quarta-feira, 24 de julho de 2013

A Igreja Segundo as Escrituras.

A Igreja Segundo as Escrituras.
Tradução: João Ricardo Ferreira de França.
                                      J.C.Ryle
                                        
O conceito de igreja é básico para uma compreensão adequada do cristianismo. Se não for bíblico o fundamento sobre o qual se descansa a noção de igreja, facilmente se incorrerá, como assim tem demonstrado a história do cristianismo, em certos erros doutrinários de lamentáveis conseqüências. Justificada é, pois, nossa asserção de que, uma boa parte das diferenças que nos separam de Roma, se originam em uma noção distinta do conceito de igreja. Como veremos adiante, as Escrituras nos apresentam um conceito da Igreja sob diferentes aspectos. Estes aspectos, tomados unitariamente e em sua vinculação própria, colocam de forma clara a natureza e o caráter da Igreja de Jesus Cristo.

 A Igreja Invisível e visível.

 Sob esta designação de visível e invisível não estamos nos referindo a duas igrejas distintas. Cristo fundou uma só Igreja; mas segundo os ensinamentos da Santa Palavra, a Igreja exibe um caráter duplo: por um lado é invisível, a saber, ela escapa e vai muito além do que é sensível; por outro lado, a Igreja de Cristo se exterioriza em agrupações e congregações visíveis ao olho humano. Segundo um polemista católico romano Bossuet, a noção de igreja invisível e visível é uma invenção protestante.[1]Porém, na realidade este conceito está baseado e tem um fundamento na Palavra de Deus. Uma e outra vez os profetas do Antigo Testamento lembram ao povo judeu que, o simples fato de pertencer ao  Israel Visível, isto não era prova suficiente de que eram membros do Israel de Deus – do Israel espiritual, invisível. Dentro do Israel Visível os profetas fazem distinção e nos falam de um remanescente espiritual (Esdras 9.8; Isaías 1.9; 20.21; Jeremias 23.3; Ezequiel 6.8). O profeta Elias acreditava que toda a nação de Israel havia apostatado, e que somente ele havia se mantido nos caminhos do Deus verdadeiro; mas o Senhor lhe revelou que, todavia ainda restavam sete mil israelitas que não haviam dobrado seus joelhos a Baal; estes além de serem cidadãos do Israel terrestre, eram também cidadãos do Israel espiritual, invisível. A mesma idéia encontramos no apóstolo Paulo quando disse: “Porque não é judeu que o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente da carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, a circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus”(Romanos 2.28-29). O próprio Senhor Jesus se referia a esta dupla distinção  entre os israelitas quando contestou os fariseus que se orgulhavam de ser filhos de Abraão( João 8.37,39,44 ). Havia, pois, judeus que pertencia m a Israel como nação visível, em conseqüência, eram filhos de Abraão segundo a carne, os quais, além do mais, pertenciam ao Israel de Deus – espiritual e invisível. Porém, por outro lado, a maioria do povo judeu, ainda que sendo cidadãos de Israel, e descendentes de Abraão, não pertenciam ao Israel de Deus. A Igreja de Cristo se identifica com o Israel de Deus, e nos oferece também um aspecto visível, e outro invisível. Os verdadeiros filhos de Deus, além de ter sua membresia em alguma igreja visível, formam parte do corpo místico de Cristo que é a Igreja Invisível. Os hipócritas e os falsos convertidos, e muitos outros que de uma maneira externa professam a fé evangélica, e se ajuntam ao número dos crentes, só externamente são membros da Igreja de Cristo, e unicamente no aspecto visível da mesma. Estes são os que no dia do juízo dirão: “... Senhor, Senhor! Porventura, não temos profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?” Porém aos tais ele dirá: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”.(Mateus 7.22-23).

A Igreja Invisível.

