domingo, 30 de março de 2014

REFLEXÕES NO CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER. - Pergunta 3.

REFLEXÕES NO CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.[1]

Pergunta 3: Que é a Palavra de Deus?

Resposta: As Escrituras Sagradas – o Velho e o Novo Testamento – são a Palavra de Deus, a única regra de fé e obediência.

 Ref. Is 8:20; Lc 16:29,31; Gl 1:8,9; II Tm 3:15-17; II Pe 1:19-21.

INTRODUÇÃO:

            Em nosso último estudo indagamos sobre a existência de Deus. Como podemos glorificar um Deus que não conhecemos, então, surge à pergunta epistemológica: como sabemos se existe Deus? E vimos que Deus se dá a conhecer por meio da sua criação, mas de modo especial por sua vontade revelada na Palavra pela instrumentalidade do Espírito Santo.
            Mas, então confrontamo-nos com outra questão de capital importância. O que de fato é a Palavra de Deus? Esta é uma indagação muito séria para nós quanto homem, quanto seres que pensam. Vejamos o que podemos aprender apartir da resposta dada pelo Catecismo Maior de Westminster.

I – A NATUREZA DA PALAVRA DE DEUS.

            O catecismo nos apresenta a natureza das Escrituras quando declara “As Escrituras Sagradas”. Fica evidente que a Bíblia é separada dos demais livros, é o livro de Deus que comunica a sua vontade para o homem. Elas encerram a  “revelação de um Deus santo”[2], por isso, é chamada de “sagrada Escritura”. As Escrituras transmitem um sacro ensinamento sobre Deus e como o homem deve viver para Deus; por isso, Paulo declara uma verdade única sobre a Bíblia ele diz: “e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus”. (2ª Timóteo 3.15 ARA).
            Aqui em 2ª Timóteo 3.15 temos no grego “τὰ ἱερὰ γράμματα”[ tá hiera grammata ] o termo “sagrado” aqui reproduz uma referência ao serviço sagrado dos sacerdotes no templo, na verdade aponta para as “Escrituras do Antigo Testamento”[3], ou seja, a referência que Paulo faz as Escrituras aqui dizem respeito à revelação veterotestamentária. As Escrituras são adjetivadas como “sagradas” porque provocam e promovem a santidade de vida. O próprio senhor Jesus declarou isso “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”. (João 17.17 ARA).
São elas que podem nos levar a uma vida de piedade conforme vemos neste texto, bem como aprendemos em Isaías 8.20: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva. (Isaías 8. 20 ARA)”. (Isaías 8.20 ACF). O vocábulo “lei” que aparece aqui no texto hebraico é “תוֹרָ֖ה ” [thorah] que significa “instrução”, “ensino”, “lei”. Então, é necessário falar de acordo com que está escrito na sagrada Escritura.

II -  A UNIDADE DA PALAVRA DE DEUS:

             O catecismo declara o seguinte: “o Velho e o Novo Testamento – são a Palavra de Deus”. Fica evidente que os teólogos de Westminster acreditavam na unidade dos pactos [ o pacto do Antigo Testamento o pacto do Novo Testamento]; mas,  estamos vivendo uma época em que há uma total ruptura entre o Novo Testamento com o Antigo Testamento; é claro que tal rompimento deve-se especificamente a um ensino danoso em nossos dias que se chama o Dispensacionalismo. A proposta enunciada por este princípio é que Deus tem dois povos. Esta postura  levanta  um dos grandes problemas para os pregadores de nossos dias: a quem deve ser dirigido o Antigo Testamento? A Bíblia de Scofield acentua essa distinção nos seguintes temos:
Que o cristão herda agora as promessas características dos judeus não foi ensinado nas Escrituras. O cristão é da semente celestial de Abraão e participa das bênçãos espirituais da Aliança Abraâmica; mas Israel como nação sempre terá o seu próprio lugar e ainda receberá a maior exaltação como o povo de Deus na terra.[4]

A igreja não é vista como povo de Deus, mas como um parêntese na história da salvação,  logo a Bíblia no Antigo Testamento não possui uma única passagem para confortar os crentes, e nem para ensiná-los; isso implica que se adotarmos a leitura do Dispensacionalismo estaremos contradizendo o apóstolo Paulo em Romanos 15.4 “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.”.
O que nos chama atenção na argumentação paulina é que ele diz “tudo” (o[sa- hosa) nada é deixado de fora; o que “foi escrito antecipadamente” (proegra,fh – proegráfê) tem por objetivo o ensino da Igreja. E assim a igreja neotestamentária é confortada e consolada. Disso aprendemos que Deus não tem dois povos, Greidanus comenta o seguinte:
Já que os antigos israelitas e nós somos um povo da aliança por meio de Cristo, o Deus deles é o nosso Deus, os antepassados deles são nossos antepassados, a história deles é a nossa história, e a esperança deles é a nossa esperança. Do mesmo modo, os livros deles são os nossos livros, pois os livros que Deus tinha pretendido, antes de tudo para eles são “úteis” também para nós (2 Tm.3.16)[5].

III – A PALAVRA DE DEUS  COMO AUTORIDADE FINAL

“[...]são a Palavra de Deus, a única regra de fé e obediência”. AS escrituras sagradas, ou a Palavra de Deus, consistem na autoridade final na vida do homem. Essa autoridade diz respeito à “fé” que significa o conjunto de tarefas religiosas; ou seja, a autoridade da Escritura diz-nos como devemos conduzir o culto a Deus.  Bem como de “obediência” – “ou prática”. Nossa vida deve ser regulada pelas sagradas Escrituras.

3.1 - É uma Doutrina atestada por Cristo:
                No Novo Testamento temos Cristo falando a favor desta doutrina da autoridade das Escrituras. Cristo sempre apelou para as Escrituras como a um tribunal supremo.Em qualquer controvérsia ele usava a expressão “está escrito” indicando que a palavra final deve ser dada a Palavra inspirada por Deus. Vejamos isso detalhadamente em Mateus 4.4,6,710:

Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus e lhe disse: Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra. Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus. Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto.

