quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

OS PERIGOS DE UMA VIDA NÃO OBEDIENTE

Exposição Bíblica: 1ª Coríntios 10.1-13.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
OS PERIGOS DE UMA VIDA NÃO OBEDIENTE
Introdução:
            Paulo após discorrer sobre o tema dos direitos apostólicos e a liberdade cristã. Apresentando símiles singulares, agora ele oferece exemplos específicos para fundamentar tudo o que tem ensinado até o presente momento. Pois, os irmãos da igreja ainda continuavam ignorando todo o ensino de Paulo, mantendo-se rebeldes para com a doutrina apostólica. Então, procura apresentar aos seus ouvintes as consequências da desobediência ao ensino do evangelho. E assim ele sumariza os perigos que uma vida não obediente a Deus.
I – O PERIGO DA AUTOSSUFICIÊNCIA (VS.1-6).
            Não existe algo mais terrível na vida da igreja do que a autossuficiência. Paulo percebe na vida da igreja de Corinto que seus membros, a despeito de toda exortação, continuavam não aceitando a correção apostólica no que tange ao trato com os lideres espirituais, bem como em relação ao irmão mais fraco.
Vs. 1 – aqui neste verso o apóstolo procura mostrar a Igreja que ignorância deles os tem levado para um caminho sem volta “Οὐ θέλω δὲ ὑμᾶς ἀγνοεῖν (1Co 10:1 BYZ)” (ou thelô dê hymas agnoein) – não desejo que continueis ignorando. Não ignorando o que? Que a autossuficiência consiste em um grande perigo para alma. Ele mostra isso apresentando os exemplos dos pais do povo do Antigo Testamento. Ele apresenta as figuras do antigo Testamento para indicar a autossuficiência de muitos crentes do AT.
vs.1b-4: que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés. Todos eles comeram de um só manjar espiritual e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo.
            A figura da nuvem que aparece no texto, refere-se a nuvem que seguia aos israelitas durante toda a peregrinação no deserto, que os protegia sempre.(Êxodo 13.21 – “O SENHOR ia adiante deles, durante o dia, numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho; durante a noite, numa coluna de fogo, para os alumiar, a fim de que caminhassem de dia e de noite.)”. Estar sob a nuvem era estar debaixo da proteção de Deus.
            O segundo exemplo é a atravessia do mar vermelho que todos nós conhecemos. Ele transpassar essas duas figuras como sinais para o sacramento do batismo conforme vemos aqui: “tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés. (1Co 10:2 ARA)” – ser batizado com respeito a Moisés aqui no texto significa estar sob a liderança de Moisés. Tanto a nuvem quanto a atravessia do Mar Vermelho apontam para a obra redentora de Deus que é simbolizada no sacramento do Batismo.
            O terceiro exemplo que Paulo cita é o do Maná no deserto que era o alimento do povo do Antigo Testamento – nutrição do povo pactual, o apóstolo aqui oferece uma significância espiritual deste elemento que indica o sacramento da Santa Caia do Senhor “Todos eles comeram de um só manjar espiritual (1Co 10:3 ARA)” – ou seja, o elemento da subsistência do povo no AT era tipo daquela nutrição que os membros da igreja  precisam para sua vida espiritual.
            O ultimo exemplo é o da rocha ferida de Meribá conforme lemos em Êxodo 17.6. Onde Paulo claramente indica que a pedra era Cristo (1ª Coríntios 10.4). Estes são sinais da providência de Deus no meio do povo, e por isso, muitos se julgam autosseguros diante de Deus, porque viram o presenciaram a benevolência de Deus. Ou porque são membros da igreja, batizados, alimentam-se de Cristo – mas suas vidas não são agradáveis aos olhos do Senhor. Por isso Paulo alerta que Deus não se agradou de muitos deles, e por essa razão muitos foram derrotados no deserto (1ª Coríntios 10.5); e ainda o apóstolo exorta que tais exemplos servem para nós igreja de Cristo. Estar filiado a Igreja mas negligenciar o evangelho é pedir a condenação sobre a nossas cabeças (!ª Coríntios 10.6).
II – O PERIGO DA IDOLATIRA (VS. 7-10)
            O segundo perigo de uma vida não obediente a Deus é o da idolatria. Isto é percebido aqui neste trecho. Paulo continua exortando a igreja de forma interessante, mais uma vez ele vale-se de um episódio ocorrido no Antigo Testamento para mostrar a rebeldia dos coríntios.
            Paulo cita o caso do Bezerro de ouro de Êxodo 32. Onde o povo fez um ídolo para substituir ao Deus do pacto, por isso, Paulo exorta para que estes crentes neotestamentários não faça o mesmo indo aos templos pagãos e fazer parte de tamanho ultraje, no que tange a adoração dos ídolos e do uso de festivais de orgias e glutonarias (vs.7-8).
            O outro exemplo, extraído do Antigo Testamento é das murmuração dos israelitas no deserto; e o resultado que tiveram foram as picadas das serpentes, este fato conforme nós sabemos encontra-se registrado em Números 21.4-6. Notemos que a falta de paciência do povo do pacto trouxe destruição sobre eles. Paulo exorta a igreja que não haja de igual modo para com o senhor. (vs.9-10)
III – O PERIGO DE NÃO SER PACIENTE COM A PROVIDÊNCIA DE DEUS.  (VS.11-13)
11 Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado.
 12 Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.
 13 Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar.
            Paulo termina essa seção das Escrituras mostrando todas estas coisas foram postas como exemplos e escritas para a advertência para a igreja, pois, não aprender a confiar e ser paciente para com a providência de Deus pode acarretar juízos divinos terríveis. (vs 11). Por isso, o apóstolo exorta aqueles se acham seguros de mais (vs.12) recomendando-os a diligência no procedimento de vida. E encorajando os crentes a saber que Deus nãos nos prova além de nossas forças, porque no meio da provação ele providenciará  livramento a ponto de suportar toda e qualquer tentação ou provação (vs 13). Pois, é a providência de Deus quem nos matem de pé e não  a nossa autossuficiência.





sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Exposição Bíblica Texto: 1ª Coríntios 9.

