Fundamentos
Teológicos para O Culto Familiar.
Rev. João Ricardo Ferreira de França*.
INTRODUÇÃO:
Existe algum fundamento para praticarmos o culto
doméstico em nossos dias? Será que este assunto é imperioso para a nossa atual
igreja? E a ainda não seria a ausência desta
prática saudável a razão de tantas crises em nossa igreja? Crise de
liderança, crise de obediência e crise litúrgica! E o mais grave, não seria a
falta deste elemento vital nas famílias, o culto doméstico, a razão de uma
crise sem precedentes em nossa nação?
O pastor Joel Beeke declarou algo importante sobre isso “Conforme as coisas são em casa, assim o
serão na igreja e na nação. O culto
doméstico é o fator que determina como
as coisas andam no lar.” (BEEKE, 2012, p.11).
Nos princípios de liturgia da Igreja Presbiteriana do
Brasil aprendemos o seguinte: “Culto
doméstico é o ato pelo qual os membros de uma família crente se reúnem
diariamente, em hora apropriada, para leitura da Palavra de Deus, meditação,
oração e cântico de louvor”. (PL/IPB – ARTIGO 10).
Mas quais são os fundamentos bíblico-teológicos para essa
declaração? O que as Escrituras ensinam sobre este tema? Quais são os alicerces
que estão fincados para fundamentar esta prática religiosa?
I – O CULTO FAMILIAR NO ANTIGO TESTAMENTO:
Nosso ponto de partida será analisando o que diz o Antigo
Testamento sobre este importante tema, pois, todo fundamento teológico da
igreja, toda doutrina cristã tem suas raízes no Antigo Testamento.
1.1 – ADÃO E EVA – UMA
FAMÍLIA CRIADA PARA GLORIFICAR A DEUS.
Ao ler as primeiras páginas da Bíblia nos deparamos com
Deus criando o mundo e o homem, este sendo criado para glorificar a Deus, para
exaltá-lo – este relacionamento do homem com Deus era algo íntimo e pessoal. Isso
é percebido em Gênesis 3.8 – Deus se comunicava com homem no jardim. E claro
embora o contexto aqui seja da queda do homem no pecado, nós vemos ainda assim,
Deus vindo ao homem para se comunicar com ele. “Deus Yahweh não se afastou dos
desobedientes, pecaminosos e culpados Adão e Eva”( GRONINGEN, 2008, p.135).
Como Joel R. Beeke
mais uma vez nos lembra o seguinte: “Adão
desobedeceu a Deus, transformando a alegria da adoração e da comunhão com Deus
em medo, temor, culpa e alienação.”( BEEKE, 2012, p.13). Outro escritor
coloca isso de forma mais interessante:
Num instante, medo, culpa e vergonha se
tornaram padrão das experiências humanas. Pessoas que viviam em perfeita
harmonia agora se acusavam, enganavam, e brigavam pelo controle. Ervas daninhas
e doenças se toraram as preocupações diárias. As pessoas começaram a desejar o
que era mal e afazer o que era errado. Em vez de se submeterem à autoridade de
Deus, viviam como se fossem seus próprios deuses. O mundo que uma vez cantou a
canção da perfeição agora gemia sob o peso da Queda. O pecado alterou cada
pensamento, desejo, palavra, e ação. Criou um mundo de inconstâncias,
motivações ambíguas, adoração de si mesmo e de total egoísmo. (TRIPP, 2009,p.19)
Esse relacionamento com criador foi quebrado, e a
comunhão em adoração foi totalmente ameaçada pela presença do pecado. Embora, a
adoração estive ameaçada Deus de forma singular, restaura a esperança redentiva
de Adão e Eva, bem como resgata a adoração. Sim, no mediador pactual prometido
(Gênesis 3.15) há esperança de redenção, mas também há o resgate dos
verdadeiros adoradores.
O sacrifício vicário de Cristo revela-nos o ponto
fundamental na adoração. Revela-nos que a redenção possibilita a adoração.
Porque os sacrifícios veterotestamentários, no ato litúrgico, visava promover a
comunhão do povo da aliança com Deus, e tal perspectiva é percebida no
evangelho de João 1.3 – a comunhão outrora perdida no Éden pelo primeiro Adão,
trazida pelo Cristo prometido em Gênesis 3.15.
1.2 – A TEOLOGIA FEDERAL E O
CULTO FAMILIAR.
Tomo sentido de Teologia Federal como aquele aplicado a
ideia da representação familiar. O pai representa, diante de Deus, a mulher e
os filhos; pois, assim podemos vislumbrar a importância da adoração em família.