                Cristo ao usar a expressão “está escrito” usa um verbo grego “ge,graptai” – gégraptai –é um verbo no perfeito que indica uma ação contínua, significando “permanece escrito”, então, o Senhor Jesus está apelando para a autoridade da Bíblia como fonte autorizada da verdade; Satanás utiliza a mesma expressão reconhecendo tal autoridade, todavia, vale-se de uma interpretação distorcida para tentar enganar o Cristo, mas o Jesus novamente diz “permanece escrito” que não se deve tentar a Deus.
                Outro texto onde contemplamos Cristo fazendo defesa desta autoridade das Escrituras é quando ele busca corrigir os erros dos escribas e fariseus de seu tempo em Mateus 22.29: “Errais, não conhecendo as Escrituras”; todavia, o texto que podemos ver claramente a defesa da autoridade bíblica provinda dos lábios de Cristo é aquele de João 10.35: “E a Escritura não pode falhar”.
                No texto de João 10. 35 nos chama a atenção o verbo “falhar” no grego temos “luqh/nai”- lythênai – é um verbo usado para descrever a quebra do sábado (Lucas 13.16), a ideia é de quebrar, ser quebrada, ou mesmo de ser diminuída a sua importância e valor. Cristo diz que toda a Escritura é a autoridade na vida da Igreja.[6]

3.2– É uma Doutrina atestada Pelos Apóstolos:

                O Apóstolo Paulo atesta sobre a autoridade da Palavra de Deus ao declarar que os crentes de Tessalonicenses acataram a verdade por ele pregada, “não como palavras de homens, mas como palavra de Deus”( 1ª Tessalonicenses 2.13).
                E, ainda o Apóstolo Pedro reconhece os escritos de Paulo como escritos cheios da autoridade do próprio Deus, ao colocar as cartas de Paulo no mesmo patamar das “demais Escrituras” (2 Pedro 3.15-16) Pedro reconhece a autoridade do Antigo e do Novo Testamento.

Conclusão:
                A palavra de Deus, conforme vimos, consiste em que ela é uma  revelação escrita sagrada, encerrada nos escritos do Antigo e Novo Testamento revelando sua unidade. Constituindo assim a regra final na vida da igreja em qualquer matéria relacionada à Fé e ao culto do povo de Deus, bem como regulamentando a prática de vida de cada membro da igreja de Cristo Jesus.







[1] O autor é Ministro da Palavra pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Atualmente é ministro auxiliar na Primeira Igreja Presbiteriana de Teresina – PI. Atuando na Congregação Presbiteriana de Todos os Santos – Teresina – PI.
[2] VOS, Johannes Geerhardus. O Catecismo Maior de Westminster Comentado. Tradução: Marcos Vaconcelos. São Paulo: Editora os Puritanos,  2007, p.36.
[3] RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave Linguística do Novo Testamento Grego. Tradução: Gordon Chow; Júlio Paulo T. Zabateiro. São Paulo: Edições Vida Nova, 1985, p.479.
[4] Apud, SANTOS, Valdeci S. Anotações da Bíblia de Scofield sob uma ótica Reformada. In: FIDES REFORMATA, janeiro – junho, 2000, vol. V, n. 1, pp. 135 – 148.
[5] GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo – Interpretando e Pregando Literatura Bíblica. Tradutor: Edmilson Francisco Ribeiro. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p.211-ênfase dele
[6] SCHWERTLEY, Braian. O Modernismo e a Inerrância Bíblica.  Tradutora: Denise Meister. Recife: Os Puritanos, 2000, p.30-31

segunda-feira, 24 de março de 2014

SÉRIE DE EXPOSIÇÃO BÍBLICA: Romanos 1.5-7:

SÉRIE DE EXPOSIÇÃO BÍBLICA:
Livro Estudado: Romanos
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Texto Bíblico: Romanos 1.5-7:
Vs. 5  -  δι᾽ οὗ ἐλάβομεν χάριν καὶ ἀποστολὴν εἰς ὑπακοὴν πίστεως ἐν πᾶσιν τοῖς ἔθνεσιν, ὑπὲρ τοῦ ὀνόματος αὐτοῦ,
Vs. 5 - Pelo qual recebemos a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu nome,
Vs. 6 - ἐν οἷς ἐστὲ καὶ ὑμεῖς, κλητοὶ Ἰησοῦ χριστοῦ·
Vs. 6 - Entre as quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo.
Vs. 7 - πᾶσιν τοῖς οὖσιν ἐν Ῥώμῃ ἀγαπητοῖς θεοῦ, κλητοῖς ἁγίοις, χάρις ὑμῖν καὶ εἰρήνη ἀπὸ θεοῦ πατρὸς ἡμῶν καὶ κυρίου Ἰησοῦ Χριστοῦ.
 Vs. 7 - A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. (Romanos 1.5-6 ACF  ARA)

INTRODUÇÃO:

            Em nosso último encontro com o apóstolo Paulo podemos observar que nos versos de 3 a 4 deste capítulo ele destacara três elementos importantes sobre o evangelho de Deus! Sim porque este argumento geral de todo o capítulo primeiro de romanos; ele sumarizou nos versos 3 e 4 verdades importantes para a igreja, tais  como naquilo que evangelho se ocupa, ou seja, o  Filho de Deus é o assunto fundamental do evangelho; por isso, a doutrina da encarnação torna-se importante, pois, a mesma nos diz que Deus cumpriu o que prometera desde o Antigo Testamento.
            Mas, agora ele amplia este entendimento de modo interessantíssimo, desenvolvendo quatro ideias: Ele procura mostrar qual é o fundamento do seu chamado apostólico; depois ele prossegue, mostrando-nos o propósito, ou seja, para que ele é apóstolo procurando mostrar a finalidade de seu apostolado; e assim, de modo prático, procura revelar como ele vê os cristãos a quem ele escreve; e por fim, revela-nos seu coração pastoral apresentando-nos seus desejos pastorais em favor da Igreja. Consideremos estas verdades:

