sobre outros ao redor de tais casas
e sobre elas mesmas (Josué 22.20; Jeremias 5.7; 10.25). Muitas famílias que
professam o cristianismo não levam todos os seus membros a se sujeitarem à boa
ordem, como deveriam (Êxodo 20.10).... A maior parte dos males que se
proliferam entre nós procede da deficiência no governo da família.
Um século após, outro pastor declarou o seguinte no ano
de 1766:
A nova Inglaterra foi antigamente um
lugar famoso por seu cristianismo, em geral, e pela adoração familiar, em
particular. Mas, recentemente, a negligência do culto familiar, bem como dos
deveres espirituais, tem crescido entre nós; e isso tem causado muita tristeza
aos piedosos. No entanto, não tenho visto nenhum artigo ser publicado a
respeito desse assunto, por muitos anos.... Nestes dias, grande número de
pessoas foi notavelmente despertado, em várias partes de nossa terra; pessoas
que foram educadas sob negligência para com a oração familiar e que ainda estão
desorientadas quanto à autoridade bíblica para esta prática diária.
II – QUATRO RAZÕES PARA RESGATARMOS O CULTO FAMILIAR.
Para revertermos essa situação deplorável que encontramos
em nossa nação, bem com em nossas igrejas, se faz urgente e necessário
resgatarmos a prática do culto familiar. E pergunta a ser feita é a seguinte:
Por que deve haver culto nas famílias cristãs? Por que deve haver culto
familiar?
2.1 – Porque somos Mordomos
de Deus neste mundo.
O que isso tem haver com o culto familiar? É simples, nós
lemos nas Escrituras que os Filhos são herança do Senhor. (Salmos 127.3). Os
filhos que temos pertencem a Deus, e por isso, devemos cuidar deles da forma
mais diligente possível. Não apenas oferecendo uma boa educação, boa saúda, ou
mesmo uma melhor casa, mas acima de tudo devemos oferecer a eles um alimento
espiritual sólido que é a palavra de Deus.
Deus é tão zeloso com isso que no tempo do profeta
Ezequiel o Senhor Yahweh condenou o povo de Israel por sacrificarem os filhos
aos ídolos pagãos: “Demais, tomaste a teus filhos e tuas filhas, que me
geraste, os sacrificaste a elas, para serem consumidos. Acaso, é pequena a tua
prostituição? Mataste a meus filhos e os entregaste a elas como oferta pelo
fogo.” (Ezequiel 16.20-21). Não devemos esquecer-nos
disso, pois, os nossos filhos são do Senhor nosso Deus!
Somos mordomos de Deus designados para cuidar dessas almas
que nunca morrerão. E seremos responsabilizados quando estivermos diante do
Senhor pelo modo como os criamos, como lhe apresentamos o caminho da vida ou da
morte. Deus requererá de nós as almas de nossos filhos.
Esses esforços serão acompanhados por um senso de responsabilidade espiritual
para transmitir a fé à próxima geração, conforme vemos nos Salmos 78.1-8:
Salmo didático de Asafe Escutai, povo
meu, a minha lei; prestai ouvidos às palavras da minha boca. Abrirei os lábios
em parábolas e publicarei enigmas dos tempos antigos. O que ouvimos e aprendemos, o que nos
contaram nossos pais, não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura
geração os louvores do SENHOR, e o seu poder, e as maravilhas que fez. Ele
estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a
nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração os
conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os
referissem aos seus descendentes; para que pusessem em Deus a sua confiança e
não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os mandamentos; e
que não fossem, como seus pais, geração obstinada e rebelde, geração de coração
inconstante, e cujo espírito não foi fiel a Deus.
E o apóstolo Paulo é mais enfático: “Porque nenhum de nós
vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor
vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos,
somos do Senhor.” (Rom 14:7-8 ARA). Tudo o que somos em vida ou na
morte somos para o Senhor, então, tudo pertence a ele inclusive os nossos
filhos. Um professor de Bíblia chamado Neil Postman disse: “Os filhos são mensagens vivas que enviamos a
um tempo que não veremos”!
2.2 – Porque o seu filho foi
colocado em seu lar por um desígnio de Deus.