Exposição Bíblica
Texto: 1ª Coríntios 9.
Pr. João Ricardo Ferreira de França.*
Introdução:
             O apóstolo após discutir o tema da liberdade cristã. Ele procura agora colocar em alto relevo aquilo que acabara de ensinar – não fazer nada que venha a trazer escândalo no uso de sua liberdade, todavia, aqui ele tenciona mostra a ingratidão e a falta de senso dos coríntios em relação ao seu ministério.
I – OS DIREITOS APOSTÓLICOS VIOLADOS [VS.1-12]
            Paulo mesmo colocando as questões no que tange a liberdade cristã como fizera no capítulo 8, ele encontra-se agora com os seus direitos apostólicos violados. vejamos:
“Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor? Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor”.(1ª Coríntios 9.1-2)
            Paulo assegura que restringe o uso de sua liberdade em favor da igreja. Todavia, alguns dos falsos mestres que estavam inseridos na igreja alegavam ser Paulo um falso apóstolo. O direito apostólico foi violado quando aqueles crentes passaram a não aceitar a autoridade de Paulo.
            O apóstolo ratifica seu apostolado ao dizer “não vi Jesus, nosso Senhor?” – uma testemunha ocular era o critério para exercer o apostolado, ainda que Paulo não tenha convivido pessoalmente com o Senhor Jesus, o próprio Cristo lhe apareceu por revelação pessoal ao apóstolo; no verso 2 deste texto Paulo assegura que ainda que alguns injuriosos não lhe aceitassem como apóstolo ele volta-se para igreja e diz: “certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor”. – se a igreja negava-se a aceitar a autoridade apostólica de Paulo estava desfazendo-se a si mesma, uma vez que ela fora fundada pelos esforços apostólicos de Paulo.
3 A minha defesa perante os que me interpelam é esta: 4 não temos nós o direito de comer e beber?  5 E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? 6 Ou somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?
 (1Co 9:3-6 ARA)
            Os  que questionavam a autoridade do apóstolo o privavam das questões mais elementares da vida – como comer e beber [vs.3-4]; de igual modo, assim quando a igreja procura não sustentar seus ministros ele se vê impossibilitado de constituir família [vs 5] – aqui neste verso Paulo mostra que é honrado ao ministro estar em matrimônio, embora ele não seja casado. Os demais apóstolos bem como os irmãos do senhor tinham esse direito, mas a Paulo lhe era violado tal direito. No verso 6 Paulo questiona por que somente ele e seu companheiro Barnabé eram os únicos que deveriam trabalhar para se autossustentarem?
            No verso 7: “7 Quem jamais vai à guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?” Paulo apresenta três ilustrações importantes para conscientizar à igreja de seu tempo a sustentarem seus pastores:
1. A figura de um soldado que vai a guerra: eles não vão a guerra a sua própria custa – eram assalariados.
2. A figura de um viticultor: ele planta na esperança de comer de seu próprio fruto.
3. A figura do pecuarista: ele cuida de seu rebanho para usufruir do leite do mesmo.
            Paulo reforça seu argumento mostrando que a própria Lei assegura que a igreja deve valorizar o direito apostólico / pastoral no que tange ao sustento. (vs.8-10); então, Paulo encerra essa seção de forma interessante: “Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida? Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo.”(vs.11-12). Paulo mostra que tem semeado a palavra de Deus – o alimento espiritual para a vida da igreja, e em troca disso, tem seus direitos violados, todavia, ele procura não reclamar tal direito, para que não haja nenhum obstáculo ao evangelho do Senhor Jesus Cristo.
II – O DEVER  DA IGREJA EM RELAÇÃO AOS MINISTROS DA PALAVRA ( VS.13-15)
13 Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar tira o seu sustento?
 14 Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho;
 15 eu, porém, não me tenho servido de nenhuma destas coisas e não escrevo isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, antes que alguém me anule esta glória.
 (1Co 9:13-15 ARA)
            Paulo agora procura apresentar o dever da igreja em relação aos ministros do evangelho de Deus. Assim, vale-se do modelo veterotestamentário para confirmar tal asseverativa. (vs.13). Os sacerdotes do Antigo Testamento eram supridos mediante o trabalho sagrado que prestavam no tabernáculo e no templo; no verso 14 Paulo assegura que é uma ordem divina que aqueles que pregam o evangelho vivam do evangelho. Os ministros da palavra são vocacionados por Deus para oferecer as boas novas de redenção; e assim, a ordem de Deus para a igreja é: sustentem os ministros da palavra.
            Mas, o apóstolo Paulo abre mão de seu direito em favor dos coríntios, demonstrando o amor que tem para com os crentes daquela igreja; vale ressaltar que Paulo não toca nesta temática para que no futuro a igreja passa a remunerá-lo, mas que a igreja compreenda o quão tem sido injusta com aquele que se entregou ao ministério da Palavra para o bem da alma destes irmãos.
III – A VOCAÇÃO PASTORAL ESTÁ ACIMA DOS DIREITOS (VS.16-27)
            O apóstolo Paulo não apenas abriu mão de tais direitos, mas mostrou aos coríntios que o interesse dele era realmente a proclamação do evangelho.  E como o apóstolo demonstra esse interesse? Como o apóstolo mostra-nos que não tem interesse no dinheiro daquela igreja?:
1. Reconhecendo ser sua obrigação pregar o evangelho (vs.16-18):
            O apóstolo nos mostra que o simples fato de pregar o evangelho não é motivo de gloriar-se, pois, é a obrigação do apóstolo e dos pastores fazê-lo (vs.16); mas se ele faz sem o embaraço de recebimento salarial, isto de livre vontade ele tenho um galardão (vs17a), todavia, se realiza a tarefa da pregação mediante o constrangimento – pela necessidade e ocasião, mesmo assim estaria cumprindo sua responsabilidade de despenseiro (vs 17) ; mas é precisamente no ato espontaneidade tem o seu galardão que é anuncair o evangelho de cristo aos homens,  e que se para isso tiver que abrir mão de seu direito salarial o fará. (vs.18).
2. No sujeitar-se aos fracos para conquistar outros para o evangelho( vs.19-22):
            Mesmos sabendo que ninguém exercia autoridade sobre seu apostolado, exceto Deus,  Paulo anuncia que mesmo sendo livre, tornara-se escravo de todos com um objetivo específico o de ganhar almas para Cristo (vs.19). E assim se sujeitou a todos os tipos de pessoas para ganharem para o Senhor; agiu como Judeu quando julgava necessário, com objetivo de salvar seus patrícios; ao que eram observadores da lei Paulo fez o mesmo, embora não estejamos mais debaixo da lei (vs.20) e o objetivo era alcançar estes tipos de pessoas pelo evangelho. E vivendo de acordo com Lei em relação a Deus (vs.21); fez-se fraco para ganhá-los e toda a sorte de pessoa para o evangelho de Cristo (vs.22).
3. Na certeza que a vida Cristã exige esforço e renuncia (vs.23-27)
            Paulo termina esta seção nos mostrando que ele está disposto a fazer tudo para que o evangelho seja anunciado (vs 23); e para imprimir estas verdades de forma vívida recorre ao símile da corrida romana, onde apenas um chega a receber a coroa da vitória (vs.24-25) a figura implicitamente nos fala de esforço e renúncia de muitas coisas para alcançarmos a nossa vocação; então ele encerra exortando a igreja terem cuidado, pois, assim como ele, que se esforça muito pelo evangelho deve inquirir se está na fé ou não. (vs.26-27) para não ser reprovado na sua carreira cristã.



* Ministro da Palavra pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Formado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte. [ SPN].

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Exposição Bíblica: 1ª Coríntios 8.1-13.