I – O FUNDAMENTO DO CHAMADO DE PAULO. [vs.5ª]
            Qual é o fundamento do chamado de Paulo? Qual é  o alicerce?  Onde ele está fundamentado? Vejamos o que Paulo diz:
Pelo qual recebemos a graça e o apostolado”
Está é uma declaração e tanto! Pois, nos revela que o chamado ao ministério não estava ligado às habilidades de Paulo; não estava na indicação de alguém para assumir tal posto, tal vocação, mas primeiro em Cristo, ele mostra que foi por meio de Cristo, note como ele começa “pelo qual”. Aqui certamente o apóstolo completa o sentido do verso 4, revelado que Paulo era o que era por causa de Cristo Jesus.
O que Paulo recebera pela mediação de Cristo? Ele responde “a graça e apostolado”. [ἐλάβομεν χάριν καὶ ἀποστολὴνelabomen charin kai apostolen] isto nos leva para uma consideração importante, Paulo disse que recebeu, por intermédio de Cristo, a graça! Aqui somos ensinados que não obtemos a graça pelo nosso esforço, pela nossa obediência, ou mesmo pelos nossos méritos, não, e não! A graça, o favor imerecido de Deus, nos é dada única e exclusivamente por intermédio do Senhor Jesus Cristo; nada dos santos, das peregrinações, dos sacrifícios nada disso! Tudo nós recebemos por causa de Cristo.
A doutrina da graça de Deus é bem desenvolvida pelo apostolo Paulo em todas as suas epístolas, ele sempre que a menciona a liga a pessoa de Deus e a de seu filho como o faz aqui neste texto que estamos estudando. Ele nos assegura nesta carta que a justificação é pela graça por meio de Cristo Jesus (Romanos 3.24) ouça o que ele diz: “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, (Romanos 3.24 ARA)”. Notem como isso é fundamental no ensino paulino – a graça é um favor imerecido que os homens não merecem, e somente, Cristo pode concedê-la a pecadores, não importa o que os homens façam, o quanto se autossacrifiquem para obter o favor de Deus; a única realidade permitida pelas Escrituras é esta: se não recebermos a graça de Deus mediante o senhor Jesus Cristo estaremos perdido.
Mas, o santo apóstolo não apenas  nos diz que recebeu  a graça mediante Jesus Cristo, ele também informa que ele recebera de Cristo o “apostolado” o que ele está dizendo com isso? Ele está dizendo que ele é o que é por causa de Cristo Jesus, o seu ministério apostólico só existe porque isso ele recebeu do próprio  Cristo, é um dom e chamado do próprio Cristo! Ele fora transformado em uma nova criatura pela graça que recebera de Cristo, e fora transformado em “mensageiro” do evangelho por causa da mediação de Cristo. Ele ressalta sua autoridade apostólica não como algo que ele impõe a igreja, ou como algo que ele conquistara, mas como algo que ele recebera do próprio Cristo. Seu apostolado é um dom que ele recebera do Senhor da igreja!
II – O PROPÓSITO DO CHAMADO APOSTÓLICO DE PAULO [vs. 5b]
            Isto nos leva pra o segundo ponto a ser considerado. Que pode ser avaliado em forma de uma pergunta: em que consiste a sua vocação como apóstolo? Em outras palavras, qual é a finalidade de ser chamado apóstolo? Ele responde aqui no verso 5 de forma muito interessante: “para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu nome”  - note que a tradução adotada por nossa igreja traduziu da seguinte forma “para a obediência por fé” (Romanos 1:5 ARA). Mas a tradução adequada neste caso é  a versão corrigida fiel (ou corrigida) que traduz. “para a obediência da fé” , e por sua vez, reproduz muito bem o grego “εἰς ὑπακοὴν πίστεως ”[eis hypakon pisteôs]. Paulo diz que recebera a graça e ao apostolado para obediência da fé. Ou seja, para chamar as nações à obediência à palavra de Deus!
            E porque isso? Bem, porque a súmula do pecado é a desobediência, é o rejeitar a vontade de Deus, é o não obedecer a Deus! Notem que foi exatamente isso que ocorreu em Gênesis 3 o homem não deu ouvido à palavra de Deus, não creu no que Deus havia dito, no que Deus havia pactuado com ele, então, o pecado entrou neste mundo!Devemos lembrar que o pecado é a rebelião contra Deus. “O pecado é a recusa a ouvir a voz de Deus. O pecado é a pessoa dar as costas para Deus e fazer o que lhe vem à cabeça”. O pecado é isto: a recusa de ouvir a voz de Deus por meio de sua palavra! Notem que o pecado de Adão não foi um adultério, não se tratou de  um roubo, não foi um assassinato, mas foi simplesmente o fato de Adão parar de ouvir voz  a Deus! Ele deixou de obedecer a Deus.
            Então, Paulo aqui neste texto diz que seu apostolado tem como propósito fazer com que outros obedeçam a fé, obedecem a voz de Deus; obediência aqui é ao evangelho de Deus, e Paulo reiteradas vezes mostrará isso, por exemplo, no capítulo 6.17 isso é confirmado: “Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues”. (Romanos 6.17 ARC), Paulo se alegra porque estes crentes obedeceram a forma de doutrina que receberam; e o apóstolo contrasta esta realidade com aqueles que ainda não obedecem ao evangelho no capítulo 10.16 de Romanos: “Mas nem todos obedecem ao evangelho[...]” (Romanos 10:16 ARC).
            Paulo aqui nos ensina que o seu apostolado tem como objetivo chamar as nações para obediência da fé, sob o nome de Cristo. Obedecer ao Evangelho significa crer em Cristo Jesus. Você não deve crer em Cristo para obter alguma ajuda, não, você deve crer no Senhor Jesus porque é uma ordem! É uma ordem de Deus. Crer no Evangelho é está submetido ao nome de Cristo. Paulo relembra isso aos crentes de Roma que foram chamados para a obediência ao evangelho de Deus.
III – A DESCRIÇÃO DESTES QUE SÃO CHAMADOS PARA A OBEDIÊNCIA DA FÉ [ vs 6-7a] .
            Isto nos conduz para o nosso terceiro ponto a ser considerado, é que depois, de  Paulo apresentar tudo isso, ele procura apresentar uma descrição daqueles que são chamados para a obediência por fé, neste caso, os crentes da igreja de Roma. Paulo diz: “Entre as quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo”. (Romanos 1.6 ACF).