O conjunto de todos os crentes, na terra e no céu, redimidos com o sangue precioso de Cristo, e unidos espiritualmente a Ele, constituem a Igreja Invisível. Chama-se invisível por sua natureza espiritual – que escapa e vai muito mais além dos sentidos; e também por não se poder determinar estreitamente, apartir de um ponto de vista humano, quem são aqueles que pertencem a mesma. A união dos crentes com Cristo é uma união mística. Os laços com os quais o Espírito Santo estabelece essa união são invisíveis. A totalidade dos que formam a Igreja Invisível não cai dentro da percepção do olho humano; muitos de seus membros não podem ser já vistos, pois estão no céu; eles são os que constituem a hoste vitoriosa da chamada Igreja Triunfante. Muitos outros membros da Igreja Invisível estão espalhados pela terra; alguns talvez perdidos pelos desertos, pelos montes, pelas covas, e pelas cavernas da terra – desprezados e ignorados pelos homens, porém, escolhidos e amados por Cristo. Ah! Não pode a visão do homem abarcar o glorioso panorama do Corpo de Cristo: A Igreja Invisível.
 Esta é a Igreja da qual o mesmo Senhor disse: “E as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Pelo testemunho da história sabemos que muitas igrejas locais que se afastaram da fé e tem caído em completa apostasia, as portas destas fecharam. Mas a promessa do Senhor Jesus não se refere diretamente a congregações locais visíveis, e sim a Igreja Invisível – corpo dos redimidos que pertencem a Cristo, sem distinção de tempo nem lugar.
A Igreja Invisível mantém uma íntima relação com Cristo. No Novo Testamento esta relação é expressa sob diversas analogias. Em sua epístola aos Éfesios, Paulo designa a Igreja  como a Esposa de Cristo. Porém, de todas as analogias, a que mais expressa vivamente a união mística entre Cristo e a sua Igreja, é aquela do corpo humano e a cabeça. Daí Paulo recorrer a ela tantas vezes, e que em suas epístolas desenvolve tão amplamente a relação espiritual entre Cristo – a Cabeça, e a Igreja – o Corpo. Esta união mística não se estabelece por meio de uma hierarquia eclesiástica visível, mas é fruto da maravilhosa obra do Espírito Santo: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito”.(1 Coríntios 12.12-13).
Cristo é a cabeça deste corpo místico que é a Igreja: “E é a cabeça do corpo que é a Igreja”.(Veja Éfesios 1.22-23; 4.4,16; 5.23,30). Vemos nestes versículos, que o corpo recebe vida da cabeça; assim como os ramos vida da videira, do mesmo modo a Igreja recebe vida de Cristo; da mesma maneira como os membros do corpo obedecem a cabeça, assim a igreja obedece a Cristo; da mesma forma como a união entre o corpo e a cabeça é uma união vital, assim também a Igreja está vitalmente unida a Cristo. As Escrituras uma e outra vez coloca em relevo o caráter espiritual da Igreja de Cristo; os outros aspectos da Igreja fundamentam-se neste caráter espiritual e invisível. A mente carnal é cega à esta natureza espiritual da Igreja, e a concebe segundo os esquemas de uma organização eclesiás  tica visível.

A Igreja Visível.

Sob este aspecto a Igreja compreende a todos aqueles que ante os olhos do mundo professam a fé cristã, e observam os mandamentos e ordenanças promulgadas por Cristo. Assim como a Igreja Invisível está constituída unicamente por redimidos por Cristo, a Igreja Visível, além dos crentes, inclui homens e mulheres que de uma maneira externa professam a fé evangélica. Tanto a Bíblia como as experiências provam que no seio da Igreja Visível tem se ocultado homens não salvos. Em certas ocasiões nem ainda os apóstolos podiam impedi-los, é somente Deus que pode ler os corações.
Na Palavra de Deus encontramos repedidas alusões a este aspecto visível da Igreja. Nos Atos dos Apóstolos o evangelista Lucas se refere a ela com as seguintes: “E o Senhor acrescentava dia-a-dia à Igreja os que iam sendo salvos”.(Atos 2.47). Escrevendo aos corintios o apóstolo fez menção da provisão ministerial e governativa com a que Cristo tem dotado a Igreja Visível: “E a uns pôs Deus na Igreja, primeiramente apóstolos, depois profetas, em terceiro lugar doutores e mestres; dons de curar, misericórdias, governos, variedades de línguas”.(1Coríntios 12.28). Os ofícios e ordenanças que são detalhados aqui implicam em uma estrutura social externa e visível.
Temos dito que a Igreja em seu aspecto visível não está formada de uma membresia única – tal como acontece com  a Igreja Invisível constituída por todos os redimidos - , mas que abriga em sua comunhão, além dos crentes, grande número de pessoas externamente professa a fé evangélica mas que na realidade não são salvos. Este fato se aprecia muito bem em algumas parábolas de nosso Senhor. Sob o título “reino dos céus” o Senhor se refere a Igreja Visível, e assim, nos diz em Mateus 13.47-49: “O reino dos céus é semelhante a uma rede, que é lançada no mar, colhe de todas as sortes de peixes. E quando está cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons para os cestos e os ruins deitam fora”. A separação entre os bons e os maus terá lugar no fim do mundo. A mesma idéia de coexistência de pessoas salvas e não salvas na igreja visível se nos apresenta na parábola daquele homem que semeia a boa semente no campo, mas “dormindo seus guardas, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo”. No tempo da colheita, a saber, no fim do mundo, se fará separação entre o joio e o trigo – entre os crentes e os hipócritas -. A relação que existe entre a videira e os ramos, e que o próprio Senhor Jesus nos menciona, põe ainda mais em relevo o que já vimos, dizendo: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Todo ramo que, estando em mim, não dar fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto ele o limpa, para que produza  mais fruto ainda.”
“Eu sou a videira, vós os ramos... o que em mim não estiver será lançado fora como mau ramo” João 15.  O verdadeiro crente, qual ramos unidos à videira, mantém uma união espiritual com Cristo e, em conseqüência disso, produzem frutos. Mas os hipócritas, aqueles que não são salvos, e que, no entanto, filiam-se a membresia da Igreja Visível, por manter somente uma relação externa com Cristo, semelhante aos ramos que não estão unidos a videira, serão lançados fora.
         A Igreja Invisível mantém, com respeito a seus membros, uma relação íntima e espiritual com Cristo; enquanto que a Igreja, em seu aspecto visível, mantém uma relação externa. No caso dos crentes verdadeiros, esta relação externa é expressão visível daquela íntima relação espiritual que lhes une a Cristo. A Igreja Invisível está constituída, unicamente, pelos redimidos; enquanto que a Igreja Visível está formada por aqueles que externa e visivelmente confessam a Cristo, e pode incluir, além dos crentes verdadeiros, pessoas não são salvas.
          Estes dois aspectos – visível e invisível -, sob os quais se nos apresenta a Igreja nas Escrituras, são básicos para uma compreensão bíblica da natureza da Igreja. Eles são, além do mais, os que colocam de forma bastante clara os erros da concepção romanista de Igreja. A Igreja Católica Romana atribui à Igreja Visível grande números das características que, segundo as Escrituras, só podem ser aplicados à Igreja Invisível.  