SERMÃO PREGADO NA IGREJA PRESBITERIANA DE TODOS OS SANTOS
Exposição Bíblica: 1ª Coríntios 8.1-13.
A LIBERDADE CRISTÃ
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Introdução:
            Paulo, após mostrar a virtude do matrimônio e a benção de estar solteiro, retoma o tema da liberdade cristã que iniciara no capítulo 6.12-13; aqui ele retoma este tema para fincar de vez as bases de uma verdadeira liberdade cristã.
            E porque o apóstolo procura discorrer sobre tema? A resposta é simples, ao que parece alguns irmãos da igreja de Corinto achavam que com essa liberdade poderiam fazer o que quisessem a ponto de ferir a consciência alheia! Paulo escreve este texto em tônica de advertência e orientação para a igreja de seu tempo. O apóstolo sagrado alerta para os perigos dessa falta de compreensão. Mostrando-nos que:
I –  O CONHECIMENTO PODE GERAR ORGULHO ESPIRITUAL (vs. 1-3):
No que se refere às coisas sacrificadas a ídolos, reconhecemos que todos somos senhores do saber. O saber ensoberbece, mas o amor edifica. 2 Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber. 3 Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele.  ”
            Aqui Paulo relembra aos seus leitores que todos os homens tem conhecimento. Na sociedade da época havia a prática de que os grandes centros de culto pagãos realizarem sacrifícios com animais, e a carne que sobrava era vendida no mercado; os membros da igreja tinham dificuldade em assimilar esta questão, e perguntavam se era legitimo os crentes comerem carne sacrificada a ídolos?
            Havia alguns irmãos que diziam que sim, mas aproveitavam desta liberdade cristã, para ir aos centros de celebração pagã apenas com a finalidade de pegar estas carnes; mas ao mesmo tempo em que assim agiam mostravam insensibilidade para com os irmãos fracos na fé.
            Esse conhecimento, de saber que podiam comer da carne sacrificadas aos ídolos, estava gerando crentes arrogantes, orgulhosos, que faziam as coisas sem amor – então, Paulo repreende: “O saber ensoberbece, mas o amor edifica.” no grego “Ἡ γνῶσις “ [He gnosis] significa conhecimento que deve levar a uma prática, mas neste caso aqui leva a uma atitude contrária a vida do cristão – o orgulho. A soberba se dá quando buscamos o conhecimento pelo conhecimento. Calvino nos lembra “não admira de eu dizer que maldito, pois, seja o conhecimento que produz seres arrogantes e insensíveis ao bem-estar de outras Pessoas”.
            Era precisamente isto que estava ocorrendo em Coríntios, alguns irmão tinha o conhecimento aguçado da liberdade cristã, mas estavam esquecendo do irmão mais fraco na fé. Paulo exorta de forma pastoral dizendo que o conhecimento pode gerar orgulho, mas é o amor que edifica.
            O amor edifica: o que isto significa? Que o amor me leva a preocupar-me com a vida espiritual do meu irmão. Um conhecimento fora da esfera do amor, gera orgulho e soberba, a ponto de ferir a consciência alheia. Quando o temor a Deus e o amor estão ausentes na vida do homem – o seu conhecimento leva-o a soberba desmedida.
            vs. 2  - “. 2 Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber.” Paulo enfatiza isso aqui para mostrar-nos que se o nosso conhecimento nos leva a soberba, na verdade não aprendemos adequadamente isto porque o amor ficou ausente de nós.
            Vs 3 – o verdadeiro conhecimento é reflexo do nosso amor para com Deus, e se amarmos a Deus certamente amaremos o nosso próximo.
II - O CONHECIMENTO CERTO APLICADO DE MODO ERRADO (vs.4-6)
4 No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus.  5 Porque, ainda que há também alguns que se chamem deuses, quer no céu ou sobre a terra, como há muitos deuses e muitos senhores,  6 todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele.
            Paulo agora retoma a questão que iniciara este capítulo revelando que o ídolo em si não nada, é algo inútil e vão. Paulo havia condenado o conhecimento que é desdenhoso, aquele que não é temperado com amor; por isso, aqui ele mostra o argumento dos coríntios que julgavam-se maduros de mais para lidar com a questão da comida sacrificada aos ídolos. Paulo concorda com eles, ao afirmar de fato a nulidade dos ídolos é perceptível. Que a igreja tem um único Deus que é  soberano sobre todas as coisas, e que nos criou para sermos dele em nossa existência. Mas também mostrando-nos que Cristo é senhor sobre tudo onde tudo é possessão dele – cosmo e nós mesmos! Ou seja, a idolatria é uma pura perca de tempo, quer seja no ato de culto, quer seja nas carnes que são vendidas no mercado.
            È certo que o ídolo é vão assegura Paulo, mas vale-se disso para ferir a consciência de um irmão, no comer a carne sacrificada aos ídolos era como que ter o conhecimento certo, mas colocá-lo, na prática de modo errado. E Paulo explica isso nos versos  seguintes:
III – OS RESULTADOS NOCIVOS DE UM CONHECIMENTO NÃO NUTRIDOS PELO AMOR (vs.7-13):
7 Entretanto, não há esse conhecimento em todos; porque alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se. 8 Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos.  9 Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos. 10 Porque, se alguém te vir a ti, que és dotado de saber, à mesa, em templo de ídolo, não será a consciência do que é fraco induzida a participar de comidas sacrificadas a ídolos?  11 E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.  12 E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais.  13 E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo.
            No verso 7 – Paulo repreende aos que tem conhecimento dizendo-lhes: olhem nem todos tem esse conhecimento que você tem. Pois, alguns membros da igreja nutriam ações supersticiosas referentes aos ídolos. Um exemplo que podemos ilustrar isso é que no período  da páscoa [celebrada pelo romanismo] os cristãos se privam de comer carne vermelha, por mera supertição; outro exemplo é o comer um bom e saboroso sarapatel, porque muitos julgam ser pecado.
            Paulo exorta aos crentes que são realmente maduros na fé a agir com maturidade frente a este problema. Paulo diz: “não busquem seus próprios interesses, mas sempre os de seu irmão que é fraco na fé”. Nas palavras paulinas fica implícito que esta ignorância dos crentes era compreensiva, uma vez que ninguém lhes havia partilhado o verdadeiro ensino e conhecimento nutridos de amor. Pois, privados do verdadeiro conhecimento que leva à liberdade cristã a mente daqueles crentes tornara-se fraca, porque os sábios e entendidos se omitiram de ensinar-lhes, em amor, o verdadeiro ensino.
8 Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos, se comermos.
            Aqui neste verso Paulo mostra-nos que a comida ou bebida em si mesmas não nos torna mais aceitáveis ou menos aceitáveis diante de Deus. Nós pensamos deste modo. Achamos, por exemplo, que apenas uma música evangélica deve ser tocada em nosso aparelho de som! Achamos que devemos colocar na santa ceia o suco de uva, porque o vinho é pecaminoso e não nos recomenda perante Deus! Que a roupa adequada que nos recomendará diante de Deus são as mais longas possíveis!
            De maneira clara e cristalina Paulo diz que isso em si nada é, não são essas coisas que vão ser o termômetro de nossa espiritualidade cristã. Mas, embora isso não seja nada Paulo ordena a prudência com a liberdade cristã:
  9 Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos. 10 Porque, se alguém te vir a ti, que és dotado de saber, à mesa, em templo de ídolo, não será a consciência do que é fraco induzida a participar de comidas sacrificadas a ídolos? 
            O amor que edifica procurará de forma clara a não ser um tropeço na vida daqueles que são fracos na fé. O verso 10 revela que os Coríntios estavam frequentando as festas dos templos pagãos para comer e beber. Ou seja, eles estavam, com o seu testemunho de vida, fazendo com que os fracos na fé ajam de forma contrária a consciência deles.
11 E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.  12 E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais.  13 E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo.
            O conhecimento é uma benção. Mas o que me aproveita ele se, por causa deste mesmo saber,  meu irmão perecer? Paulo agora exorta aos crentes tidos como maduros em Corinto a refletirem sobre o conhecimento que carregam. Ora, se eu sei que não é pecado algum comer um bom sarapatel, uma galinha cabidela, ou mesmo tomar vinho, cerveja , mas simplesmente prático estas coisas, sem instruí os irmãos fracos na fé, estou fazendo perecer o irmão pelo qual Cristo deu a vida.
            E não somente isso eu estou pecando contra os irmãos, ferindo-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que estamos pecando. Por isso, Paulo termina de forma resignada: se alguma coisa que faço leva o meu irmão ao escândalo, então me privo de fazer aquilo para que não seja transgressor da lei de Deus.
           