O culto familiar no Antigo Testamento estava fundamento sobre
este principio fundamental da representatividade. Temos nas Escrituras um
chamado radical para os pais e maridos assumirem a vida espiritual de sua
família:
NOÉ: È-nos dito que ele reuniu sua família e prestou um culto a
Deus logo após o dilúvio (Gênesis. 8.20-21);
JÓ: Somos informados que
este patriarca tinha uma preocupação singular com a vida espiritual de seus
filhos. E neste sentido “Jó era o orgulho de Deus”, ele era “um exemplo de
espiritualidade e devoção” (SOUSA, 2004, p.25) Jó 1.5.
A função patriarcal do marido / pai é de singular
importância na vida da família quando se pretende promover a espiritualidade
autêntica por meio do culto familiar. Um escritor ressalta o seguinte:
O sacerdote é o intercessor que
representa o povo diante de Deus. O profeta, de forma muito simples, é o
instrutor do povo na verdade de Deus. Esta é uma das funções principais do
marido. Deus deu ao marido a responsabilidade de purificar sua mulher na água
da palavra (Ef.5.26), de ensinar com diligência a lei a seus filhos (Dt.6.6,7),
e de criá-los “na disciplina e instrução do Senhor” (Ef. 6.4).
( BAUCHAM JR., 2012, p.206-207)
II – O CULTO FAMILIAR NO NOVO TESTAMENTO.
As bases teológicas para a prática piedosa do culto
familiar se acham também presentes no Novo Testamento. O Novo Testamento é
marcado exatamente por esta perspectiva. Pois, todos os crentes são vistos como
membros da família de Abraão mostrando a íntima relação daquilo que foi dito em
(Gênesis 12.1-3). Este texto é um
“importante texto profético é a palavras de Deus a Abraão” (GRONINGEN, 2003,
p.128). Pois, este texto tem sido estruturado para a teologia pactual da
seguinte forma:
1. Deus chamou e separou Abraão (vs1)
2. Deus fez promessas a Abraão (VS.2)
3. Deus coloca as estipulações pactuais diante de
Abraão (VS. 2b)
4. Deus falou de Bênçãos e Maldições futuras (VS.3).
Toda
a ideia dominante nesta passagem de que todas as pessoas da terra seriam
abençoadas seguindo os passos de Fé do patriarca é confirmada em Romanos 4.11.
O
apóstolo Pedro enfatiza essa necessidade litúrgica na vida familiar do povo da
aliança ao declarar isso de forma única em Atos 2.39 – mostrando que as
famílias são alvos da aliança de Deus com o seu povo; também, o apóstolo Paulo
tratando questões pertinentes à família cristã declara que a prole do crente é
sacra (1ª Coríntios 7.14).
O
pastor Joel R. Beeke diz que “Paulo nos
diz em 1Coríntios 7.14 que, na aliança,
a fé de um pai estabelece uma posição de
santidade, privilégios e responsabilidades para seus filhos”. (BEEKE, 2012, p.16).
Na
igreja neotestamentária os pais e seus filhos eram visto como membros da igreja
local, ou seja, a família reunida adorava a Deus como resultado do cultivo da
adoração no lar (Efésios 6.1-4); e, tal prática é confirmada pelo que nós
aprendemos em 2ª Timóteo 1.5; 3.15; isso aponta para a importância e manutenção
do culto familiar regular na prática piedosa das famílias cristãs.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS USADAS NESTE ESTUDO:
- BAUCHAM JR., Voddie. O que ele deve ser se quiser casar com minha filha. Tradução: Ana Paulo Eusébio. Brasília: Editora Monergismo, 2012.
- BEEKE, Joel R. Adoração no Lar. Tradução: Waléria Coicev. São Paulo: Fiel, 2012.
- GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação – Reino, Aliança e Mediaro, Volume 1, tradução: Denise Meister, São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
- ________________________. Revelação Messiânica No Antigo Testamento – A Origem do Conceito Messiânico e o seu Desdobramento Progressivo. Tradutor: Claúdio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
- SOUSA, Ricardo Barbosa de. O Caminho do Coração – Ensaios sobre a Trindade e a Espiritualidade Cristã. São Paulo: Encontro, 2004.
- TRIPP, Paul David. Instrumentos nas Mãos do Redentor – Pessoas que precisam ser
transformadas ajudando pessoas que precisam de transformação.
Tradução: Eloisa Pasquini. São Paulo: NUTRA, 2009.
*
O autor é ministro da Palavra pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Sendo pastos
auxiliar na Primeira Igreja Presbiteria de Teresina – PI. Formado em Teologia
Reforma pelo Seminário Presbiteriano do Norte – SPN – Recife – PE. Pastoreia
atualmente a Congregação Presbiteriana de Todos os Santos em Teresina – PI.