            O apóstolo após mostrar que seu apostolado visava chamar pessoas de várias nações à obediência da fé; ele assegura que os crentes de Roma eram uma destas nações; pois, eles foram alvos do chamado de Deus a doutrina básica aqui é a vocação eficaz de Deus, eles foram chamados não para viverem em si mesmos, mas para “serdes de Jesus Cristo”  - Deus nos chama para sermos escravos de Cristo! Esta é a implicação disso.
            O cristão é alguém que pertence a Jesus Cristo, fomos chamados para ele, estamos unidos a ele, isso é ser cristão; é ser obediente a Cristo Jesus. Aqui está a diferença que o mundo precisa ver nos crentes! É que cada crente é por si só um servo de Cristo Jesus. Mas, surge uma pergunta: como alguém chega a este estado? Como alguém passa a pertencer a Jesus Cristo? Na primeira parte do verso 7 Paulo nos oferece uma resposta: “A todos os que estais em Roma” (Romanos 1:7 ACF) – ele assegura aqui que está se dirigindo aos crentes daquela igreja especifica, mas ele continua: “amados de Deus, chamados santos” – chamo sua atenção para um fato, que aparece na tradução adotada por nossa igreja, é que mais uma vez os tradutores inseriram palavra “serdes” que não está no original grego. Bem, como alguém passa a pertencer ao Senhor Jesus?
            Paulo nos diz que primeiro, o homem precisa ser “amado por Deus” – ele se dirige aqueles crentes e diz que a razão para que eles pertençam a Cristo, está no fato de que eles são “amados por Deus pai” – pense agora em Roma, uma cidade marcada pelos mais terríveis pecados, uma sociedade pagã, um povo sem Deus, e agora aquele grupo não tem mais a culpa de tais pecados sobre suas costas; como tudo isso ocorreu; o que os levou a mudar de vida? Paulo diz: “O amor de Deus!”. “Amados de Deus” – por isso eles são o que são. É o amor de Deus que nos traz para Cristo, é o amor divino que nos faz pertencer ao senhor Jesus.
            O amor de Deus liberta o homem do pecado. Paulo reitera esta verdade em Efésios 2.1-4: “E VOS vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,”
            O que nos faz sair do mundo não é o nosso caráter, nem a  nossa decisão, não é o nosso livre-arbítrio é seguramente o amor de Deus! Aquela igreja só existe porque o Deus eterno colocou o seu amor sobre cada um de seus eleitos.
            A segunda verdade sobre como alguém pode vim a pertencer ao Senhor Jesus Cristo, está ligado a ser chamado por Deus. Paulo introduz esta verdade aqui no verso 7 “chamados...” ninguém vem porque quer, ninguém vem por que precisa, mas só vem aqueles a quem Deus chama. Cristo nos diz que “muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”[Mateus 22.14] . O chamado eficaz se dirige aos eleitos, e exatamente este o caso aqui no texto. Além de ser um chamado redentivo de Deus,  é também um chamado para a santidade.
            Os crentes são chamados de santos o termo grego usado por Paulo aqui [ἁγίοις· - hagios] significa separado do mundo e consagrado para Deus. Ou seja, significa devemos está separado do mundo, não nutrir nenhuma paixão com o mundo, não sermos seduzidos com e pelo mundo! É exatamente isso, lembre-se que você foi chamado para ser de Jesus de Cristo, para fazer a vontade dele, para satisfazer o que ele deseja; e não a sua vontade ou os seus desejos ímpios e pecaminosos. Devemos “ser separados de tudo o que nos separa de Deus”.
            Somos separados para Deus! Lembre-se disso, sua vida visa à glória de Deus, esse é o objetivo de sua existência! Foi para isto que Deus te colocou neste mundo, então devemos viver como santos neste mundo.
IV – OS DESEJOS PASTORAIS DE PAULO PARA COM A IGREJA. [VS.7b]
            E, isto nos conduz para o último ponto a ser observado nesta noite. É o fato de que Paulo mostrar seu coração pastoral para com a igreja por meio de desejos santos para com a igreja do Senhor Jesus que se encontrava em Roma. Paulo nos diz: “Graça e paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.” (Rom 1:7 ARC). 
            O apóstolo Paulo deseja para a Igreja de Roma a graça de Deus – este favor imerecido deve estar permeando a vida da igreja como um todo; a igreja deve ser vista sempre como alvo do favor de Deus, é isso que Paulo relembra aos seus leitores, mas ao mesmo tempo nos instrui que na vida da igreja deve haver também paz, a despeito de todo o conflito, de toda a lutar no meio e fora da igreja; seus membros devem preservar e vivenciar esta paz, mas observe não é uma paz provocada pela força humana, pelos grandes empreendimentos ecumênicos, não pelo contrário, é uma paz que tem sua origem em Deus pai.
            A igreja não é órfã, a igreja tem um pai que é Deus! Paulo relembra a igreja doutrina da paternidade de Deus, os membros da igreja são filhos de Deus, são amados por ele, recebem a graça dele  juntamente com  a paz que excede a todo entendimento! Todavia, Paulo não termina por ai, ele revela que estas bênçãos que ele deseja sobre a vida da igreja {a graça e a paz} também procedem do Senhor Jesus Cristo. Ele é o Senhor da Igreja é dele que jorra a graça e a paz que a igreja precisa.
Aplicação: Diante disso que verdades nós podemos aprender deste trecho da Palavra de Deus?
1. Que a graça de Deus é o alicerce de toda a nossa vida cristã: se for a graça de Deus nos sustentando conferindo significado à nossa vida, tudo seria fracasso! No ministério é a graça de Deus é o nosso fundamento, é o nosso alicerce! Pois, sem a graça nosso ministério, nosso chamado sucumbiria!
2. Como crentes fomos chamados para levar outros à obediência: é nosso dever de fato obedecer ao evangelho e ao mesmo tempo procurar levar outros a se renderem aos pés de Cristo.
3. A certeza do amor de Deus nos leva a compreensão de somos servos de Cristo Jesus: sabemos que Deus ao nos escolher demonstrou amor para conosco, por isso, devemos ser obedientes a Cristo.