 A Igreja Católica e Local

A Igreja Local
Com freqüência o termo igreja é usado nas Escrituras para designar um grupo de crentes em um determinado lugar. Ainda que seja no caso de que sejam dois ou três crentes que se reúnem para orar e adorar ao Senhor, o Novo Testamento emprega o termo igreja[2]para designar os tais. O mesmo acontece com grupos de crentes que, todavia, não foram organizados sob a supervisão de presbíteros e pastores. Em atos dos Apóstolos é-nos dito que Paulo e Barnabé “constituíram presbíteros em cada uma das igrejas” Atos 14.23. O  qual demonstra que, ainda antes de ter presbíteros, tais grupos já se constituíam verdadeiras igrejas. O apóstolo Paulo reconhece como verdadeira Igreja  o grupo de crentes que se reúnem em uma casa particular, em suas epístolas  temos vários exemplos: “ Saudai a Priscila e Áquila ... do mesmo modo a igreja de sua casa” Romanos 16.3,5. “Saudai aos irmãos que estão em Laudicéia, e a Ninfas, e a Igreja que está em sua casa” Colossenses 4.16 (veja-se também 1 Corintios 16.19; Filemon 23).
A Igreja Católica ou Universal.
Temos visto que segundo o Novo Testamento, ainda que seja um pequeno grupo de crentes que se reúnem em uma casa particular constitui uma igreja. Agora bem, a igreja local, por menor que seja, mantém uma relação importantíssima coma as outras igrejas cristãs. O crente, por cima de sua igreja local, confessa a sua crença em uma Igreja Universal: “Creio na Igreja Católica”. Como devemos entender esta confissão? Que relação há entre a congregação local e a Igreja Universal? Em que consiste a universalidade da Igreja? A universalidade ou catolicidade da Igreja é dupla: Concerne a Igreja em seu aspecto visível e invisível.

Em seu aspecto invisível.

A igreja é católica pelo fato de não está restringida a nenhuma limitação de lugar e tempo.[3]Na dispensação judaica, a igreja não era católica, mas local; seu centro estava em Jerusalém; ali tinha o seu templo, seu altar, seu sacerdócio. Porém, na nova dispensação a Igreja desborda toda a limitação local. “A hora vem, e agora é, quando os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade”. João 4.23. Em qualquer lugar da terra onde se encontra um crente, ali há um verdadeiro Templo do Senhor; ali pode Deus ser adorado em Espírito e em verdade. Desaparece o sacerdócio de Arão com a vinda do Sumo Sacerdote que, havendo feito a propiciação pelos pecados do povo, agora vive para sempre interceder por eles. As barreiras da dispensação mosaica foram derrubadas, e a plenitude do Espírito Santo se derrama sobre a Igreja. É o Espírito Santo quem estabelece a universalidade da Igreja. A ação unificadora do Espírito Santo faz desaparecer toda diferença de raça, língua e distância. A comunhão de um mesmo Espírito faz com que os crentes de todos os lugares e tempos experimentem uma maravilhosa unidade espiritual em Cristo. É em virtude, pois, dos laços de um mesmo Espírito, e da participação de uma vida espiritual comum em Cristo, que a Igreja local se relaciona com o conjunto de todas as igrejas cristãs.



Em seu aspecto visível.

A igreja é católica por quanto todos os seus membros professam a mesma fé em Cristo. Assim como a Igreja Invisível a universalidade vem determinada pela participação de um mesmo Espírito, no caso da Igreja Visível a catolicidade vem determinada pela profissão de uma mesma fé. Por cima das diferenças de língua, raça, e denominação, as igrejas evangélicas confessam a mesma fé em Cristo Jesus.
Os evangélicos são acusados a vontade de estarem divididos na doutrina, e desta forma não exibem a catolicidade da fé; porém, os que assim nos combatem não param para considerar que o amplo horizonte doutrinário que, por cima das diferenças denominacionais, une as igrejas evangélicas. Se compararmos os credos e confissões doutrinárias das denominações evangélicas mais importantes, se observará uma crença comum nas doutrinas essenciais da fé cristã. Todas proclamam a autoridade na Bíblia, a Trindade, a Criação, a Queda do homem, a divindade de Cristo, a Salvação através da Obra de Cristo, a Justificação pela Fé somente, o Juízo Final, a Realidade do Céu e do Inferno, a Segunda Vinda de Cristo, etc...Os desacordos e diferenças entre as igrejas evangélicas estão inseridos naquilo que não impedem a salvação de pecadores. Algumas destas diferenças devem-se a causas históricas, outras nasceram como resultado de distintas interpretações e de certas profecias escatológicas; outras provêm de um triste apego às tradições humanas; porém, mui possivelmente, a maior parte das diferenças dentro do campo evangélico se devem ao pecado.
O crente evangélico não deve contentar-se pensando que naquilo que se refere ao coração da mensagem evangélica há universalidade de fé entre as igrejas evangélicas, mas, antes de tudo, deve orar e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que a Igreja Visível, ainda que seja nos temas e nos detalhes mais insignificantes possam revelar a unidade e catolicidade.



