domingo, 4 de agosto de 2013

Fundamentos Teológicos para O Culto Familiar.

Fundamentos Teológicos para O Culto Familiar.
Rev. João Ricardo Ferreira de França*.
INTRODUÇÃO:
            Existe algum fundamento para praticarmos o culto doméstico em nossos dias? Será que este assunto é imperioso para a nossa atual igreja? E a ainda não seria a ausência desta  prática saudável a razão de tantas crises em nossa igreja? Crise de liderança, crise de obediência e crise litúrgica! E o mais grave, não seria a falta deste elemento vital nas famílias, o culto doméstico, a razão de uma crise sem precedentes em nossa nação?
            O pastor Joel Beeke declarou algo importante sobre isso “Conforme as coisas são em casa, assim o serão  na igreja e na nação. O culto doméstico é o fator que  determina como as coisas andam no lar.” (BEEKE, 2012, p.11).
            Nos princípios de liturgia da Igreja Presbiteriana do Brasil aprendemos o seguinte: “Culto doméstico é o ato pelo qual os membros de uma família crente se reúnem diariamente, em hora apropriada, para leitura da Palavra de Deus, meditação, oração e cântico de louvor”. (PL/IPB – ARTIGO 10).
            Mas quais são os fundamentos bíblico-teológicos para essa declaração? O que as Escrituras ensinam sobre este tema? Quais são os alicerces que estão fincados para fundamentar esta prática religiosa?
I – O CULTO FAMILIAR NO ANTIGO TESTAMENTO:
            Nosso ponto de partida será analisando o que diz o Antigo Testamento sobre este importante tema, pois, todo fundamento teológico da igreja, toda doutrina cristã tem suas raízes no Antigo Testamento.
1.1 – ADÃO E EVA – UMA FAMÍLIA CRIADA PARA GLORIFICAR A DEUS.
            Ao ler as primeiras páginas da Bíblia nos deparamos com Deus criando o mundo e o homem, este sendo criado para glorificar a Deus, para exaltá-lo – este relacionamento do homem com Deus era algo íntimo e pessoal. Isso é percebido em Gênesis 3.8 – Deus se comunicava com homem no jardim. E claro embora o contexto aqui seja da queda do homem no pecado, nós vemos ainda assim, Deus vindo ao homem para se comunicar com ele. “Deus Yahweh não se afastou dos desobedientes, pecaminosos e culpados Adão e Eva”( GRONINGEN, 2008, p.135).
            Como  Joel R. Beeke mais uma vez nos lembra o seguinte: “Adão desobedeceu a Deus, transformando a alegria da adoração e da comunhão com Deus em medo, temor, culpa e alienação.”( BEEKE, 2012, p.13). Outro escritor coloca isso de forma mais interessante:
Num instante, medo, culpa e vergonha se tornaram padrão das experiências humanas. Pessoas que viviam em perfeita harmonia agora se acusavam, enganavam, e brigavam pelo controle. Ervas daninhas e doenças se toraram as preocupações diárias. As pessoas começaram a desejar o que era mal e afazer o que era errado. Em vez de se submeterem à autoridade de Deus, viviam como se fossem seus próprios deuses. O mundo que uma vez cantou a canção da perfeição agora gemia sob o peso da Queda. O pecado alterou cada pensamento, desejo, palavra, e ação. Criou um mundo de inconstâncias, motivações ambíguas, adoração de si mesmo e de total egoísmo.  (TRIPP, 2009,p.19)
            Esse relacionamento com criador foi quebrado, e a comunhão em adoração foi totalmente ameaçada pela presença do pecado. Embora, a adoração estive ameaçada Deus de forma singular, restaura a esperança redentiva de Adão e Eva, bem como resgata a adoração. Sim, no mediador pactual prometido (Gênesis 3.15) há esperança de redenção, mas também há o resgate dos verdadeiros adoradores.
            O sacrifício vicário de Cristo revela-nos o ponto fundamental na adoração. Revela-nos que a redenção possibilita a adoração. Porque os sacrifícios veterotestamentários, no ato litúrgico, visava promover a comunhão do povo da aliança com Deus, e tal perspectiva é percebida no evangelho de João 1.3 – a comunhão outrora perdida no Éden pelo primeiro Adão, trazida pelo Cristo prometido em Gênesis 3.15.
1.2 – A TEOLOGIA FEDERAL E O CULTO FAMILIAR.
            Tomo sentido de Teologia Federal como aquele aplicado a ideia da representação familiar. O pai representa, diante de Deus, a mulher e os filhos; pois, assim podemos vislumbrar a importância da adoração em família.
            O culto familiar no Antigo Testamento estava fundamento sobre este principio fundamental da representatividade. Temos nas Escrituras um chamado radical para os pais e maridos assumirem a vida espiritual de sua família:
NOÉ: È-nos dito que ele reuniu sua família e prestou um culto a Deus logo após o dilúvio (Gênesis. 8.20-21);
:  Somos informados que este patriarca tinha uma preocupação singular com a vida espiritual de seus filhos. E neste sentido “Jó era o orgulho de Deus”, ele era “um exemplo de espiritualidade e devoção” (SOUSA, 2004, p.25) Jó 1.5.
            A função patriarcal do marido / pai é de singular importância na vida da família quando se pretende promover a espiritualidade autêntica por meio do culto familiar. Um escritor ressalta o seguinte:
O sacerdote é o intercessor que representa o povo diante de Deus. O profeta, de forma muito simples, é o instrutor do povo na verdade de Deus. Esta é uma das funções principais do marido. Deus deu ao marido a responsabilidade de purificar sua mulher na água da palavra (Ef.5.26), de ensinar com diligência a lei a seus filhos (Dt.6.6,7), e de criá-los “na disciplina e instrução do Senhor” (Ef. 6.4).
( BAUCHAM JR., 2012, p.206-207)