sábado, 22 de março de 2014

O PROPÓSITO DA VIDA - CATECISMO MAIOR PERGUNTA 1

REFLEXÕES NO CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.[1]

Pergunta 1: Qual é o fim supremo e principal do homem?
Resposta: O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo plena e eternamente.

Introdução:
Quando olho para esta questão do catecismo fico boquiaberto com tamanha simplicidade da resposta, e com a profundidade teológica expressa nestas palavras.
            Esta questão é basilar até mesmo em igrejas que não são confessionais, mas que tentam levar o evangelho de forma séria. Muitos teólogos concordam com esta declaração do nosso catecismo, isto devido ao fato de que o que se enuncia aqui é um princípio imperecível.
            Para que fomos criados? Essa é a real questão do homem. Muitos homens e mulheres nunca se pegam pesando nisso, na verdade não ponderam sobre este assunto. Qual o propósito de nossa existência.?
            Algumas respostas foram sugeridas ao longo dos séculos. Alguns dizem que o propósito de nossa existência está no viver para alcançamos a perfeição por meio de diversas re-encarnações – esta é a proposta do espiritismo conforme conhecemos; outros dizem que estamos aqui para vivermos conforme o destino nos traçou – esta é a proposta do determinismo fatalista; e ainda, há os que dizem que a nossa vida não tem propósito porque ela finda na sepultura – o que chamamos de materialismo. Todas elas são interessantes, mas não suprem as necessidades da alma humana.
            Outro fato que nos chama a atenção é que o nosso catecismo não pergunta de onde viemos? As perguntas sugeridas pela filosofia e biologia não tem razão para o nosso catecismo. Mas a questão é para que viemos a existência? A resposta oferecida pelo catecismo é simples – A glória de Deus é a razão de nossa existência, ou seja, fomos criados para sua glória. Isso sumariza tudo que somos e porque somos. Mas para os nossos propósitos nesta aula vamos tentar trabalhar os conceitos que estão inseridos nesta primeira questão de nosso catecismo.


I – A REALIDADE DO PROPÓSITO.

            Tudo o que fazemos na esfera humana tem um objetivo. Nada o que fazemos é desprovido de propósito ou objetivo. Não é diferente com Deus. Desde a história da redenção Deus faz as coisas com um objetivo. Basta olharmos para a criação. Ele cria os luminares para governar. O sol o dia; a lua a noite – tudo Deus fez com propósitos definidos(Gn.1.14-18);ao trazer a mulher à existência Deus tinha como propósito afugentar a solidão do homem (Gn.2.18).
            O homem não está no teatro de Deus – na história – com algo sem algum propósito, mas, está para Ter um propósito singular; por que dizemos isso? É o fato singular de o homem ser a única criatura no mundo a carregar a Imago Dei ( Imagem de Deus) conforme diz Gênesis 2.26-27. Isso sempre deixou-me pensativo. Ora se fomos criados à imagem de Deus, então, temos algum propósito neste mundo. A realidade do propósito é inegável. Este é assunto que não temos como fugir algo dentro de nós sussurra baixinho dizendo: “Você foi criado para realizar algo”. E vezes por vezes fugimos dessa voz – que é a ação sobrenatural do Espírito Santo – procuramos viver a nossa vida longe desse propósito. Uma vida que não tem objetivo deve ser chamada de vida??? Penso que não. É aqui que erramos, sabemos que temos um objetivo e fugimos dele – somos como Jonas – e sempre tentamos enganar a providência divina dizendo que ela não existe, ou mesmo, que Deus não está lá. Fazemos o mundo tornar-se amoral para que a idéia de propósito seja irrelevante para nós, se há moralidade, então, deve haver algum propósito para assim ser. Não posso negar isso. O nosso catecismo deixa claro que o homem foi criado com um propósito.

II – CARACTERÍSTICAS DESTE PROPÓSITO.

            O nosso catecismo sugere que este propósito tem duas características fundamentais, ou que pelo menos, deve ser visto desta forma. Isso é deveras importante, pois, tais características mostram a singularidade deste propósito.
1.      É um propósito Supremo: Isso é muito importante para cada um de nós. Se considerarmos apropriadamente este assunto iremos Ter um grande beneficio disso. O que significa a palavra supremo? Esta palavra nós sempre usamos em nossos sermonários, mas quando olhamos para esta pergunta do catecismo temos medo até de pronunciá-la: S – U – P – R – E – M – O , realmente é uma palavra que assusta. Todavia, é uma palavra que significa: “Superior a tudo em seu gênero” penso que esta definição cabe muito bem neste assunto, pois, estamos falando, não da supremacia de Deus, mas, em um certo sentido, da supremacia do homem. Há vários propósitos nos quais podemos viver – um casamento, um emprego, um bom ministério, bons filhos, riquezas etc... mas eles não devem ser supremos. Pois só existe um que é supremo. Este é o único momento em que o homem de fato é supremo!!! Não mais do que isto. Todos os demais são secundários, mas esse deve de fato Ter a supremacia – reinar sobre os demais – Deus conferiu isso ao homem – querendo ou não homem deve fazê-lo como deve ser, caso contrário sofrerá as conseqüências. Esta característica está baseada no fato de que homem foi criado como vice-regente da criação (Gn.1.27-30). Então, o propósito do homem neste mundo deve ser supremo – o para que ele foi criado deve ocupar o lugar de soberania. Este propósito não pode ser destronado e nem corrompido este é o ponto.
2.      É um Propósito principal: Prioridade. Esta é a palavra! O catecismo diz que “o fim (propósito) supremo e principal” – ele deve ser não só um propósito supremo, mas deve também ser sempre o primeiro e nunca o último! Nós sempre invertemos. Sempre pegamos o primeiro e colocamos por último, alguém dirá, mas isso é normal, isso é humano – não! Isso não é natural e nem humano é uma conseqüência da queda! Deus exige de nós prioridades e o propósito para qual Ele nos criou exige isso de nós. Se não pode ser o primeiro é melhor que não seja o último! Poderemos ter o propósito de passar no vestibular, em um concurso para melhorarmos de vida, mas isso é secundário – precisamos do principal. Precisamos da prioridade singular. Sem essa concepção sempre viveremos fazendo distinções indevidas e assim estaremos fugindo do real propósito para o qual fomos de fato criados.