quarta-feira, 30 de outubro de 2013

OS LÁBIOS MENTIROSOS E SOFRIMENTO DO PRÓXIMO

OS LÁBIOS MENTIROSOS E SOFRIMENTO DO PRÓXIMO
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: língua mentirosa...
 (Provérbios 6.16-19 ARA)
INTRODUÇÃO:
            Não existe algo mais degradante na vida do que lábios enganosos. Lábios que proferem mentiras. Deus odeia a mentira! Aquilo que é contra a verdade, contra o padrão absoluto de Deus.
            Por que Deus odeia a língua mentirosa? A resposta é simples é que ela priva o próximo da verdade! Por causa desta língua mentirosa Deus se transforma em ira.
I – A LÍNGUA MENTIROSA COMO TEMA FREQUENTE NO LIVRO DE PROVÉRBIOS.
1.1 – A língua mentirosa tem brevidade de existência:
“O lábio veraz permanece para sempre, mas a língua mentirosa, apenas um momento.” (Provérbios 12.19 ARA).
1.2 – São alvos do desagrado de Deus:
“Os lábios mentirosos são abomináveis ao SENHOR, mas os que agem fielmente são o seu prazer. (Provérbios 12.22 ARA)”
1.3 – A riqueza adquirida pela língua mentirosa é reprovada por Deus:
“Trabalhar por adquirir tesouro com língua falsa é vaidade e laço mortal.” (Provérbio 21.6 ARA)



II – A LÍNGUA MENTIROSA E O NONO MANDAMENTO:
            O texto de provérbios inevitavelmente nos leva para o nono mandamento da lei de Deus que diz: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. (Êxodo  20.16 ARA). Quais são os pecados que se comete contra o nono mandamento?
A) Resistir à verdade:
            O que isso significa? Significa que a verdade está prontamente a nossa disposição e reclama a nossa aceitação, e simplesmente lutamos contra ela, aponto de a rejeitá-la. O profeta Jeremias descreve isso de forma bastante interessante:
1 Prouvera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então, choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo.
 2 Prouvera a Deus eu tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes! Então, deixaria o meu povo e me apartaria dele, porque todos eles são adúlteros, são um bando de traidores;
 3 curvam a língua, como se fosse o seu arco, para a mentira; fortalecem-se na terra, mas não para a verdade, porque avançam de malícia em malícia e não me conhecem, diz o SENHOR.
 4 Guardai-vos cada um do seu amigo e de irmão nenhum vos fieis; porque todo irmão não faz mais do que enganar, e todo amigo anda caluniando.
 (Jeremias 9.1-4 ARA)
B) Perverter a verdade.
            Outro aspecto da língua mentirosa é perverter a verdade de Deus. É exato isso que precisamos compreender:
1 Ao mestre de canto. Segundo a melodia A pomba nos terebintos distantes. Hino de Davi, quando os filisteus o prenderam em Gate.
 Tem misericórdia de mim, ó Deus, porque o homem procura ferir-me; e me oprime pelejando todo o dia.
 2 Os que me espreitam continuamente querem ferir-me; e são muitos os que atrevidamente me combatem.
 3 Em me vindo o temor, hei de confiar em ti.
 4 Em Deus, cuja palavra eu exalto, neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei. Que me pode fazer um mortal?
 5 Todo o dia torcem as minhas palavras; os seus pensamentos são todos contra mim para o mal.  (Salmos 56.1-5 ARA)
C) Falar a verdade na hora Imprópria:
            Quando usamos a língua para falar a verdade na hora em que não era para ser dita; ou mesmo, com a intenção de pervertê-la, é pecaminoso.
“O insensato expande toda a sua ira, mas o sábio afinal lha reprime.” (Provérbios 29.11 ARA)
III – O USO DA LÍNGUA.
            Tiago escreve em tônica negativa sobre a língua que vale apena observar o que diz:
Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo. Ora, se pomos freio na boca dos cavalos, para nos obedecerem, também lhes dirigimos o corpo inteiro. Observai, igualmente, os navios que, sendo tão grandes e batidos de rijos ventos, por um pequeníssimo leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro. Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas. Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva! Ora, a língua é fogo; é mundo de iniqüidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno. Pois toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero humano; a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero. Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim. Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce.
 (Tiago  3.1-12 ARA)
            Aqui Tiago nos ensina que devemos disciplinar a nossa língua (vs.1-2), pois, muitas vezes usamos a língua de maneira errada e de uma forma que não glorifica a Deus. O escritor sagrado também nos oferece alguns exemplos [vs.3-8] sobre o uso da língua:
a) Freios na boca dos cavalos [vs.3]: Isso ilustra que da mesma forma que colocamos cabrestos na boca dos cavalos para dominá-los, devemos de igual modo fazê-lo com a nossa língua.
b) Um leme muito pequeno[vs.4]: Tiago usa o segundo exemplo de um leme muito pequeno que conduz uma grande embarcação. O homem consegue navegar porque controla um pequeno leme.
c) Uma Floresta incendiada por uma pequena fagulha [vs.5]: O terceiro exemplo usado pelo autor sagrado fala de uma simples fagulha jogada em uma floresta que vem causar um grande incêdio.
            No verso seis Tiago apresenta as aplicações tiradas dos três exemplos que ele usou para descrever o poder da língua. Nos versos 7 a 8  ele apresenta sua conclusão sobre como refrear a língua.
            Nos versos seguintes de 9-12 o escritor vai nos mostrar como a língua é capaz de louvar a Deus e maldizer o próximo.
1. Uma contradição (vs. 9-10). Temos aqui os lábios gerando sofrimento revelando uma contradição de atitude e caráter.
2. Um questionamento (vs.11-12): Nesta pergunta Tiago mostra como é absurda a atitude dos crentes em simplesmente usar a língua de um modo contraditório. Pois, todos sabemos que a língua foi criada para louvar a Deus e edificar o próximo.