II – O CULTO FAMILIAR NO NOVO TESTAMENTO.
As bases teológicas para a prática piedosa do culto familiar se acham também presentes no Novo Testamento. O Novo Testamento é marcado exatamente por esta perspectiva. Pois, todos os crentes são vistos como membros da família de Abraão mostrando a íntima relação daquilo que foi dito em (Gênesis 12.1-3). Este texto é um “importante texto profético é a palavras de Deus a Abraão” (GRONINGEN, 2003, p.128). Pois, este texto tem sido estruturado para a teologia pactual da seguinte forma:
1.      Deus chamou e separou Abraão (vs1)
2.      Deus fez promessas a Abraão (VS.2)
3.      Deus coloca as estipulações pactuais diante de Abraão (VS. 2b)
4.      Deus falou de Bênçãos e Maldições futuras (VS.3).
            Toda a ideia dominante nesta passagem de que todas as pessoas da terra seriam abençoadas seguindo os passos de Fé do patriarca é confirmada em Romanos 4.11.
            O apóstolo Pedro enfatiza essa necessidade litúrgica na vida familiar do povo da aliança ao declarar isso de forma única em Atos 2.39 – mostrando que as famílias são alvos da aliança de Deus com o seu povo; também, o apóstolo Paulo tratando questões pertinentes à família cristã declara que a prole do crente é sacra (1ª Coríntios 7.14).
            O pastor Joel R. Beeke diz que “Paulo nos diz em 1Coríntios 7.14 que,  na aliança, a fé de um pai estabelece uma posição de  santidade, privilégios e responsabilidades para seus  filhos”. (BEEKE, 2012, p.16).
            Na igreja neotestamentária os pais e seus filhos eram visto como membros da igreja local, ou seja, a família reunida adorava a Deus como resultado do cultivo da adoração no lar (Efésios 6.1-4); e, tal prática é confirmada pelo que nós aprendemos em 2ª Timóteo 1.5; 3.15; isso aponta para a importância e manutenção do culto familiar regular na prática piedosa das famílias cristãs.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS USADAS NESTE ESTUDO:

  1. BAUCHAM JR., Voddie. O que ele deve ser se quiser casar com minha filha. Tradução: Ana Paulo Eusébio. Brasília: Editora Monergismo, 2012.
  2. BEEKE, Joel R. Adoração no Lar. Tradução: Waléria Coicev. São Paulo: Fiel, 2012.
  3. GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação – Reino, Aliança e Mediaro, Volume 1, tradução: Denise Meister, São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
  4. ________________________. Revelação Messiânica No Antigo Testamento – A Origem do Conceito Messiânico e o seu Desdobramento Progressivo. Tradutor: Claúdio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
  5. SOUSA, Ricardo Barbosa de. O Caminho do Coração – Ensaios sobre a Trindade e a Espiritualidade Cristã. São Paulo: Encontro, 2004.
  6. TRIPP, Paul David. Instrumentos nas Mãos do Redentor – Pessoas que precisam ser transformadas ajudando pessoas que precisam de transformação. Tradução: Eloisa Pasquini. São Paulo: NUTRA, 2009.



* O autor é ministro da Palavra pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Sendo pastos auxiliar na Primeira Igreja Presbiteria de Teresina – PI. Formado em Teologia Reforma pelo Seminário Presbiteriano do Norte – SPN – Recife – PE. Pastoreia atualmente a Congregação Presbiteriana de Todos os Santos em Teresina – PI.