III – A NATUREZA DO PROPÓSITO.
            Até o presente momento temos discutido a questão da realidade e características do propósito. Mas qual é a natureza dessa propósito? No que ele de fato consiste? O nosso catecismo diz: “O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo plena e eternamente”.
            O propósito consiste em o homem “glorificar a Deus”, esta expressão hoje também me assusta, pois, em nossa época se tem praticado muita coisa no âmbito de culto com a desculpa de que tal coisa no culto tem como finalidade glorificar a Deus, por outro, lado se tem tirado do púlpito o autêntico ensino sobre este assunto.
            Alguns crentes têm perguntado: Como eu glorifico a Deus? Penso que a pergunta é proveitosa, mas não abarca toda a questão sobre este assunto. A real pergunta seria: “Quando eu glorifico a Deus?”, ou ainda “onde eu glorifico a Deus?” Todas elas parecem perguntas bem parecidas, mas não são. Pois, todas focalizam um ponto da questão, mas penso que as duas últimas sumarizam todo o ensino sobre isso. Penso que muito já se foi dito sobre “Como eu glorifico a Deus?” E por isso, não me demorarei em responder esta questão. Mas gostaria de começar analisando a natureza do propósito com uma questão: “Onde eu glorifico a Deus?”
            Alguns de vocês poderão dizer que na igreja. Esta é uma boa resposta. Mas você foi criado para glorificar a Deus apenas na igreja? E os outros lugares? Na escola, na faculdade, no trabalho o que você faz lá. Deixe-me tentar ajudá-lo nesta questão. Na escola você vive para fazer amigos para estudar e ser algum candidato ou candidata para uma universidade de renome, então, quando chega ao Domingo você está pronto para glorificar a Deus na igreja.
            Na igreja você deve orar a Deus, mas não em casa, isso porque na igreja você de fato glorifica a Deus! Essa visão é muito linda, romântica, mas está inevitavelmente errada! Na verdade isso é um perigo porque você está de alguma forma corrompendo o propósito para qual você foi criado. Sua vida, note o que estou dizendo, sua vida essa única vida que tens foi trazida à existência para glorificar a Deus.
            Isso nos leva a Segunda pergunta: “Quando glorificamos a Deus?” Você pode não gostar da resposta, mas você glorifica a Deus exatamente onde acha que não o faz. Quando estuda para fazer a melhor prova, quando namora, quando faz amor com sua esposa, quando almoça, quando toma água, quando toma vinho ou mesmo cerveja, quando faz amizades sinceras, quando dar um beijo de boa noite no seu filho, quando pede a benção do pai e da mãe, quando diz a verdade, quando trabalha, quando diz não! àquela secretária que não é a sua esposa, quando escuta uma música seja ela “evangélica” ou “não”, quando vai ao teatro, ao cinema, ao shopping, à praia.
            Talvez você esteja com uma enorme interrogação no rosto. Como isso é possível? Eu sempre aprendi que os crentes devem ouvir somente músicas de crentes, pois, elas glorificam a Deus! Ou mesmo, estejas dizendo consigo mesmo não concordo com isso! Bem, se você olhasse um pouco na história da igreja iria descobrir fatos interessantes. E saberia que a distinção entre o sagrado e profano, entre natureza e graça é uma doutrina católica romana, e infelizmente o evangelicalismo moderno assumiu essa leitura e quer que cada crente seja obrigado a aceitá-la. Na concepção da reforma não existe esta distinção. Tudo glorifica a Deus.  1 Coríntios 10.31 declara que exatamente isso.  O seu trabalho, o seu estudo, a sua vida marital, o seus relacionamentos tudo é para a glória de Deus, e deve ser feito pensando neste objetivo.
            Sabe onde está o problema? Está  no fato de que nós corrompemos o propósito para o qual fomos criados. Olhe os homens do mundo, quem deu a eles a capacidade para produzir uma boa música – não me venha dizer que foi o diabo – pois não existe nenhuma evidência bíblica para isso – a resposta é que apenas Deus concede dons para os homens! O problema é que os homens corrompem estes dons e consequentemente o propósito – é notório pois que quando existe na musicalidade moderna apologia ao sexo livre, à imoralidade, apologia ao homossexualismo isso não torna a música ( de forma geral ) pecaminosa, mas me diz o que o pecado fez com a raça humana! Me diz que o homem corrompeu o propósito para o qual foi criado – aquela música não está glorificando a Deus ( não falo no sentido de falar sobre Deus, mas no sentido  de que o criador não tem prazer nela, isso porque ela contradiz todos os preceitos da Lei de Deus ), mas está destruindo o objetivo para qual foi criada! E este tipo de música deve ser rejeitada.
            Não posso aceitar a separação entre natureza e graça que a igreja abraçou, e, ainda não posso aceitar a idéia de que nós como igreja fiel deva ceder a esta concepção, isto porque ela não é bíblica e não tem apoio na história da reforma. Essa doutrina é tipicamente católica romana.         Então, sumarizando esse aspecto da resposta do nosso catecismo podemos dizer que glorificamos a Deus em todos os âmbitos de nossa vida, e não há necessidade de negociarmos a Lei de Deus quando temos esta concepção. Não pulo a catraca de um ônibus não somente porque é um pecado contra o oitavo mandamento, mas porque  fazê-lo não glorifica a Deus em primeiro lugar e este deve ser o objetivo soberano de minha vida!