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

OLHOS ALTIVOS

OLHOS ALTIVOS
 E A DEGRADAÇÃO DA ALMA.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.
Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos...
 (Provérbios 6.16-19 ARA)
INTRODUÇÃO:
            Antes de estudarmos a nossa passagem precisamos considerar algumas informações importantes sobe o livro de provérbios.
a) Autoria: O autor principal é Salomão (1.1)
b) Data: nos séculos: X e VII a.C.
c) Assunto / Propósito: apresentar a sabedoria divina para se viver uma vida de dedicação a Deus. Apresentado o contraste entre os que seguem a sabedoria e os que se recusam a aceitá-la.
            O nosso texto nos informa que há seis coisas que Deus aborrece. A palavra hebraica para aborrecer é “שָׂנֵ֣א ”- sane’- que mostra o ódio que Deus sente pelas coisas que são apresentadas neste texto. A palavra indica uma distância substancial de Deus para com aquele que carrega todas estas características.
            Mas, o nosso texto informa que a sétima a alma de Yahweh abomina ou tem por abominação “תּוֹעֲבוֹת ” –tho’both – o último elemento que o texto descreve é caracterizado como abominação aos olhos de Deus. O que significa aqui esses olhos altivos?  
I – CONSIDEREMOS A IMPORTÂNCIA QUE AS ESCRITURAS DÃO AOS OLHOS.
            A Bíblia dá muita importância aos olhos, pois, eles são a “janela da alma”. Todo processo de pecado começa pelo os olhos. Consideremos alguns casos:
1.1 – A queda do homem:
“Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gênesis 3.6 ARA). Vejamos o processo da queda como é descrito neste texto:
a) Eva – viu que a árvore era boa. “agradável aos olhos”
b) Eva – desejou do fruto. “desejável”
c) Eva  - Agiu – “tomou-lhe do fruto”.
            Esse é processo padrão do pecado! O pecado começa com os olhos, o simples olhar, a simples olhadela pode nos levar a pecar contra Deus.
1.2 – A consequência pós-queda:
“vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram”. (Gênesis 6.2 ARA).
1)      Os olhos  - “vendo os filhos de Deus”
2)      eram desejáveis  - “eram formosas”
3)      Agiram – “tomaram para sai mulheres as que lhes agradaram”
1.3 – O padrão da Queda da humanidade:
“Respondeu Acã a Josué e disse: Verdadeiramente, pequei contra o SENHOR, Deus de Israel, e fiz assim e assim.Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma barra de ouro do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata, por baixo”. (Josué 7.20-21 ARA)
            Aqui neste texto nós temos o padrão do pecado da humanidade. O homem primeiro vê, os olhos passam pela ideia da cobiça, do desejo, e assim se apropria daquilo que é proibido ou contrário à vontade de Deus.
            O senhor Jesus Cristo nos ensina que a janela do nosso corpo são os nossos olhos:
São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!” (Mateus 6.22-23 ARA).
            Então, devemos tomar cuidado com os nossos olhos, pois, muitas vezes esquecemos que nosso coração é alimentado por aquilo que olhamos com os nossos olhos. Isso é que gera a nossa queda constantemente diante de Deus e de sua palavra.

II – OS OLHOS ALTIVOS É O REFLEXO DO CORAÇÃO ARROGANTE.
            A Escritura também nos oferece um quadro geral sobre os que tem olhos altivos; quando a Escritura usa este termo tem o sentido de arrogância, orgulhoso, presunção. Considere o adjetivo “altivo” em nosso texto: “רָ֭מוֹת ” - ramoth- que significa “estar em um lugar alto, ser exaltado ou levantar”. Um gesto para indicar superioridade ao seu próximo. Deus odeia os presunçosos. Deus é inimigo deste tipo de gente. Aqui se mostra um orgulho insano e destrutivo. E a Palavra de Deus mostra isso com muita clareza:
1 – Deus abate os que têm olhos altivos: Salmos 18.27.
2 – Os soberbos querem ser exaltado, mas Deus os humilha: Isaías 2.11.
3 – O olhar de Deus é contra os altivos: 2 Samuel 22.28.
            Tudo isso revela a arrogância do coração dos homens iníquos que não temem a Deus e nem a sua palavra. Vejamos isso:
2.1 – O arrogante de coração é abominação para Deus:
Abominável é ao SENHOR todo arrogante de coração; é evidente que não ficará impune.” (Provérbio 16.5 ARA).
2.2 – Viver com o coração arrogante e olhar altivo são pecados:
“Olhar altivo e coração orgulhoso, a lâmpada dos perversos, são pecado.” (Provérbios 21:4 ARA)
Conclusão: A alma vive degradada quando o pecado da altivez, do orgulho e da soberba toma conta do coração. O coração dos ímpios são marcados por estas características. E , como crentes, temos tido um coração soberbo, uma vida marcada pelo orgulho, oremos a Deus para que ele tire esse coração de pedra (Ezequiel 36.26), o Senhor certamente fará uma mudança radical em nosso coração – Cristo será o nosso restaurador, será aquele que nos fará em novas criaturas (2ª Coríntios 5.17).






domingo, 4 de agosto de 2013

Fundamentos Teológicos para O Culto Familiar.

Fundamentos Teológicos para O Culto Familiar.
Rev. João Ricardo Ferreira de França*.
INTRODUÇÃO:
            Existe algum fundamento para praticarmos o culto doméstico em nossos dias? Será que este assunto é imperioso para a nossa atual igreja? E a ainda não seria a ausência desta  prática saudável a razão de tantas crises em nossa igreja? Crise de liderança, crise de obediência e crise litúrgica! E o mais grave, não seria a falta deste elemento vital nas famílias, o culto doméstico, a razão de uma crise sem precedentes em nossa nação?
            O pastor Joel Beeke declarou algo importante sobre isso “Conforme as coisas são em casa, assim o serão  na igreja e na nação. O culto doméstico é o fator que  determina como as coisas andam no lar.” (BEEKE, 2012, p.11).
            Nos princípios de liturgia da Igreja Presbiteriana do Brasil aprendemos o seguinte: “Culto doméstico é o ato pelo qual os membros de uma família crente se reúnem diariamente, em hora apropriada, para leitura da Palavra de Deus, meditação, oração e cântico de louvor”. (PL/IPB – ARTIGO 10).
            Mas quais são os fundamentos bíblico-teológicos para essa declaração? O que as Escrituras ensinam sobre este tema? Quais são os alicerces que estão fincados para fundamentar esta prática religiosa?
I – O CULTO FAMILIAR NO ANTIGO TESTAMENTO:
            Nosso ponto de partida será analisando o que diz o Antigo Testamento sobre este importante tema, pois, todo fundamento teológico da igreja, toda doutrina cristã tem suas raízes no Antigo Testamento.
1.1 – ADÃO E EVA – UMA FAMÍLIA CRIADA PARA GLORIFICAR A DEUS.
            Ao ler as primeiras páginas da Bíblia nos deparamos com Deus criando o mundo e o homem, este sendo criado para glorificar a Deus, para exaltá-lo – este relacionamento do homem com Deus era algo íntimo e pessoal. Isso é percebido em Gênesis 3.8 – Deus se comunicava com homem no jardim. E claro embora o contexto aqui seja da queda do homem no pecado, nós vemos ainda assim, Deus vindo ao homem para se comunicar com ele. “Deus Yahweh não se afastou dos desobedientes, pecaminosos e culpados Adão e Eva”( GRONINGEN, 2008, p.135).
            Como  Joel R. Beeke mais uma vez nos lembra o seguinte: “Adão desobedeceu a Deus, transformando a alegria da adoração e da comunhão com Deus em medo, temor, culpa e alienação.”( BEEKE, 2012, p.13). Outro escritor coloca isso de forma mais interessante:
Num instante, medo, culpa e vergonha se tornaram padrão das experiências humanas. Pessoas que viviam em perfeita harmonia agora se acusavam, enganavam, e brigavam pelo controle. Ervas daninhas e doenças se toraram as preocupações diárias. As pessoas começaram a desejar o que era mal e afazer o que era errado. Em vez de se submeterem à autoridade de Deus, viviam como se fossem seus próprios deuses. O mundo que uma vez cantou a canção da perfeição agora gemia sob o peso da Queda. O pecado alterou cada pensamento, desejo, palavra, e ação. Criou um mundo de inconstâncias, motivações ambíguas, adoração de si mesmo e de total egoísmo.  (TRIPP, 2009,p.19)
            Esse relacionamento com criador foi quebrado, e a comunhão em adoração foi totalmente ameaçada pela presença do pecado. Embora, a adoração estive ameaçada Deus de forma singular, restaura a esperança redentiva de Adão e Eva, bem como resgata a adoração. Sim, no mediador pactual prometido (Gênesis 3.15) há esperança de redenção, mas também há o resgate dos verdadeiros adoradores.
            O sacrifício vicário de Cristo revela-nos o ponto fundamental na adoração. Revela-nos que a redenção possibilita a adoração. Porque os sacrifícios veterotestamentários, no ato litúrgico, visava promover a comunhão do povo da aliança com Deus, e tal perspectiva é percebida no evangelho de João 1.3 – a comunhão outrora perdida no Éden pelo primeiro Adão, trazida pelo Cristo prometido em Gênesis 3.15.
1.2 – A TEOLOGIA FEDERAL E O CULTO FAMILIAR.
            Tomo sentido de Teologia Federal como aquele aplicado a ideia da representação familiar. O pai representa, diante de Deus, a mulher e os filhos; pois, assim podemos vislumbrar a importância da adoração em família.
            O culto familiar no Antigo Testamento estava fundamento sobre este principio fundamental da representatividade. Temos nas Escrituras um chamado radical para os pais e maridos assumirem a vida espiritual de sua família:
NOÉ: È-nos dito que ele reuniu sua família e prestou um culto a Deus logo após o dilúvio (Gênesis. 8.20-21);
:  Somos informados que este patriarca tinha uma preocupação singular com a vida espiritual de seus filhos. E neste sentido “Jó era o orgulho de Deus”, ele era “um exemplo de espiritualidade e devoção” (SOUSA, 2004, p.25) Jó 1.5.
            A função patriarcal do marido / pai é de singular importância na vida da família quando se pretende promover a espiritualidade autêntica por meio do culto familiar. Um escritor ressalta o seguinte:
O sacerdote é o intercessor que representa o povo diante de Deus. O profeta, de forma muito simples, é o instrutor do povo na verdade de Deus. Esta é uma das funções principais do marido. Deus deu ao marido a responsabilidade de purificar sua mulher na água da palavra (Ef.5.26), de ensinar com diligência a lei a seus filhos (Dt.6.6,7), e de criá-los “na disciplina e instrução do Senhor” (Ef. 6.4).
( BAUCHAM JR., 2012, p.206-207)