[1] Na realidade o catolicismo romano não nega este aspecto de invisibilidade da Igreja de Cristo, mas o suprime e faz depender do aspecto visível. “Primeiro está a Igreja Visível, e logo vem a Invisível”. Desta crença surgem as tristes conclusões da Teologia Católica com respeito  a natureza da Igreja. Ao aspecto visível Roma aplica notas e características que são próprias do aspecto invisível da Igreja.
[2] Nota do Tradutor: O termo Igreja, no grego nós temos ekklhsia,significa literalmente “os chamados para fora”, são chamados do mundo para serem consagrados a Deus.

[3] Nota do Tradutor: Este tem sido o erro da Igreja Católica Romana, pois, a Igreja não pode ser católica e ao mesmo tempo Romana, tal postulação é uma contradição de discurso – elimina o conceito de catolicidade da Igreja de Cristo. Isso porque a Igreja Romana está limitada, em sua nomenclatura, a uma localidade.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A MULHER NO ANTIGO TESTAMENTO


A MULHER NA VISÃO BÍBLICA-VETEROTESTAMENTÁRIA.

Rev. João Ricardo Ferreira de França.*

I - GÊNESIS E ÊXODO: UMA VISÃO GERAL.


          Ao estudarmos sobre o tema da importância da mulher cristã, no lar, na igreja e na sociedade  se faz necessário começar pelo Antigo Testamento, pois, é na própria Palavra de Deus que devemos procurar respostas singulares sobre o papel da mulher nestas três esferas importantes da vida: família, igreja e sociedade.

          1. – O LIVRO DO GÊNESIS:


          Devemos começar a nossa análise apartir do texto do Gênesis. No Primeiro capítulo aprendemos que a mulher é criada para refletir em primeiro plano a Imago Dei (Imagem de Deus):
Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra. ( Genesis 1:26-28  )

          A teologia Bíblica se insere aqui para nos mostrar a importância da mulher desde o primeiro livro da Palavra de Deus. Um escritor contemporâneo nos lembra que Deus “fez os seres humanos à sua imagem e os colocou sobre a terra. Em outras palavras, o mundo que vivemos é domínio de Deus; é seu reino (...). Gênesis 1 proclama que fomos criados à imagem de Deus, isto é, somos  representantes de Deus neste mundo[1]
          Então, vemos à luz das Escrituras que a Mulher é criada para ser a vice-regente, juntamente com o seu marido do mundo criado, logo, ela tem um papel importante e significativo na história redentiva de Deus. Dentro desta esfera as mulheres, juntamente com o seu marido, recebem os três mandatos de Deus: Cultural, Social e Espiritual.
          Estas três esferas encontram-se bem presente no nosso cotidiano e na vida da mulher que busca servir a Deus. Os três mandatos envolvem a vida regular do homem e da mulher, ambos vivem sob estas perspectivas.
          Uma escritora sumariza para nós as ideias fundamentais destes três mandatos; apontando para nós a nossa tarefa como homens e mulheres. Vejamos:
E qual era a tarefa? Em Gênesis, Deus dá o que chamaríamos de a primeira descrição de cargo:"Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a..." (Gn 1.28) A primeira frase —"Frutificai, e multiplicai-vos" — significa desenvolver o mundo social: formar famílias, igrejas, escolas, cidades, governos, leis. A segunda frase —"enchei a terra, e sujeitai-a" — significa subordinar o mundo natural: fazer colheitas, construir pontes, projetar computadores, compor músicas. Esta passagem é chamada de o mandato cultural, porque nos fala que nosso propósito original era criar culturas, construir civilizações — nada mais.[2]