IV – A MANEIRA DE VIVER O PROPÓSITO.

            Diante do que já expomos surge uma nova pergunta: de que maneira devemos viver este propósito? O catecismo nos responde dizendo que devemos “gozar a Deus plena e eternamente”. O que isto significa? Significa que a maneira como devemos viver o propósito para qual fomos criados, que é glorificar a Deus, é nos deleitando em Deus. Ter prazer nele!
            Isto significa que guando estivermos estudando, trabalhando e curtindo a vida da forma mais agradável possível possamos nos derramar em Deus. Gozá-lo tem esta conotação aqui na questão do nosso catecismo. Encontrar em Deus o deleite para nossa alma.
            A maneira de viver este propósito de glorificar a Deus é tendo segurança em Deus: confiança nele somente. Descansar nele nos momentos de crises, e confiar nele quando tudo pode não ter solução isto de fato glorifica a Deus. Isso significa gozá-lo. Desfrutar de comunhão com Ele, é profundamente singular ao nosso propósito de glorificá-lo. Essa concepção nos garante segurança de vida eterna. E, nos lembra que não fomos feitos para morrer distantes dele.
            Qual é a profundidade desse deleitar-se em Deus? O catecismo diz que deve ser de forma plena – deve ser algo sem medida – toda a plenitude. Gozar a Deus de forma plena. Nesta vida aqui vivemos para glorificar a Deus quando a fé exige mais de nós! A plenitude disso se revela na comunhão que temos com ele. E esta comunhão reflete o nosso relacionamento com Cristo (Jo.17.22-24). Gozar a Deus de forma plena envolve uma vida cheia de paz com Deus (Rom.5.1) e o reconhecimento que a Glória é dele e que tudo foi criado para ele desde toda a eternidade (Rm.11.36)
            Qual é o tempo? Até quando deve durar esse deleitar-se em Deus? A Resposta do nosso catecismo é: “Eternamente”. Isto nos fala que essa comunhão com Deus, e este deleitar-se com Deus rompe as esferas físicas e emocionais; ela dura por toda a eternidade, e tal concepção, só nos traz paz ao coração e profunda segurança em Deus. Pois ele nos recebe na glória e, ainda, é a nossa única herança (Sl.73.24-26).

Conclusão: Precisamos resgatar a nossa visão do propósito para o qual fomos de fato criados. A glória de Deus! Você está aqui porque Deus quer que a sua vida o glorifique. Não adianta correr desse propósito.
            E o que você tem feito com os dons que Deus te deu tens usado para de forma correta glorificai-lo ou tens corrompido o seu propósito. Você tem vivido para glorificar a Deus? Tens prazer em Deus, e assim, o tens glorificado? Ou será que já fostes influenciado e iludido por aquela visão de que a tua vida não tem significado algum?
            Gostaria de deixar algumas aplicações sobre este assunto.
1.      Entenda que glorificar a Deus é objetivo soberano de sua existência.
2.      Nunca deixe que outras coisas assumam a prioridade no objetivo para qual fostes criado.
3.      Rejeite a distinção entre natureza e graça. Pois ela não tem base na Bíblia e assuma que tudo que você faz glorifica Deus
4.      Nunca deixe de deleitar-se em Deus mesmo em situações que não lhe pareçam favoráveis.









[1] O autor é Ministro da Palavra pela Igreja Presbiteriana do Brasil. 

quinta-feira, 20 de março de 2014

Romanos 1.3-4.

SÉRIE DE EXPOSIÇÃO BÍBLICA:
Livro Estudado: Romanos
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Texto Bíblico: Romanos 1.3-4.
  Romans 1:3 περὶ τοῦ υἱοῦ αὐτοῦ, τοῦ γενομένου ἐκ σπέρματος Δαυὶδ κατὰ σάρκα,

ARA  Romans 1:3 com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi

BYZ  Romans 1:4 τοῦ ὁρισθέντος υἱοῦ θεοῦ ἐν δυνάμει, κατὰ πνεῦμα ἁγιωσύνης, ἐξ ἀναστάσεως νεκρῶν, Ἰησοῦ χριστοῦ τοῦ κυρίου ἡμῶν,