Temos que ver a bondade de Deus para com os nossos filhos
em colocá-lo em um lar de pessoas crentes. E mesmo que este lar seja marcado
pelo julgo desigual, a Escritura nos ensina que os filhos são alvos da benção
de Deus, conforme vemos em 1ª Coríntios 7.12-14:
Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum
irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; e
a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe
o marido. Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a
esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os
vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos.
Os nossos filhos não são salvos porque são descendentes
de crentes. Eles nasceram de forma providêncial em lar crente para receberem a
graça do evangelho de Deus por meio de seus pais – este é um desígnio único e
singular de Deus para os nossos filhos, e uma responsabilidade muito grande
para todos nós, sem sombra de dúvidas.
Um caso típico é o de Timóteo, que foi criado em lar de
julgo desigual, mas que foi alcançado pela graça de Deus. Sua mãe e sua Avó
(Atos 16.1) sempre lhe ensinaram constantemente as Escrituras que poderiam
torná-lo sábio para a salvação em Cristo (2ª Timóteo 3.15).
E uma forma de isso se processar na vida dos nossos
filhos é o cultivo do culto regular na família. Pois, é no estudo das
Escrituras diariamente motivará a nossa vida como um todo a um temor reverente
a Deus.
2.3 – Porque o culto
familiar nos prepara para a adoração pública.
Uma terceira razão pela qual
devemos regatar o culto familiar é que ele nos prepara para a adoração
coorporativa. O culto em família não é uma atividade isolada. Temos de vê-la
como parte essencial da tríplice adoração a Deus: adoração particular, familiar
e pública. Somente a adoração particular a Deus, que é o ponto inicial e o
fundamento de tudo o que fazemos como crentes, nos prepara para influenciar
nossa família.
Nossas vidas tem de ser exemplos vivos, permanentes e
amáveis para nossos filhos, cheias de gozo e louvor a Deus. Se formos a Deus
como um todo de viver nos seis dias anteriores, tanto na adoração particular
como na familiar; a adoração pública será um resultado natural.
Os filhos dessa família saberão que adoração não é algo
que alguém pratica ocasionalmente. Eles entenderão que a adoração envolve toda
vida (Deuteronômio 6.6-9). Em sua casa, eles experimentarão o começo e/ou o fim
das atividades de cada dia realizando um culto familiar, que incluirá louvor,
oração e leitura da Palavra. Eles aprenderão, desde cedo, por meio desse lar
frutífero e dedicado a adoração que o Dia do Senhor é um dia bendito, o ápice
de tudo o que fizeram durante a semana – adorando a Deus em todas as coisas de
sua vida!
A falta de vida que muitas igrejas experimentam em nossos
dias pode ter sua origem nas muitas famílias cujos membros adoram a Deus
somente no domingo. Podemos ver com clareza a fonte dessa falta de vida, quando
percebemos que tais membros não estão adorando consistentemente a Deus, em
particular. As estatísticas revelam que somente 11% dos que professam ser
crentes nem sequer ler uma porção das Escrituras por Deus. Há tão poucos
crentes que estão a sós com Deus, e não de surpreender-nos que o culto familiar
seja quase inexistente.
2.4 – Porque existe declínio
espiritual sobre o povo de Deus.
O desafio de Josué precisa ser trazido à tona novamente
(Josué 24.14-15). Por que o nosso país é tão ímpio? Por que a maioria das
igrejas evangélicas se mostram espiritualmente tão fracas? Por que os lares de
muitos que professam ser crentes, em nossos dias, são conchas de formalidade em
meio à desunião espiritual? A Bíblia nos ensina que uma das razões desse grave
declínio é que nossas igrejas, em geral, estão vazias de homens que, como
Josué, resolveram liderar sua família na adoração ao Deus vivo.
Paulo disse aos homens da igreja de Corinto que vivessem
como homens (1 Co. 16.13). Em nossos dias, a verdadeira masculinidade recebeu
uma nova definição carnalmente distorcida. Mas as Escrituras descrevem o
verdadeiro cabeça do lar como alguém que lidera sua família na adoração diária
do Deus vivo (Efésios 6.4). Se você não sabe como fazer isso, pelo menos tem o
desejo de aprender como fazê-lo? A contemplação do bem-estar eterno das almas que
vivem sob o seu teto é tão profunda, que o impulsiona ao dever?