            A mulher no contexto familiar para se a auxiliadora idônea de seu marido. Deus havia criado tudo muito bom (Gênesis 1.31), todavia, havia algo que não era bom em toda a criação – a solidão de Adão – a coroa da criação estava só, e isto não era bom (Gênesis 2.18); neste processo Deus toma uma decisão singular, trazer a mulher à existência.
          A mulher vem a este mundo com o propósito de ser uma auxiliadora de seu marido, este é um relacionamento na esfera criacional de Deus.(Gênesis 2.18-24) como companheira “Eva” – mãe da vida – deve ser um consolo para Adão e uma pessoa dedicada a viver neste relacionamento, expressando a Imagem de Deus. Todavia, esta mulher é tentada pela serpente. A queda do primeiro casal é significativa, o objetivo da tentação não era meramente ser conhecedores do bem e do mal, mas serem iguais a Deus (Gênesis 3.5). Somos inseridos pelo autor sagrado no diálogo vai decidir toda a história da humanidade, Eva toma a chefia de tudo. Ela se interpõe e coloca-se como a “cabeça” da humanidade.
          Neste intercurso sabemos que Adão estava com sua esposa neste momento da tentação(Gênesis 3.6) e não assumiu a liderança. O que nos chama a atenção no drama do Éden é a resposta de Eva a pergunta capciosa da serpente: “Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”(Gênesis 3.1). Esta consideração do autor sagrado mostra-nos que a intenção da serpente era levantar uma dúvida em Eva. Um erudito em teologia bíblica do Antigo Testamento nos lembra exatamente isso: “O processo da tentação se divide em dois períodos. Em ambos, o propósito central do tentador é a inserção da dúvida na mente da mulher.”[3] Esta indagação coloca em cheque os termos da revelação dada por Deus. A mulher responde do seguinte modo: “Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais.”(Gênesis 3.2-3). Wirght comenta este texto e nos alerta para o seguinte fato:
Se o que Deus havia dito era suficientemente claro para Adão e Eva, não era assim tão claro para a serpente.[...] Na sua resposta, Eva introduz duas modificações supostamente no interesse de trazer luz à questão, sua resposta (“...disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais.” Gn.3.3) contem dois erros. Primeiro, Deus não havia dito que eles não poderiam tocar na árvore.[...] O simples acréscimo de Eva ao que Deus havia ordenado pôs em dúvida o significado completo e total do escopo da sua vice-regência. Segundo, Deus havia dito  que no dia em que eles comessem do fruto dessa árvore, eles “certamente morreriam”[...] O processo foi predeterminado para iniciar no mento em que tivessem comido do fruto proibido e continuaria até que o resultado fosse completado. Mas Eva enfraqueceu essa afirmação da certeza ordenada divinamente para uma mera possibilidade, uma mera contingência (“para que não morrais”) [4]

          Percebemos assim que aquela que fora dada para ser a auxiliadora do homem, agora coloca tudo a perder por uma atitude de querer tomar a liderança. Depois, da queda de Adão e Eva, temos agora Deus vindo para vindicar seu reino e a sua justiça. Ele procura por Adão (Gn 3.9). Esta procura de Deus por Adão e a sua esposa tem implicações importantes sobre este tema; pois, o capítulo 3 de Gênesis concentra-se em três perguntas básicas que são necessárias para entendermos o dilema do homem no estado de pecado. No versículo 9 “Onde estás?” “Este foi o chamado divino para considerar a alienação e separação que tinham ocorrido. Adão e Eva não estavam meramente escondidos em sentido físico. Eles tinham-se separado da comunhão com Deus. Tinham se afastado da comunhão da família real.” [5]
          A segunda pergunta encontra-se no versículo de número 11 do texto “quem te fez saber que estavas nu?”, segundo Vangroningen esta pergunta é para que o casal agora considerem o seu status diante de Deus, pois, agora eles “tinham perdido seu senso de bem-estar e de segurança”[6]. Isto tem implicações gritantes porque o homem e a mulher abriram mão de sua posição de vice-regentes deste mundo. Em outro lugar Vangroningen chega a dizer que depois desta queda se estabeleceu neste mundo um reino paralelo – o reino parasita[7]. A terceira pergunta encontra-se no versículo 13 “que é isso que fizeste?” olhando para esta indagação percebemos que ela exige “uma confissão de desobediência deliberada”[8] Temos ai todo o cenário abordado, de forma sucinta, para a compreensão adequada do envolvimento da relação da mulher dentro do processo histórico-redentivo. Observando toda revelação até o presente momento, pudemos observar que Eva, cujo nome significa mãe da vida, ironicamente parece-nos gerar a morte por sua iniciativa quando cede a tentação.
          Parece-nos que tudo está acabado diante de nós. O pecado se instalou em nosso mundo deforma cruel e assustadora; nos versículos posteriores vemos como Deus lida com esta situação. No versículo 15 há uma promessa de redenção de que haveria um descente do casal, fruto que sairia de Eva para destruir o mal implantado devido a desobediência do casal, novamente Eva reassume o significado de seu nome: mãe da vida, todavia, não de modo exclusivo este significado passa a ser mais abrangente: a mãe de todos os seres viventes. Assim nasce o que os teólogos chamam de Proto-Evangelho [a primeira mensagem de redenção] do ventre da mulher nasceria um que esmagaria a cabeça da serpente. E, depois desta revelação Deus Yahweh trás as três falas divinas como sinal de maldição sobre os perpetradores da aliança. Toda essa história foi muito bem ilustrada na estrutura quiástica apresentada por Greidanus:
A.   Narrativa: Deus, homem                                                          (2.4b-17)
de   ’adama (terra)  para o jardim
B. Narrativa: Deus, homem, mulher, animais                           (2.18-25)
     O relacionamento entre as criaturas
      A bondade de Deus em criar uma ajudadora para o homem
      C. Diálogo: Serpente , mulher                                                ( 3.1-5)
           Sobre o comer da árvore
           Três declarações
           D. Narrativa: Mulher, homem                                             (3.6,7)
                Eles comeram da árvore
                Rebelião no reino de Deus
          C’. Diálogo: Deus, homem, mulher                                      (3.8-13)
                Sobre o comer da árvore
                Três perguntas e respostas
B’. Monólogo: Deus, homem, mulher, serpente                              (3.14-19)
      O relacionamento entre  as criaturas
      O juízo e a graça de Deus
       A’. Narrativa: Deus, homem                                                                  (3.20-24)[9]
             Do jardim para  ’adamá (terra)