ARA  Romans 1:4 e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor,

INTRODUÇÃO:
            Após o apóstolo Paulo discutir sobre a natureza do evangelho que ele anunciara, ao revelar que o evangelho de Deus é uma mensagem outrora prometida por Deus, através dos Santos profetas e encerrado nas páginas das Sagradas Escrituras. ele agora procura mostrar do que este evangelho se ocupa. Qual é o assunto deste evangelho, e ao tratar disto revela grandes verdades a respeito do Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ele oferece uma cabal defesa sobre o Evangelho de Deus.
            Paulo como apóstolo e servo de Cristo procura apresentar de modo cristalino as verdades do evangelho de Deus.
I – O ASSUNTO DO EVANGELHO.
            Olhando para esta passagem compete-nos a perguntar: qual é o assunto do evangelho? Ora, este evangelho da promessa que fora anunciado pelos santos profetas e que encontra-se nas Escrituras – trata de que? Qual é o assunto deste evangelho? O apóstolo no verso 3 inicia com as seguintes palavras: “com respeito a seu Filho”. Aqui somos informados que o evangelho se ocupa com o Filho de Deus.
            Isso por si só é o coração do evangelho. Cristo, o Filho de Deus, é o assunto e a mensagem do evangelho de Deus! Paulo nos diz no grego “περὶ τοῦ υἱοῦ αὐτοῦ”[ Peri tou hiou autou] – com respeito, acerca do seu Filho.  Os cristãos primitivos apresentavam o Evangelho de Deus e o assunto deste evangelho sempre foi o bendito Filho de Deus. A mensagem da Igreja na proclamação é sobre o Filho de Deus, que se removermos o Senhor Jesus do Cristianismo não haverá mensagem Cristã. Não haverá evangelho para ser pregado! “As boas-novas consistem nesta Pessoa, no que Cristo veio fazer e no que ele fez e consumou”.
            Se nós estudarmos a história da igreja veremos, por exemplo, em Atos 13 que o apóstolo Paulo que ao viajar  por Antioquia e pala Pisídia, ele pregava acerca da Pessoa de Cristo aos homens, ele não pregava um simples sermão, ele pregava sobre a Pessoa que era a substância de sua mensagem! No Capítulo 2 de Atos temos Pedro anunciando a Jesus aos homens naquele lugar. O Evangelho de Deus é acerca do Senhor Jesus Cristo, dele e de ninguém mais.
            Mas note, o texto diz “acerca do seu Filho” – O Filho de Deus! Ou seja, ele é o Eterno Filho de Deus. Tem a mesma substância, da mesma natureza que o seu Pai. Ele não é um homem que adquiriu o status de divindade.
II – O EVANGELHO ENTRE OS HOMENS.
            Isso nos leva para o nosso segundo ponto nesta noite. O Filho de Deus não ficou na eternidade, ele veio habitar entre os homens, veio cumprir a promessa outrora pronunciada pelos Santos profetas, anunciada pelo próprio Deus. E Paulo de forma condensada diz exatamente isso “o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi” (τοῦ γενομένου ἐκ σπέρματος Δαυὶδ κατὰ σάρκα) – gostaria de chamar a sua atenção para o verbo “veio” na língua original a palavra usada aqui é “γενομένου”[genomenou] que pode ser traduzida da seguinte forma: “foi feito”, “tornou-se”, “começou a ser”. A tradução da expressão poderia ser “foi feito da semente de Davi, segundo a carne”.
            Notem, aqui temos uma verdade. Ele antes não era da semente de Davi, ele estava na eternidade com Pai, mas no tempo ele tornou-se da semente de Davi. Ele veio a este mundo nascido de mulher, como Paulo diz em outro lugar “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,” (Gal 4:4 ARA). Paulo em Filipenses capítulo 2 nos diz: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,  (Filipenses 2.5-7 ARA).
            O Evangelho de Deus esteve entre os homens ele se fez carne “e habitou entre nós” (João 1.14). Isso nos fala que Deus veio até nós! Jesus Cristo o Filho de Deus, que veio da descendência de Davi!
III – A DEIDADE DO FILHO DE DEUS NO EVANGELHO.
BYZ  Romans 1:4 τοῦ ὁρισθέντος υἱοῦ θεοῦ ἐν δυνάμει, κατὰ πνεῦμα ἁγιωσύνης, ἐξ ἀναστάσεως νεκρῶν, Ἰησοῦ χριστοῦ τοῦ κυρίου ἡμῶν,

ARA  Romans 1:4 e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor,

            A terceira verdade que esta passagem tem a nos informa é sobre a Deidade do Filho de Deus. Ora, temos visto que o Filho de Deus é o assunto do evangelho, temos observado que este Evangelho é revalado entre os homens por meio da encarnação do Filho de Deus que veio habitar entre os mortais!
            Então, surge uma pergunta: como saber se tudo isso é verdade? Paulo responde a esta indagação em termos de uma declaração. Ele diz: “e foi designado Filho de Deus” –  a nossa tradução não reproduz com fidelidade o termo grego “τοῦ ὁρισθέντος” [tou horisthentos] – que significa “declarado”, também pode ser traduzido por “provado”, a tradução do versículo pode ser “e foi provado que ele é o Filho de Deus com poder”.
            E o que isso significa? O que significa que ele foi “declarado” Filho de Deus com “poder”? Observem essa palavra “poder” (δυνάμει)  - dynamei – ela aponta para uma verdade importante´, que o poder do Senhor Jesus manifestou-se em um estágio de sua existência.
            Ele declarou que este “poder” ele recebera da parte do pai (João 17.2 – “assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. ”) – e por fim, temos o texto que o Senhor declara ter recebido toda autoridade = poder; isto, depois de sua ressurreição (Mateus 28.18) – Cristo nos dias de sua carne era fraco, por assim dizer, vivendo no colo de uma mortal, um infante na terra, não notado pelos homens, não percebido pelos mortais, mas agora depois de sua ressurreição sim certamente ele é percebido, porque levanta dentro os mortos com poder e glória!.
            Mas, ele é declarado “Filho de Deus” segundo “o espírito de Santidade” – mostra a santidade Cristo como ponto claro da declaração de ser ele o Filho de Deus. Ele é o Santo e Eterno Filho de Deus é assim que ele sobre foi chamado nas Escrituras. Ele é o primogênito entre os mortos, ele é o filho de Deus declarado, ele venceu a morte, isso implica que todos os crentes irão ressuscitar para a vida eterna; e os ímpios para a vergonha eterna.

Aplicação:
1. Como igreja devemos nos ocupar com o Filho de Deus: o nosso assunto, a nossa conversação, a nossa vida deve ser sempre centralizada na pessoa bendita de Cristo Jesus. É triste nota como as pessoas tem transformado o evangelho e o cristianismo é uma forma mais elaborada pra ter uma vida mundana! Por isso, muito do evangelicalismo de hoje não ensina que o assunto primordial do evangelho é o Senhor Jesus Cristo.
2. A doutrina da encarnação é vital para a vida do crente: Nesta porção da palavra de Deus somos exortados e perceber que doutrinas são importantes, e principalmente a doutrina da encarnação do Filho de Deus, pois, ele habitou entre os homens para salvá-los, para libertá-los de sua pecaminosidade. Deus conosco é ensino fundamental da doutrina de que Cristo se fez homem.

3. A necessidade de nosso redentor ser Deus encarnado: O evangelho mostra-nos a necessidade de que o nosso Salvador ser Deus, o Deus que se humanizou, vou até nós, que fora declarado Filho de Deus como poder, um poder que poder abrir as nossas tumbas espirituais e nos trazer para a vida! E, assim, assegurar-nos que no último dia nosso corpos serão redimidos da corrupção.