II – O CULTO FAMILIAR NO NOVO TESTAMENTO.
As bases teológicas para a prática piedosa do culto familiar se acham também presentes no Novo Testamento. O Novo Testamento é marcado exatamente por esta perspectiva. Pois, todos os crentes são vistos como membros da família de Abraão mostrando a íntima relação daquilo que foi dito em (Gênesis 12.1-3). Este texto é um “importante texto profético é a palavras de Deus a Abraão” (GRONINGEN, 2003, p.128). Pois, este texto tem sido estruturado para a teologia pactual da seguinte forma:
1.      Deus chamou e separou Abraão (vs1)
2.      Deus fez promessas a Abraão (VS.2)
3.      Deus coloca as estipulações pactuais diante de Abraão (VS. 2b)
4.      Deus falou de Bênçãos e Maldições futuras (VS.3).
            Toda a ideia dominante nesta passagem de que todas as pessoas da terra seriam abençoadas seguindo os passos de Fé do patriarca é confirmada em Romanos 4.11.
            O apóstolo Pedro enfatiza essa necessidade litúrgica na vida familiar do povo da aliança ao declarar isso de forma única em Atos 2.39 – mostrando que as famílias são alvos da aliança de Deus com o seu povo; também, o apóstolo Paulo tratando questões pertinentes à família cristã declara que a prole do crente é sacra (1ª Coríntios 7.14).
            O pastor Joel R. Beeke diz que “Paulo nos diz em 1Coríntios 7.14 que,  na aliança, a fé de um pai estabelece uma posição de  santidade, privilégios e responsabilidades para seus  filhos”. (BEEKE, 2012, p.16).
            Na igreja neotestamentária os pais e seus filhos eram visto como membros da igreja local, ou seja, a família reunida adorava a Deus como resultado do cultivo da adoração no lar (Efésios 6.1-4); e, tal prática é confirmada pelo que nós aprendemos em 2ª Timóteo 1.5; 3.15; isso aponta para a importância e manutenção do culto familiar regular na prática piedosa das famílias cristãs.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS USADAS NESTE ESTUDO:

  1. BAUCHAM JR., Voddie. O que ele deve ser se quiser casar com minha filha. Tradução: Ana Paulo Eusébio. Brasília: Editora Monergismo, 2012.
  2. BEEKE, Joel R. Adoração no Lar. Tradução: Waléria Coicev. São Paulo: Fiel, 2012.
  3. GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação – Reino, Aliança e Mediaro, Volume 1, tradução: Denise Meister, São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
  4. ________________________. Revelação Messiânica No Antigo Testamento – A Origem do Conceito Messiânico e o seu Desdobramento Progressivo. Tradutor: Claúdio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
  5. SOUSA, Ricardo Barbosa de. O Caminho do Coração – Ensaios sobre a Trindade e a Espiritualidade Cristã. São Paulo: Encontro, 2004.
  6. TRIPP, Paul David. Instrumentos nas Mãos do Redentor – Pessoas que precisam ser transformadas ajudando pessoas que precisam de transformação. Tradução: Eloisa Pasquini. São Paulo: NUTRA, 2009.



* O autor é ministro da Palavra pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Sendo pastos auxiliar na Primeira Igreja Presbiteria de Teresina – PI. Formado em Teologia Reforma pelo Seminário Presbiteriano do Norte – SPN – Recife – PE. Pastoreia atualmente a Congregação Presbiteriana de Todos os Santos em Teresina – PI.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A Igreja Segundo as Escrituras.

A Igreja Segundo as Escrituras.
Tradução: João Ricardo Ferreira de França.
                                      J.C.Ryle
                                        
O conceito de igreja é básico para uma compreensão adequada do cristianismo. Se não for bíblico o fundamento sobre o qual se descansa a noção de igreja, facilmente se incorrerá, como assim tem demonstrado a história do cristianismo, em certos erros doutrinários de lamentáveis conseqüências. Justificada é, pois, nossa asserção de que, uma boa parte das diferenças que nos separam de Roma, se originam em uma noção distinta do conceito de igreja. Como veremos adiante, as Escrituras nos apresentam um conceito da Igreja sob diferentes aspectos. Estes aspectos, tomados unitariamente e em sua vinculação própria, colocam de forma clara a natureza e o caráter da Igreja de Jesus Cristo.

 A Igreja Invisível e visível.