          Prosseguindo em nossa abordagem devemos observar mais a frente que no processo histórico da redenção nós encontramos a mulher no capítulo quatro do Genesis na expectativa do redentor divino, ou seja, o casal estava ansioso para que o redentor viesse de imediato. Pois, no capítulo 4.1 temos a expressão “com auxilio do SENHOR”.
          A palavra “auxílio” no hebraico pode ser “yeshu’ar” que significa ‘ajuda’, ‘salvação’, ‘assistência’. Ou poderia ser a palavra “’ezer” que significa “ajudar”, “auxiliar” ou “socorrer”, todavia, no hebraico a palavra “auxílio” não aparece neste texto. Aqui foi mais uma interpretação dos tradutores para oferecer sentido à expressão. A força do hebraico é “adquirir um varão da parte do SENHOR”[10]. Aqui parece indicar que Adão e Eva estavam desejosos pelo redentor prometido. O nascimento de cada filho tornou-se a esperança da vida. “Será que é agora  que o redentor há de nos restaurar”, será “agora que ele trará paz ao mundo”? Todas estas indagações estavam centradas em Caim.
          Mas, Abel também nasce(vs 2). O texto nos informa a respeito da morte de Abel por parte de Caim. Por que isso? O versículo 8 nos oferece alguma explicação. Neste mundo há duas descendências e Caim pertence ao Maligno (1 Jo 3.8). O conflito no mundo está declarado desde o Éden. Neste mundo existem os que vão crer em Cristo, e os que vão rejeitar a Cristo e se levantarão contra Ele.  Neste tópico percebemos a importância da mulher no processo da história da redenção do homem. Ela tem a responsabiliade de trazer uma geração santa, não apenas separada, mas especificamente uma geração para a redenção do universo dentro das três estruturas do mandatos criacionais – cultural, social e espiritual.

1.2 – O LIVRO DO ÊXODO:


          No livro do Êxodo temos poucas alusões signifitivas ao papel da mulher. Todavia, vemos a aplicação da lei de Deus sendo registrada para proteção e valorização da mulher; mas, nao podemos inicar por ai. Todavia, nos primeiros capítulos deste livro conhecemos uma personagem significativa seu nome Zípora. Lemos na narrativa veterotestamentária que Moisés é chamado por Deus para libertar o povo para realizar a vontade de Deus; mas, o próprio Deus se interpõe para tirar a vida de Moisés; isso por causa da ausência da circuncisão no filho de Moisés, eis, o relato Bíblico:

Estando Moisés no caminho, numa estalagem, encontrou-o o SENHOR e o quis matar.  Então, Zípora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio de seu filho, lançou-o aos pés de Moisés e lhe disse: Sem dúvida, tu és para mim esposo sanguinário. Assim, o SENHOR o deixou. Ela disse: Esposo sanguinário, por causa da circuncisão. (Êxodo  4.24-26  )

          Esta mulher era uma medianita e nas regiões vizinhas não se praticava a circuncisão em bebês renascidos, pois, entendia-se que este rito deveria ser aplicado quando a puberdade houvesse chegado. O “texto nos informa de forma eufemística que “o SENHOR o quis matar”, um erudito nos fala desta linguagem como “ uma que indicação que Moisés esteve a ponto de morrer. Naqueles “dias  se creia que tudo o que acontecia era resultado da  vontade e  ação  direta de Deus.”[11] Ou seja, a linguagem bíblica indica que Moisés estava muito doente.
          Algumas características são notadas na atitude de Zípora. A primeira delas sensibilidade diante do dilema enfrentado pelo seu esposo, mas também vemos aqui uma segunda atitude. Uma mulher que soube o que fazer em momento de adversidade; ela percebeu que a enfermidade mortal de seu marido estava relacionada com a não aplicação do sacramento veterotestamentário em seu filho; e, por isso, se curvou diante da vontade revelada de Deus e realizou a circuncisão. Neste simples ato narrativo vemos também o vislumbre do amor de Zípora por seu esposo, qualidades impares que se espera de uma mulher que teme a Deus é retrata aqui: Sensibilidade, atitude correta no momento da adversidade, e por fim ter amor para com a família.


II -  NOS LIVROS POÉTICOS:


          Na literatura poética a mulher é bem colocada de forma singular. Os salmos e os provérbios que falam da vida familiar exaltam o papel da mulher nesta célula máter da sociedade.  O livro dos Salmos e o de Provérbios possui trechos que precisam ser analisados e encarados para o nosso contexto atual. Usaremos aqui dois modelos deste tipo de literatura para mostrar como a mulher tem sido vista neste gênero literário veterotestamentário.

       2.1 – O LIVRO DE SALMOS[12].


          O livro dos salmos é o espelho da alma. Neste sentido eles vislumbram a resposta de Deus e a resposta dos homens.[13] Nesta relação nós iremos trabalhar dois salmos que tratam de família de forma interessante.

    2.1.1 – O SALMO 127.