 Sob esta designação de visível e invisível não estamos nos referindo a duas igrejas distintas. Cristo fundou uma só Igreja; mas segundo os ensinamentos da Santa Palavra, a Igreja exibe um caráter duplo: por um lado é invisível, a saber, ela escapa e vai muito além do que é sensível; por outro lado, a Igreja de Cristo se exterioriza em agrupações e congregações visíveis ao olho humano. Segundo um polemista católico romano Bossuet, a noção de igreja invisível e visível é uma invenção protestante.[1]Porém, na realidade este conceito está baseado e tem um fundamento na Palavra de Deus. Uma e outra vez os profetas do Antigo Testamento lembram ao povo judeu que, o simples fato de pertencer ao  Israel Visível, isto não era prova suficiente de que eram membros do Israel de Deus – do Israel espiritual, invisível. Dentro do Israel Visível os profetas fazem distinção e nos falam de um remanescente espiritual (Esdras 9.8; Isaías 1.9; 20.21; Jeremias 23.3; Ezequiel 6.8). O profeta Elias acreditava que toda a nação de Israel havia apostatado, e que somente ele havia se mantido nos caminhos do Deus verdadeiro; mas o Senhor lhe revelou que, todavia ainda restavam sete mil israelitas que não haviam dobrado seus joelhos a Baal; estes além de serem cidadãos do Israel terrestre, eram também cidadãos do Israel espiritual, invisível. A mesma idéia encontramos no apóstolo Paulo quando disse: “Porque não é judeu que o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente da carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, a circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus”(Romanos 2.28-29). O próprio Senhor Jesus se referia a esta dupla distinção  entre os israelitas quando contestou os fariseus que se orgulhavam de ser filhos de Abraão( João 8.37,39,44 ). Havia, pois, judeus que pertencia m a Israel como nação visível, em conseqüência, eram filhos de Abraão segundo a carne, os quais, além do mais, pertenciam ao Israel de Deus – espiritual e invisível. Porém, por outro lado, a maioria do povo judeu, ainda que sendo cidadãos de Israel, e descendentes de Abraão, não pertenciam ao Israel de Deus. A Igreja de Cristo se identifica com o Israel de Deus, e nos oferece também um aspecto visível, e outro invisível. Os verdadeiros filhos de Deus, além de ter sua membresia em alguma igreja visível, formam parte do corpo místico de Cristo que é a Igreja Invisível. Os hipócritas e os falsos convertidos, e muitos outros que de uma maneira externa professam a fé evangélica, e se ajuntam ao número dos crentes, só externamente são membros da Igreja de Cristo, e unicamente no aspecto visível da mesma. Estes são os que no dia do juízo dirão: “... Senhor, Senhor! Porventura, não temos profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?” Porém aos tais ele dirá: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”.(Mateus 7.22-23).

A Igreja Invisível.

O conjunto de todos os crentes, na terra e no céu, redimidos com o sangue precioso de Cristo, e unidos espiritualmente a Ele, constituem a Igreja Invisível. Chama-se invisível por sua natureza espiritual – que escapa e vai muito mais além dos sentidos; e também por não se poder determinar estreitamente, apartir de um ponto de vista humano, quem são aqueles que pertencem a mesma. A união dos crentes com Cristo é uma união mística. Os laços com os quais o Espírito Santo estabelece essa união são invisíveis. A totalidade dos que formam a Igreja Invisível não cai dentro da percepção do olho humano; muitos de seus membros não podem ser já vistos, pois estão no céu; eles são os que constituem a hoste vitoriosa da chamada Igreja Triunfante. Muitos outros membros da Igreja Invisível estão espalhados pela terra; alguns talvez perdidos pelos desertos, pelos montes, pelas covas, e pelas cavernas da terra – desprezados e ignorados pelos homens, porém, escolhidos e amados por Cristo. Ah! Não pode a visão do homem abarcar o glorioso panorama do Corpo de Cristo: A Igreja Invisível.
 Esta é a Igreja da qual o mesmo Senhor disse: “E as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Pelo testemunho da história sabemos que muitas igrejas locais que se afastaram da fé e tem caído em completa apostasia, as portas destas fecharam. Mas a promessa do Senhor Jesus não se refere diretamente a congregações locais visíveis, e sim a Igreja Invisível – corpo dos redimidos que pertencem a Cristo, sem distinção de tempo nem lugar.
A Igreja Invisível mantém uma íntima relação com Cristo. No Novo Testamento esta relação é expressa sob diversas analogias. Em sua epístola aos Éfesios, Paulo designa a Igreja  como a Esposa de Cristo. Porém, de todas as analogias, a que mais expressa vivamente a união mística entre Cristo e a sua Igreja, é aquela do corpo humano e a cabeça. Daí Paulo recorrer a ela tantas vezes, e que em suas epístolas desenvolve tão amplamente a relação espiritual entre Cristo – a Cabeça, e a Igreja – o Corpo. Esta união mística não se estabelece por meio de uma hierarquia eclesiástica visível, mas é fruto da maravilhosa obra do Espírito Santo: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito”.(1 Coríntios 12.12-13).
Cristo é a cabeça deste corpo místico que é a Igreja: “E é a cabeça do corpo que é a Igreja”.(Veja Éfesios 1.22-23; 4.4,16; 5.23,30). Vemos nestes versículos, que o corpo recebe vida da cabeça; assim como os ramos vida da videira, do mesmo modo a Igreja recebe vida de Cristo; da mesma maneira como os membros do corpo obedecem a cabeça, assim a igreja obedece a Cristo; da mesma forma como a união entre o corpo e a cabeça é uma união vital, assim também a Igreja está vitalmente unida a Cristo. As Escrituras uma e outra vez coloca em relevo o caráter espiritual da Igreja de Cristo; os outros aspectos da Igreja fundamentam-se neste caráter espiritual e invisível. A mente carnal é cega à esta natureza espiritual da Igreja, e a concebe segundo os esquemas de uma organização eclesiás  tica visível.

A Igreja Visível.

Sob este aspecto a Igreja compreende a todos aqueles que ante os olhos do mundo professam a fé cristã, e observam os mandamentos e ordenanças promulgadas por Cristo. Assim como a Igreja Invisível está constituída unicamente por redimidos por Cristo, a Igreja Visível, além dos crentes, inclui homens e mulheres que de uma maneira externa professam a fé evangélica. Tanto a Bíblia como as experiências provam que no seio da Igreja Visível tem se ocultado homens não salvos. Em certas ocasiões nem ainda os apóstolos podiam impedi-los, é somente Deus que pode ler os corações.
Na Palavra de Deus encontramos repedidas alusões a este aspecto visível da Igreja. Nos Atos dos Apóstolos o evangelista Lucas se refere a ela com as seguintes: “E o Senhor acrescentava dia-a-dia à Igreja os que iam sendo salvos”.(Atos 2.47). Escrevendo aos corintios o apóstolo fez menção da provisão ministerial e governativa com a que Cristo tem dotado a Igreja Visível: “E a uns pôs Deus na Igreja, primeiramente apóstolos, depois profetas, em terceiro lugar doutores e mestres; dons de curar, misericórdias, governos, variedades de línguas”.(1Coríntios 12.28). Os ofícios e ordenanças que são detalhados aqui implicam em uma estrutura social externa e visível.
Temos dito que a Igreja em seu aspecto visível não está formada de uma membresia única – tal como acontece com  a Igreja Invisível constituída por todos os redimidos - , mas que abriga em sua comunhão, além dos crentes, grande número de pessoas externamente professa a fé evangélica mas que na realidade não são salvos. Este fato se aprecia muito bem em algumas parábolas de nosso Senhor. Sob o título “reino dos céus” o Senhor se refere a Igreja Visível, e assim, nos diz em Mateus 13.47-49: “O reino dos céus é semelhante a uma rede, que é lançada no mar, colhe de todas as sortes de peixes. E quando está cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons para os cestos e os ruins deitam fora”. A separação entre os bons e os maus terá lugar no fim do mundo. A mesma idéia de coexistência de pessoas salvas e não salvas na igreja visível se nos apresenta na parábola daquele homem que semeia a boa semente no campo, mas “dormindo seus guardas, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo”. No tempo da colheita, a saber, no fim do mundo, se fará separação entre o joio e o trigo – entre os crentes e os hipócritas -. A relação que existe entre a videira e os ramos, e que o próprio Senhor Jesus nos menciona, põe ainda mais em relevo o que já vimos, dizendo: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Todo ramo que, estando em mim, não dar fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto ele o limpa, para que produza  mais fruto ainda.”
“Eu sou a videira, vós os ramos... o que em mim não estiver será lançado fora como mau ramo” João 15.  O verdadeiro crente, qual ramos unidos à videira, mantém uma união espiritual com Cristo e, em conseqüência disso, produzem frutos. Mas os hipócritas, aqueles que não são salvos, e que, no entanto, filiam-se a membresia da Igreja Visível, por manter somente uma relação externa com Cristo, semelhante aos ramos que não estão unidos a videira, serão lançados fora.
         A Igreja Invisível mantém, com respeito a seus membros, uma relação íntima e espiritual com Cristo; enquanto que a Igreja, em seu aspecto visível, mantém uma relação externa. No caso dos crentes verdadeiros, esta relação externa é expressão visível daquela íntima relação espiritual que lhes une a Cristo. A Igreja Invisível está constituída, unicamente, pelos redimidos; enquanto que a Igreja Visível está formada por aqueles que externa e visivelmente confessam a Cristo, e pode incluir, além dos crentes verdadeiros, pessoas não são salvas.
          Estes dois aspectos – visível e invisível -, sob os quais se nos apresenta a Igreja nas Escrituras, são básicos para uma compreensão bíblica da natureza da Igreja. Eles são, além do mais, os que colocam de forma bastante clara os erros da concepção romanista de Igreja. A Igreja Católica Romana atribui à Igreja Visível grande números das características que, segundo as Escrituras, só podem ser aplicados à Igreja Invisível.  