          Esta poesia sacra nos leva para dentro do contexto da família cristã. Bosma sugere que este salmo tenha como “autor Salomão”[14]. Além do mais o próprio salmo no primeiro verso nos informa que trata-se de um “cântico de romagem”. Ou cântico dos degraus. Outra nota importante que o salmo nos oferece é sobre sua própria autoria “ hmoïl{ñv.li” [lishelomoh] a preposição “li” aqui é diretiva, mas com o sentido de autoria de fonte, de origem. Salomão é indicado como sendo o autor desta peça poética. Calvino informa que “não há razão para os judeus negarem que este salmo foi escrito por Salomão”.[15]
          No primeiro verso pode parecer que o autor está se concentrando sobre o Templo ao declarar que se Yhaweh não tomar conta da casa em vão os sentinelas trabalham. Embora isto, esteja na mente do poeta, o foco está na família. A palavra hebraica usada aqui é “tyIb;ª” [Baith] que tem o sentido de um edifício, ou mesmo de uma família estruturada.  O texto pode indicar as duas possibilidades. Calvino confirma isso de modo claro ao comentar: “Ao usar a palavra casa, o salmista se referia não somente a um edifício de madeira ou de pedras, mas também a toda a ordem e o governo de uma família”[16]. Então, tomaremos o segundo sentido como o sentido claro do texto, visto que o autor nos permite a esta conclusão, certamente este é o sentido pretendido aqui.
          Osborne nos lembra que este salmo pode ser enquadrado naquele tipo de poema que produz ou comunica “sabedoria e ensino”, ou nas próprias palavras dele “salmos de sabedoria e didático [...] que equivalem aos provérbios”.[17] A primeira verdade apresentada pelo autor do texto é que sem a proteção do SENHOR para com a família todo o nosso empreendimento é nulo, é inútil. A temática certamente é que Deus tem sido o provedor para tudo em relação às  nossas famílias. Nos versos de 3 a 5 o autor focaliza-se na família de modo peculiar. Ele fala dos filhos como sendo Herança do Senhor. Aqui o autor usa uma relação de construto ao escrever a apalavra herança. O termo hebraico empregado aqui “tl;äx]n:” [nahalath] significa “herança que pertence a, propriedade de, possessão de”; ou seja, a visão do poeta é que os filhos pertencem primeiramente a Deus. Nós somos apenas mordomos que cuidamos dos filhos.  No verso 4 os filhos são retratados como armas poderosas, pois, na cultura da época os filhos eram visto como aqueles que continuariam a procriar e manter a geração familiar. E o último verso tem os filhos educados pelos pais tornam-se sua defesa no futuro.

    2.1.2 – SALMO 128.


          Este segundo salmo focaliza-se nos filhos e no papel da mulher como mãe dentro da família. Este é um salmo de romagem e a temática é a família do pacto, pois, neste salmo encontramos. É um poema que fala da felicidade pactual conforme percebemos pelo uso do substantivo “yrEv.a”[.’ashere] – bem-feliz - mostrando que felicidade no lar e na família estão vinculados ao temor e no trilhar nos caminhos de Yahweh.
          O principio Edênico é apresentado no texto no segundo verso onde o homem cumpre o seu mandato cultural por meio do trabalho para trazer alimento para sua subsistência, e a sua bem-aventurança é certa “^yr<ªv.a;÷” [ ’ashereka] – tu serás feliz -  assim enfatiza a prosperidade daquele que tem ao Senhor.
          O verso de número três introduz a esposa deste homem temente. Revelam-se aqui algumas qualidades desta esposa. A primeira delas é que ela é uma mulher do lar e para lar. “no interior de tua casa”, no texto hebraico a palavra usada para “no interior” pode ser usada para traduzir “ao lado de”; transmitindo a ideia de um vinheiro que suas ramas ficam ao redor de sua haste principal, mas no uso da preposição hebraica que é usada, pode-se entender como estando dentro da casa.
          A segunda qualidade desta esposa é que ela é mãe. Parece-nos algo simplório esta observação, mas na cultura antiga não ter filhos era sinal de maldição, então, o salmista diz que o homem verdadeiramente próspero é aquele que a sua esposa concede-lhe filhos.

2.1.3 – O LIVRO DE PROVÉRBIOS[18].


2.1.3.1 – PROVÉRBIOS 22.6.


          Na proposta pedagógica estabelecida aqui temos a participação dos pais na questão disciplinar; notemos também que neste papel a mulher tem uma participação significativa. E a abordagem fundamental deste texto é a transmissão milenar do conhecimento e da sabedoria à geração futura, pois, sempre é um desafio “repassar o legado de uma geração àquela que se segue.[19].
          O texto sumariamente relembra-nos o dever que devemos ter para com os nossos filhos, e as mulheres como boas donas de casa tem a responsabilidade de ensinar tudo ao seu filho. A palavra hebraica que aparece aqui para “ensina” é “%nOæx]  ”[hanoke] e tem um sentido muito especial, pois, significa “dedicar, treinar, preparar” – está incluído aqui que a mulher temente a Deus [ juntamente com o seu esposo] deve prepara o seu filho nos caminhos de Yahweh para a vida. Uma tradução proposta para o texto pode ser a seguinte:
[Leitura proposta]
Consagra o jovem no princípio de seu caminho
para que, nem quando velho, ele seja persuadido a desistir dele.[20]
          A ideia predominante deve ser o seguinte que o termo ensinar aqui se relaciona a dedicação dos filhos ao conhecimento do Deus da aliança. Este ponto precisa ser ressaltado, pois, o verdadeiro ensino está ligado de forma direta ao conhecimento prático e fundamental para a vida.

2.1.3.2 – PROVÉRBIOS 31.


          O provérbio que coroa a Mulher em sua maior glória e honra certamente é o capítulo 31. Este poema sapiencial começa-nos informando que são palavras “yrEb.DIâ”[diberi], todavia, não são palavras escritas por qualquer outra pessoa, mas por um rei, a figura de “laeäWml.[lemu’el]. Mas notemos que o texto acrescenta uma nota importante para nós, consiste no fato de que tais palavras são o resultado do ensino de sua mãe.
          O poeta escreve “as quais lhe ensinou”(WTr:îS.yI-rv,a]) o verbo ensinar [WTr:îS.yI -iserathu] aqui no hebraico tem o sentido de “corrigir” a mãe é retratada como a disciplinadora do Rei. Nos versos de 1-9 temos as instruções importantes no campo da ética e da moral para que o Rei saiba como se portar ante qualquer situação.
          Apartir do verso 10 se tem a coroação da mulher. Ela é vista como virtuosa (vs. 10) o autor sagrado lembra que a esposa deve ser virtuosa; as qualidades apresentadas desta mulher tornam-na singular, e o conceito de raridade é inserido no poema mostrando assim a singularidade desta mulher. Então, ele passa a enumerar as qualidades desta mulher rara.
1.    Fidelidade:  
          No verso 11 o autor sagrado reporta-se ao fato de que o marido desta mulher confia nela, ou seja, a visão da mulher temente a Deus é que ela é digna de confiabilidade.  A palavra hebraica “xj;B'ä” – batah – que significa confiança tem o sentido de ser fiel.
2.    Bondade:
          Essa mulher descrita no poema é alguém que faz o bem para o seu esposo, para o seu marido ela é caracterizada com alguém que faz bem ao marido. A palavra bom aparece no texto “bAjå” – tov – carrega o conceito daquilo que é bom; observe que ela faz o bem até a sepultura “todos os dias da sua vida.”.
3.    É uma mulher do lar:
          Outra característica importante nesta mulher é descrita como sendo uma mulher do lar, trabalhadora e empreendedora que trabalha no lar, manter a paz e a ordem família (vs.13-31).






* O Autor é formado em Teologia Reformada pelo Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) em Recife-PE. Atualmente é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana de Todos os Santos em Teresina – PI.
[1] GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a partir de Gênesis. Tradução: Marcos Vasconcelos, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.81.
[2]  PEARCEY, Nancy. A Verdade Absoluta – Libertando o Cristianismo de seu Cativeiro Cultural. Tradutor: Luis Aron de Macedo. Rio de Janeiro: CPAD,2006,P.34
[3] VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica – Antigo e Novo Testamentos. Tradutor: Alberto Almeida de Paula. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p.52
[4] WRIGHT, R.K. Mc Gregor. A Soberania Banida – redenção para a cultura pós-moderna.  Tradutor: Héber  Carlos de Campos. São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p.88-89.
[5] GRONINGEN, Gerard Van. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. Tradutor: Cláudio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p.104.
[6] idem
[7] GRONINGEN, Gerard  Van. Criação e Consumação: O Reino, a Aliança e o Mediador – Volume 1. Tradutor:Denise Meister. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p.126-127.
[8] GRONINGEN, Gerard Van. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. Tradutor: Cláudio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p.104.
[9]GREIDANUS, Sidney. Pregando Cristo a partir de Gênesis. Tradução: Marcos Vasconcelos, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.85.
[10] Para um esclarecimento mais exegético deste tema leia-se GRONINGEN, Gerard Van. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. Tradutor: Cláudio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p.108-109.

[11] GLAZE, Andrés, Comentario Biblico Mundo Hispano – Êxodo Exposión. Espanha: Editorial Mundo Hispano  1997,p.77
[12] Se o leitor desejar se aprofundar na questão do livro dos Salmos e de sua configuração poética nós indicamos a leitura  da obra de PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo: Ed. Hagnos, 2006, pp.449-501.
[13] Para uma discussão importante sobre este tema recomendamos a leitura do artigo do BOSMA, Carl J. Discernindo as Vozes nos Salmos: Uma discussão de Dois Problemas na Interpretação do Saltério. In: FIDES REFORMATA, julho-dezembro, 2004, Vol. IX, Nº 2, p.75-118.
[14] BOSMA, Carl J. Estrutura Significante do Saltério. Seminário Presbiteriano Conservador,2006, p.14 – Obra não Publicada
[15] CALVINO, João. Série de Comentários Bíblicos  - Salmos: Volume 4. Tradução: Valter Graciano Martins. São Paulo: Editora Fiel, 2009, p.373
[16] Idem
[18] Para questões sobre a autoria de Provérbios e introdução aos temas fundamentais do livro veja-se: WILLIAMS, James G. Provérbios e Eclesiastes. In: KERMODE, Frank & ALTER, Robert. [org.], Guia Literário da Bíblia Tradução:Raul Fiker. São Paulo: Editora Unesp, 1997, p.283-304.
[19] SANTOS JR, Daniel. A Proposta Pedagógica de Provérbios 22.6. IN: Fides Reformata, Volume XIII. Número 2. São Paulo: Mackenzie, 200 8, p.9.
[20] Ibid, p.19