 A Igreja Católica e Local

A Igreja Local
Com freqüência o termo igreja é usado nas Escrituras para designar um grupo de crentes em um determinado lugar. Ainda que seja no caso de que sejam dois ou três crentes que se reúnem para orar e adorar ao Senhor, o Novo Testamento emprega o termo igreja[2]para designar os tais. O mesmo acontece com grupos de crentes que, todavia, não foram organizados sob a supervisão de presbíteros e pastores. Em atos dos Apóstolos é-nos dito que Paulo e Barnabé “constituíram presbíteros em cada uma das igrejas” Atos 14.23. O  qual demonstra que, ainda antes de ter presbíteros, tais grupos já se constituíam verdadeiras igrejas. O apóstolo Paulo reconhece como verdadeira Igreja  o grupo de crentes que se reúnem em uma casa particular, em suas epístolas  temos vários exemplos: “ Saudai a Priscila e Áquila ... do mesmo modo a igreja de sua casa” Romanos 16.3,5. “Saudai aos irmãos que estão em Laudicéia, e a Ninfas, e a Igreja que está em sua casa” Colossenses 4.16 (veja-se também 1 Corintios 16.19; Filemon 23).
A Igreja Católica ou Universal.
Temos visto que segundo o Novo Testamento, ainda que seja um pequeno grupo de crentes que se reúnem em uma casa particular constitui uma igreja. Agora bem, a igreja local, por menor que seja, mantém uma relação importantíssima coma as outras igrejas cristãs. O crente, por cima de sua igreja local, confessa a sua crença em uma Igreja Universal: “Creio na Igreja Católica”. Como devemos entender esta confissão? Que relação há entre a congregação local e a Igreja Universal? Em que consiste a universalidade da Igreja? A universalidade ou catolicidade da Igreja é dupla: Concerne a Igreja em seu aspecto visível e invisível.

Em seu aspecto invisível.

A igreja é católica pelo fato de não está restringida a nenhuma limitação de lugar e tempo.[3]Na dispensação judaica, a igreja não era católica, mas local; seu centro estava em Jerusalém; ali tinha o seu templo, seu altar, seu sacerdócio. Porém, na nova dispensação a Igreja desborda toda a limitação local. “A hora vem, e agora é, quando os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade”. João 4.23. Em qualquer lugar da terra onde se encontra um crente, ali há um verdadeiro Templo do Senhor; ali pode Deus ser adorado em Espírito e em verdade. Desaparece o sacerdócio de Arão com a vinda do Sumo Sacerdote que, havendo feito a propiciação pelos pecados do povo, agora vive para sempre interceder por eles. As barreiras da dispensação mosaica foram derrubadas, e a plenitude do Espírito Santo se derrama sobre a Igreja. É o Espírito Santo quem estabelece a universalidade da Igreja. A ação unificadora do Espírito Santo faz desaparecer toda diferença de raça, língua e distância. A comunhão de um mesmo Espírito faz com que os crentes de todos os lugares e tempos experimentem uma maravilhosa unidade espiritual em Cristo. É em virtude, pois, dos laços de um mesmo Espírito, e da participação de uma vida espiritual comum em Cristo, que a Igreja local se relaciona com o conjunto de todas as igrejas cristãs.



Em seu aspecto visível.

A igreja é católica por quanto todos os seus membros professam a mesma fé em Cristo. Assim como a Igreja Invisível a universalidade vem determinada pela participação de um mesmo Espírito, no caso da Igreja Visível a catolicidade vem determinada pela profissão de uma mesma fé. Por cima das diferenças de língua, raça, e denominação, as igrejas evangélicas confessam a mesma fé em Cristo Jesus.
Os evangélicos são acusados a vontade de estarem divididos na doutrina, e desta forma não exibem a catolicidade da fé; porém, os que assim nos combatem não param para considerar que o amplo horizonte doutrinário que, por cima das diferenças denominacionais, une as igrejas evangélicas. Se compararmos os credos e confissões doutrinárias das denominações evangélicas mais importantes, se observará uma crença comum nas doutrinas essenciais da fé cristã. Todas proclamam a autoridade na Bíblia, a Trindade, a Criação, a Queda do homem, a divindade de Cristo, a Salvação através da Obra de Cristo, a Justificação pela Fé somente, o Juízo Final, a Realidade do Céu e do Inferno, a Segunda Vinda de Cristo, etc...Os desacordos e diferenças entre as igrejas evangélicas estão inseridos naquilo que não impedem a salvação de pecadores. Algumas destas diferenças devem-se a causas históricas, outras nasceram como resultado de distintas interpretações e de certas profecias escatológicas; outras provêm de um triste apego às tradições humanas; porém, mui possivelmente, a maior parte das diferenças dentro do campo evangélico se devem ao pecado.
O crente evangélico não deve contentar-se pensando que naquilo que se refere ao coração da mensagem evangélica há universalidade de fé entre as igrejas evangélicas, mas, antes de tudo, deve orar e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que a Igreja Visível, ainda que seja nos temas e nos detalhes mais insignificantes possam revelar a unidade e catolicidade.



[1] Na realidade o catolicismo romano não nega este aspecto de invisibilidade da Igreja de Cristo, mas o suprime e faz depender do aspecto visível. “Primeiro está a Igreja Visível, e logo vem a Invisível”. Desta crença surgem as tristes conclusões da Teologia Católica com respeito  a natureza da Igreja. Ao aspecto visível Roma aplica notas e características que são próprias do aspecto invisível da Igreja.
[2] Nota do Tradutor: O termo Igreja, no grego nós temos ekklhsia,significa literalmente “os chamados para fora”, são chamados do mundo para serem consagrados a Deus.

[3] Nota do Tradutor: Este tem sido o erro da Igreja Católica Romana, pois, a Igreja não pode ser católica e ao mesmo tempo Romana, tal postulação é uma contradição de discurso – elimina o conceito de catolicidade da Igreja de Cristo. Isso porque a Igreja Romana está limitada, em sua nomenclatura, a uma localidade.